quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas (Extra)

Capítulo extra: Caixa de Vidro


"Como seria a vida dos mortos? Um saco! De todas as coisas que podem acontecer deseje não morrer. É fácil entender porque tanta gente velha não quer morrer. O vazio se torna constante. Sua mente fica presa nos fatos anteriores, na sua vida. Todas as merdas que você já fez ficam rodeado sua mente vinte e quatro horas por dia. Pelo menos você não sente mais dor... porém, como consideração, os segundos que precedem os últimos batimentos do seu coração são os mais agonizantes possíveis. Mais dolorosos que o inferno."


Eu estava caminhando nessa merda de cidade vazia à mais de trinta minutos. Estava tudo um lixo. Alguém deu uma grande festa e esqueceu de me convidar. - Não por muito tempo. - Na esquina perto de casa havia um único carro ocupado. No banco do carona uma mulher estava sentada, acho que dormindo. Já no outro lado, apoiado na porta do lado do motorista, um cara parecia estar de porre. Ele vomitava uma coisa nojenta. Tossia e voltava a vomitar. Duas garrafas de vodka e apenas uma pequena porção de tequila dão o mesmo efeito. Eu sabia muito bem disso.

—Vai com calma, cara! — falei, tirando um bom sarro da cara do idiota. Não demorou muito e ele caiu no chão. Perdedor.

Quando cheguei em casa estranhei minha mãe não estar sentada no sofá esperando eu ou o Jonnhy. Na verdade ela estaria dormindo, como de costume, mas de acordo com meu celular eram apenas 21h. Ela estaria sonolenta, como um zombie, mas não dormindo. Revirei toda a casa, mas ela não estava lá. Pela janela notei que a casa da Senhora Dolayam estava bastante iluminada. Talvez minha mãe estivesse lá. Senhora Dolayam era a melhor amiga da minha, isso depois que meu pai nos deixou quando eu e Jonnhy nascemos. Bate na porta três vezes, ninguém respondeu então entrei. Já era de casa, não tinha vergonha de entrar assim. Na sala haviam três velas na mesa de centro que iluminavam muito bem o lugar. A cozinha também estava cheia de velas e pratos com pedaços de bolo e copos sujos. No corredor as estantes estavam com algumas velas acesas também. Depois do corredor uma pequena sala e uma porta que levava ao quarto da Senhora e do Senhor Dolayam. Em cima só haviam um quarto que eles estavam reformando para o bebê que a Senhora Dolayam estava esperando. Ela estava gorda, enorme! Acho que com uns sete ou oito meses.
Quando estava para sair, ouvi da escada um barulho que vinha do quarto do bebê. Subi aquela escada apertada com cuidado, no fim só havia porta do quarto. Abri cuidadosamente e pude ver a Senhora Dolayam revirando um pequeno armário. Ela estava tirando todas as gavetas e mexendo nas caixas cheias de objetos no chão.

—Senhora Dolayam! A senhora viu...— falei enquanto abrindo toda a porta. Foi quando notei minha mãe e o Senhor Dolayam jogados no chão. Eles estavam em cima de um plástico que estava sendo usado para proteger o carpete da sujeira da tinta da parede. Minha mãe estava toda suja de sangue. Já o Senhor Dolayam estava em uma situação pior, estava sem os olhos!

—Mais... que... porra! O que aconteceu? — gritei. Ela estava suando, seus olhos estavam enormes. Devia estar assustada com alguma coisa. Por algum motivo ela não me deu muita atenção, continuou revirando o quarto. Ela só parou quando achou uma caixa de ferramentas, de onde tirou um chave de fenda.
—O que você vai fazer com....
—Você não sabe o que eu vi. Você não tem noção, não né? — disse ela. Era notável o quanto estava nervosa.
—Calma... a Senhora pode explicar... não vai...
—Não, não posso! Sua mãe está morta! Meu marido! E eu estou morrendo... você não vai entender.
—Mas não foi a Senhora que fez isso... não é? Quem foi?
—Foi isso...—ela segurou com as duas mãos a chave de fenda e enfiou com toda força na barriga. O grito que deu em seguida foi o mais horrendo de todos. Sangue começou a sair por debaixo de seu vestido. Levantei e tentei impedi-la de continuar se mutilando. Ela começou a chorar tentando tomar a chave da minha mão.

—Você não entende. Você precisa... por favor — ela caiu no chão, mas o sangue não parou. O cheiro de tornou insuportável. Havia sangue por todo quarto. Soltei a chave no chão e percebi que a mancha de sangue no vestido da Senhora Dolayam só aumentava. Mas algo estava errado, o volume do seu vestido começou à aumentar. Como se algo estivesse saindo de sua barriga. O vestido se rasgou e algo começou à sair da barriga da Senhora Dolayam. Era uma criatura horrível. Como se fosse um bebê. Seu rosto era deformado e totalmente liso. Tinha uma pela manchada e a medida que ia saindo, seu corpo gordo parecia tremer. Era horrível, no lugar das mãos e das pernas haviam espécies de patas. Sua coluna era marcada. Quando terminara de sair do corpo da Senhora Dolayam, fez um movimento estranho. Já estava enojado quando saí correndo daquele quarto. Quase caí da escada, o que fez com que o barulho chamasse atenção da criatura. Ela seguiu se arrastando atrás de mim. Esbarrei na estante do corredor derrubando das as velas. O carpete todo entrou em chamas, a criatura que estava se arrastando rapidamente começou a se queimar. As chamas envolveram o seu corpo. Mesmo assim ela insistia em se arrastar, até que se deitou no chão e agonizou soltando um grito extremamente alto e agudo. Corri pela rua assustado enquanto aquele grito continuou soando pelos meus ouvidos. Quando virei a esquina notei que o carro do cara bêbado ainda estava lá. Como o carro ainda estava com os faróis ligados resolvi pedir ajuda, mas quando cheguei do lado do carona percebi que a mulher que estava ali também estava morta, assim como o cara jogado no chão. Notei que a chave do carro ainda estava lá. Empurrei a mulher do carona e liguei o carro. O rádio explodiu um barulho de chiado muito alto. Não tive tempo de mudar, apenas acelerei em direção ao shopping. O display do rádio marcava 21h 37 min.


—Jonnhy, quando tudo isso vai acabar? — perguntei
—Eu não sei, Bene. Espero que acabe logo. — As coisas estavam acontecendo de forma estranha, eu estava com um aperto no peito. Era como se alto estivesse me dizendo que tudo poderia piorar. Nós estávamos ali há um bom tempo e aqueles seguranças não faziam nada além de rodear a Nadhianne. um deles cutucou a perna dela com o pé. Isso foi o suficiente para irritar profundamente o Jonnhy.

—Ei! Cara mais respeito com a garota! Ela morreu e vocês não fazem porra nenhum! Porque um de vocês não vai lá em cima ou tenta chamar alguém para levar ela daqui? Vocês acham que vamos ficar esperando os anjos levarem o corpo de manhã? Nós não temos esse tempo todo! E a familia dela, seus idiotas?
—Olha aqui rapaz...
—Olha aqui nada! Essa porra de shopping não gerador? Se tivesse talvez isso não tivesse acontecido! — depois de todo o sermão de Jonnhy, um dos seguranças resolveu subir até o hall do cinema para encontrar os dois únicos seguranças que vigiavam os andares superiores. Alguns minutos depois o segurança que ficou com a gente lá embaixo tentou chamar o outro pelo walk-talk, mas ele não respondia. Um chiado estranho era o único barulho que escutávamos.

—E agora? O que seu amigo idiota foi fazer lá em cima? Dormir? Porque essa merda não funciona?— disse Jonnhy
—Okay. Já estou cansado de você ficar tagarelando, mocinho. Acho melhor você calar a boca — o segurança sacou uma arma e apontou para a cabeça de jonnhy. Eu não podia fazer nada, estava apavorada com tudo. Me sentia fraca.
—O que você vai fazer? Vai atirar em mim... e depois? — enquanto Jonnhy falava, ele fazia uns gestos para que eu saísse de trás dele. Como se estivesse planejando algo. Quando me esquivei para a esquerda Jonnhy chutou a virilha do segurança que caiu no chão de tanta dor que sentia. Jonnhy pegou a arma.

—Seu filho da puta! — gritou o segurança. Jonnhy atirou na coxa do segurança;
—Não fale da minha mãe! — Jonnhy me encarou, como se estivesse com vergonha pelo que tinha feito. Apontou a arma para a cara do segurança que não para de agonizar no chão e começou a procurar algo no bolso dele. Dali Jonnhy tirou um bolo de chaves. Depois me puxou e disse:
—Vamos, a gente tenta conseguir ajuda lá fora.
—Okay, mas e ele? — apontei para o segurança.
—Daí sabemos que ele não vai sair correndo. Né? — Jonnhy deu um sorriso amarelo tentando me acalmar. Ele não conseguiu. Corremos para a entrada principal que estava fechado com uma grade de ferro. Enquanto Jonnhy estava procurando a chave certa para liberar a porta das grades, ouvi um barulho estranho abafado vindo de fora. Como se fosse uma batida de carro ou ferragens sendo cortadas.

—Você está escutando isso? — perguntei, nervosa.
—O quê? — o barulho da tranca da grade cortou o assunto. Jonnhy me pediu ajuda para empurrar a grade para cima. Em uma só vez empurramos a grade que subiu rapidamente, logo em seguida Jonnhy fitou a tranca da porta de vidro e começou a procurar a chave para abrir; Ele não tinha notado que lá fora, perto da pista que dava acesso à frente do shopping, havia um carro capotado, totalmente destruído. Mais ao lado alguma coisa estava segurando um corpo, que era bastante familiar, era uma criatura enorme. Como se fosse um homem deformado. De repente ela fitou meus olhos como se soubesse que eu estava observando-a.

—Jonnhy... olha...— A criatura soltou o corpo, que parecia estar todo dilacerado, e começou a correr em nossa direção. Quando Jonnhy resolveu levantar a cabeça para olhar ela já estava bem perto. Ela saltou em direção a porta de vidro, em uma fração de segundos Jonnhy só conseguiu me empurrar. O Vidro da porta se explodiu em pedaços e a criatura caiu em cima de Jonnhy. Eu caí um pouco mais à frente, quase batendo a cabeça na parede lateral. Entre os pedaços de vidros e a grade de ferro que estava jogada na entrada, a criatura se levantou. A sua imagem era muito mais assustado de perto. Ofegante, ela abaixou e segurou Jonnhy pelo pescoço. Percebi que ele ainda estava vivo, não por muito tempo. Aquela coisa apertou o pescoço de Jonnhy com tanta força que seus olhos ficaram cheios de sangue. Me levantei assustada e saí. A criatura jogou Jonnhy no chão e parecia me procurar. Corri em direção a pequena Avenida em frente ao shopping. Em um salto para fora do shopping, a criatura veio em minha direção. Assustada segui correndo, sem olhar para trás. Só podia notar os tremores que a criatura causava enquanto saltava atrás de mim. Quando estava para atravessar a Avenida, senti algo forte me puxando pelos pés. Com toda velocidade que estava correndo, caí com todo o corpo no asfalto. Percebi que a criatura estava me puxando com suas patas. Meu rosto foi arrastado pelo asfalto. Eu chorava de dor. Meu rosto estava ficando em carne viva. Com força ela me jogou no meio do asfalta e colocou suas patas em minha barriga. Com toda a pressão que a criatura fazia sob minha barriga, senti uma forte ânsia de vomito. Em uma instante ela vomitara sobe minha cabeça. Era como se ratos queimados e sujos de sangue andassem por cima de minha cabeça. O cheiro insuportável me fez vomitar. Uma das coisas que a criatura vomitara começou a entrar pela minha boca. O desconforto era insuportável. Pouco a pouco sentia aquela coisa descendo por minha garganta. Minha cabeça começou a latejar. Fui ficando fraca, meus batimentos começaram a diminuir. Meus olhos ficaram pesados. A dor continua insuportável, mas me sentia paralisada. A dormência que sentia fez com que eu perdesse a visão. Os batimentos do meu coração estavam cada vez mais fracos. As imagens, antes embaçadas, foram tomadas por um grande vulto negro. A escuridão...

Fim.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas #3

Capítulo Final: Éter & Asas em Alfinetes

20h 30min. O shopping estava realmente vazio. Julian tinha chamado os dois seguranças da portaria, que obviamente, estavam sem fazer nada na entrada principal. Ao chegar perto da Nadh eles ficaram espantados com o estado da minha amiga. Foi quando tudo começou a piorar. Eles tentaram chamar os outros seguranças pelo walk talk, mas foram mil tentativas inúteis. Ninguém respondia.

—Mas e os idiotas que fizeram isso com minha amiga?— perguntei.
—O outro rapaz os levou para a delegacia...Quer dizer, ele só conseguiu prender dois. Acho que estavam em um bando muito grande...—disse o neandertal.
—Sete, eles estavam em sete. — disse Julian.
—E o que a gente faz com a Nadh?— disse Ton olhando para os dois seguranças com cara de idiota. Um neandertal e um debilóide. Ambos sem saber o que fazer. Depois de alguns minutos os dois se reuniram no canto, bem distante da gente, da ala. Enquanto estavam fuxicando, dei uma olhada pelo lugar. Apesar de bem escuro, pude ver que Bene e Jonnhy não se desgrudavam. Ou Bene não se desgrudava de Jonnhy, estava totalmente chocada com a situação. Ton impaciente, como sempre. Eu e Julian não saiamos de perto de Nadh, apesar do cheiro insuportável que já estava se formando por causa do sangue no chão. E Nadh, bem... estava morta. Não conseguia pensar em nada além de "Minha amiga está morta. O que vou dizer para a mãe dela? Minha amiga morreu. Ela está morta". Tanta repetição estava quase estourando minha cabeça até que...

—Vocês vão deixar que a gente cuida disso. — disse o segurança, o debilóide. Talvez não fosse tão debilóide assim.
—Como assim?— disse Ton.
—Nós vamos resolver toda essa mer... Essa situação!
—A gente não vai deixar ela sozinha aqui.— disse eu, já irritada.
—Ela não vai à lugar algum. E além do mais, vocês não podem fazer mais nada. Precisam sair daqui!— disse o neandertal já me segurando pelos braços e me levando para a entrada principal.
—Mas alguém de nós tem que ficar.— disse Jonnhy
— Ok. Quem fica?
— Preciso contar o que aconteceu para a mãe da Nadh. — disse eu
— A gente precisa ir em casa. Acho que o Ton pode ir lá em casa. Eu fico. — disse Jonnhy
— Então Bene fica com você, vai ser difícil levar ela à algum lugar assim. — disse para Jonnhy que concordou.

Que milagre, Ton não discordou em não ficar com Nadh. Talvez não estivesse aguentando mais, não com Nadh naquela situação. Já estávamos em frente à porta de vidro com mais de três metros de altura por três metros. Os seguranças empurraram as portas e nós deixaram passar. Rapidamente trancaram-as com suas chaves e começaram a abaixar a proteção de metal, uma espécie de grade, por dentro. Isso não ia dar certo. Não podíamos deixar Bene e Jonnhy sozinhos. Não com esses dois seguranças idiotas!

—Abram essa porta! Seus filhos da puta!! Abram.— dizia Ton batendo freneticamente na porta de vidro. Ele pensavam em quebrar, mas o vidro era muito grosso. Julian começou à bater na porta também. Esforços em vão.
Estávamos tão concentrados nos problemas que tínhamos dentro do shopping, que esquecemos de podíamos ter problemas do lado de fora também. Percebi pelo reflexo do vidro o caos que estavam as ruas de Richmond.
—Hey! Olhem... — disse enquanto virava para olhar toda situação. Haviam carros parados na frente do shopping, abertos e com as lanternas ligadas. Mais longe, haviam duas pessoas jogadas no chão. Talvez fossem mendigos bêbados ou sei lá o quê. Muito lixo pelo chão. Não era exatamente lixo. Eram bolsas, jornais, revistas, e até mesmo um tênis. Parecia que algo tinha assustado todo mundo. A rua, uma pequena avenida em frente do shopping, estava vazia. Raramente passavam carros. Eu tinha contado dois, durante os minutos que ficamos checando a situação. Parecíamos idiotas olhando vitrines. Era inacreditável. Caos total.

— O que aconteceu? — perguntei, mesmo sabendo que Julian e Ton não poderiam responder.
— Mas que ... droga... — disse Julian
— Acho que sei. Quando descemos, fomos pedir informação para aqueles vendedores. Eles nos disseram que mais cedo o jornal tinha anunciado que algo tinha destruído casas nos arredores da cidade. Mostraram imagens das casas destruídas e todas as familias dessas casas estavam mortas. Não deram mais detalhes. Mas quase toda policia local tinha se dirigido para tentar resolver essa merda toda.
—E o que isso tem haver? — disse olhando bem para a cara de Ton. Pela primeira vez percebi que ele estava... com... medo.
—Eu não sei, mas se o jornal não deu muitos detalhes. É algo grave.
—Um assassino revoltado, pronto. Ajudou muito.
—Você acha que um louco idiota ia conseguir destruir casas? Coloca-las abaixo? — disse Ton. Com toda razão. Eu estava me sentindo idiota. Começando à agir como idiota.
—E se isso estava lá, tem toda chance de ter chegado aqui.— disse Ton.
—Mas e a Bene? E o Jonnhy?— perguntou Julian
—O que a gente pode fazer? Eles estão lá dentro. E vão ficar lá dentro com aqueles dois idiotas. — disse para Julian.

Quase ia me esquecendo. Se esse caos todo chegou na Avenida central, o que teria acontecido à minha casa. Eu morava à dois quarteirões do shopping, que ficava relativamente perto da rodovia que levava para uma rota que sai de Richmond e seguia para fora do estado de Indiana. A minha preocupação com minha mãe me fez esquecer de avisar à mãe de Nadh o que tinha acontecido. Julian morava perto de mim, quase vizinho. Sua mãe e seu pai tinham viajado para a França. Acho que estavam comemorando bodas de alguma coisa. Já Jonnhy e Ton moravam do outro lado da cidade. Mais perto do shopping, um quarteirão dali.

—Preciso ir em casa. — disse para Ton. Eu sabia que Julian iria concordar comigo, então só precisava convencer Ton.
—Eu não posso deixar meu irmão sozinho! — disse Ton
—Ele vai ficar bem, ele está cuidando da Bene. E o shopping está fechado. Não vai acontecer nada.
—Você precisa falar com sua mãe. Ela pode vir busca-los de carro. — disse Julian.
—Ok, mas vou ter que ir sozinho?
—Algum problema? — disse eu.
—Ah... foda-se. Vou só. — disse Ton, novamente irritado. Eu conseguia irritar ele como ninguém. Por um momento fiquei até preocupada, mas ele se diz macho o suficiente para conseguir ir sozinho para casa. Não ia levar mais que 20 minutos. Ele consegue. Idiota.
—Você não acha que...— sussurrou Julian aos meus ouvidos.
—Tenho certeza. — disse eu. Ton já tinha saido. Enquanto caminhávamos, olhei para trás e percebi que Ton passou bem perto dos dois corpos jogados no chão. No lado Norte da rua. Ele acelerou o passo e virou na primeira esquina. Me virei e continuei andando com Julian. Ele começou à dar passos rápidos, então tive que segui-lo. A cidade estava realmente um caos. Haviam lojas abertas, como se tivessem sido esquecidas assim. Carros parados sem motoristas. Era inexplicável. Mais a frente tinha um único ônibus. Aparentemente haviam pessoas dentro. A luz interna piscava sem parar, quase desligando.

—Julian, olha!— apontei para o ônibus. Ele parou de andar e resolveu entrar no ônibus.
—Tem gente lá dentro! — disse ele.
—É. Parece que estão... paradas. — Ele seguiu, e eu fui atrás. Ele forçou a porta para que conseguíssemos entrar. Quando entramos demos de cara com o motorista desmaiado. Os poucos passageiros estavam jogados pelo ônibus. Os que estavam sentados estavam com a cabeça baixa. A luz fraca do ônibus só nos possibilitou enxegar uma coisa: Todos estavam mortos. Havia sangue em suas roupas. Julian, já enojado, resolveu virar uma menininha que estava jogado no chão. Era assustador, seu rosto estava todo sujo de sangue. Sua barriga estava suja de sangue, quase igual à de Nadh, um pouco mais suja. Julian me olhou perplexo. Foi quando ele resolveu levantar a camiseta daquela menina;

—Mas que porra é essa, Julian? — disse eu. Acabará de levar o maior susto da minha vida. Era horrível! A barriga da menina estava toda aberta, parecia ter sido mastigada por algum pitbull faminto.
— O que f-fez ..,isso? — gaguejou Julian. Aparentemente apavorado. Ele checou os outros nove passageiros, todos estavam com a barriga dilacerada. Mas como isso aconteceu? Suas roupas estavam intactas. Decidimos sair rápido dali. Era uma cena horrível. Antes de descermos, Julian empurrou o corpo do motorista. Estava sem os olhos, apenas dois buracos onde deviam estar os olhos. O rosto estava todo sujo de sangue. Sua roupa, intacta, mas sua barriga igual à de todos os passageiros. Saimos dali correndo.

Há um quarteirão de casa. 21h 12min. Tínhamos andando demais, eu poderia ter pegado um atalho, mas como iria lembrar de tal coisa depois de ver tantas pessoas mortas em um único ônibus. O quarteirão estava aparentemente normal. Seguimos pela rua até encontramos a primeira esquina, e uma grande surpresa. Estávamos apressados e quando viramos na esquina percebemos que alguém estava escondido entre um pequeno muro do jardim na segunda casa ao lado da esquina. A esquina não era muito estreita, então me aproximei e percebi que aquele quem estava escondido era um dos idiotas do cinema. Um dos amigos dos três bandidos que fizeram a Nadh cair daquela escada rolante. Não pensei duas vezes:

—Ei! —gritei puxando o menino pela gola da camiseta. Ele estava assustado, mas ia ficar muito mais com o que eu ia fazer com ele
— O que foi? — disse ele, espantado. Julian percebeu quem era e o empurrou contra o muro.
—Você sabe o que fez com minha amiga? Seu idiota! — disse Julian, furioso.
—Eu não fiz nada cara. Eu sei quem fez, mas não fui eu. Meus amigos já foram levados pelo segurança...
—Eu não me importo! — Julian fechou a mão e com toda a força deu um soco na cara do menino. O soco foi tão forte que fez o menino cair no chão.
— Au... que merda... isso dói cara! — choramingou. Ele ficou se contorcendo no chão enquanto nos virávamos. Começamos a andar, Julian se queixava da dor na mão. O menino começou a gemer mais alto, eu não me importaria porém tive que ver o estrago que Julian tinha feito. O soco foi tão forte que o menino estava vomitando sangue. O menino estava jogado na grama e se balançando no chão. Cada vez que vomitava sangue Julian ficava mais nervoso.

—Nossa... Julian! Faça alguma coisa — disse enquanto Julian coçava a cabeça.
—Ah, ok. ok. — Julian ia tentar levanta-lo do chão quando o menino parou de gemer. Virou-se e parou de se mexer.
—Acho que ele morreu — disse enquanto ia checar o pescoço dele.
—Caralh... eu matei o...
—Não, espera... Olha a garganta dele! — A garganta dele parecia estar mais cheia. Fazia um movimento estranho. Parecia estar tentando respirar, apesar do corpo não se mexer. Foi quando percebi que a camiseta dele estava toda suja de sangue.
—Olha! Que nojo. A camiseta dele...
—Eu não fiz isso. Eu apenas... dei um soco na cara dele! — disse Julian. De repente o movimento da garganta dele aumentou, como se algo estivesse subindo pela garganta dele. O sangue voltou a sair da boca dele. Foi quando uma coisa começou a sair pela boca. Uma coisa branca. Era nojento. Parecia um filhote de rato sem pêlo algum, apenas um pouco maior. Ele não tinha patas, rabo ou orelhas. Se contorcia como uma lesma. Foi a coisa mais nojenta que já vi em toda minha...

—É a coisa mais nojenta do mundo!— disse Julian. Aquela coisa nojenta desceu da boca do menino e começou a se arrastar para perto do Julian. Julian recuou e acabou tropeçando no meio-frio. Puxei Julian e saímos correndo.

—Mas o que era aquilo; que nojo!— disse Julian.
—Não sei... não sei... só quero chegar em casa logo!

O desespero pode te levar à fazer coisas absurdas. Correr é uma delas. Já estávamos na rua de casa. Minha casa era a segunda da esquerda para a direita, Julian morava há sete casas da minha. Peguei a chave do portão desesperadamente e segui procurando minha mãe por todos cômodos da casa. Gritava mas pelo visto minha mãe não estava ali. Foi quando ouvi Julian me chamar da cozinha. Minha mãe estava lá, caída no chão. Julian disse que ela estava viva, apenas desmaiada.

—Precisamos sair daqui! Agora!— disse desesperada.
—Mas como?
—O carro... o carro do meu pai.— Julian levantou minha mãe e a apoiou nos seus ombros. Seguimos para a garagem, o carro estava lá. Já era acostumada à pegar o carro do meu pai. O pai de Julian tinha nos ensinado a dirigir. Eu tinha até uma copia do carro do meu pai no meu chaveiro. Julian sentou atrás com minha mãe. Liguei o carro apressada. Pisei no acelerador como uma louca.

—Mas e o portão?— perguntou Julian. O carro seguiu em frente e derrou o pequeno portão de madeira que cercava minha casa.
—Eu nunca gostei desse portão, mesmo. — nesse momento notei pelo retrovisor que minha mãe estava acordando. Parei o carro.
—Mãe? —perguntei esperançosa, mas ela estava acordando ainda. Não pode me responder.
—Acho que ela está muito cansada. — disse Julian.
—Será que não alguma coisa nela... alguma coisa... aquilo que a gente viu
—Não, acho que não. Não tem sangue nela. E a barriga dela parece estar bem. — Julian levantou a camiseta da minha mãe e viu que a barriga dela estava normal. Apesar do grande volume, ela estava bem.
—E agora? — perguntei a Julian. Alguma coisa estava errada, Julian não me respondeu.
—Julian? Julian? Tudo bem? — me virei para ver o que estava acontecendo.
— Julie... quem é aquele cara... quer dizer, o que é aquilo? — pelo para-brisa traseiro vi que um homem estava andando pela rua. Não era exatamente um homem. Tinha uma estrutura humana, mas era muito mais alto que uma pessoa comum. Parecia ter uns 3 metros de altura. Estava nu, mas não era um homem. Não era uma mulher. Era uma espécie de ... coisa. Não tinha pêlo algum, sua pele era enrugada e cheia de manchas. O rosto era deformado, sem nariz. Com uma boca enorme ele parecia falar alguma coisa. Pelo menos parecia, pois o silêncio era total. Suas mãos era enormes, assim como seus pés. Na verdade suas mãos eram como enormes patas. Seus enormes pés não pareciam ajudar, pois o homem - ou aquela coisa- se arrastava lentamente. Não sabia o que fazer, era uma criatura inacreditável. Como se tivesse saído de um filme.

—Julie, julie! Liga esse carro! Vamos! — tentei ligar o carro, Julian parecia desesperado. Me senti realmente em um filme, o carro não ligava. E quando consegui, a criatura percebeu. Como se estivesse procurando alguma coisa. Acelerei. A criatura se agachou e deu um enorme salto. Olhei pelo retrovisor que ele começará a nos perseguir. Ela não corria, ela saltava. Passa por tudo, pelos portões e pelos postes. Era totalmente desengonçada, mas parecia ser pesada pois destruía tudo por onde passava. Ou melhor, pulava. Saí da rua, mas a criatura continuou nos seguindo. No desespero lembrei:

—Julian... e os outros? O que a gente vai fazer? — perguntei desesperada.
—Não sei... aquela coisa está logo ali, atrás da gente. — Julian deve ter pronunciado essa frase toda em menos de um milésimo de segundo.
—Mas... —parei para pensar. Infelizmente tive que olhar novamente pelo retrovisor. Aquela coisa ainda estava lá. Não era um maldito sonho.
—Mas? Mas e aquela coisa? E a sua mãe? E seu.... irmão!?— gritou Julian desesperado. Se eu virasse pela na próxima esquina e seguisse pela esquerda chegaria em menos de quinze minutos na rota 53. A rota que nos tiraria da cidade muito rápido. Sairíamos do estado de Indiana em menos de uma hora e meia. Se eu seguisse reto teria que fazer o retorno para pegar a Avenida Consagrus, o caminho rápido para o norte da cidade. Para onde Ton tinha ido. Poderia busca-lo e depois ir ao shopping...
—Julie, olha... — A criatura deu um enorme salto e acabou destruindo o telhado de uma casa. Por um segundo pensei que tinha ficado por lá, mas logo ela saltará para fora segurando um enorme frizer. Ela se impulsionou e jogou em nossa direção. Virei para esquerda.
—Você está louca? Vamos Julie, rápido!! Aquela merda vai pegar a gente! — Julian estava muito desesperado. Estava suando. Estava amedrontado. Era irritante e ao mesmo tempo agonizante ver o meu melhor amigo daquele jeito. Já não tinha mais volta, as duas coisas mais importantes para mim estavam precisando da minha ajuda. Minha mãe e meu melhor amigo. Eu tinha que tomar uma decisão. Aquela coisa estava louca, era uma criatura medonha. E o quanto mais lembrava, mais minha cabeça girava de ideias. Não conseguia controlar meus pensamentos. Estava desesperada. Eu tinha minha mãe, ela estava grávida. Não... não sei o que pensar. Não conseguia me controlar. Julian não parava de falar... eu não tirava os olhos do retrovisor. Antes a cidade, agora... minha mente estava um caos...

Segui pela rota 53.


Fim.
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Capítulo um: Crisálidas | Capítulo dois: Espécies em Extinção | Capítulo Final: Éter & Asas em Alfinetes

"Não se preocupem. Haverá um capítulo extra no qual algumas coisas serão esclarecidas. Talvez sobre Bene, sobre Jonnhy ou sobre Ton. Talvez sobre os três. Alguns fatos precisam ser explicados. Talvez... se preocupem."

Capítulo extra: Caixa de vidro

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas #2

Capítulo 2: Espécies em Extinção

Enquanto estávamos subindo pela escada rolante, Bene notou uma grande movimentação na ala das lojas de departamento. Como se estivesse acontecendo uma enorme liquidação. Mais especificamente nas vitrines e prateleiras de tvs; estavam amontoadas de pessoas.

—Devem estar doando tvs de plasma. — disse ela.
—Meu sonho é uma tv de 52 polegadas.— disse Jonnhy.
—Você tem uma de 42!
—Você já viu uma de 52, Bene?
—Não.— com um olhar perplexo Bene tentava lembrar se já tinha visto uma tv tão grande, mas não conseguia lembrar. Acho que era impossível haver uma tv tão gigante.
— Então... é enorme!

Já na sala de cinema, que estava com o ar-condicionado quebrado, o filme ficava muito cansativo. Obviamente porque já era a segunda vez que o assistamos. O Calor insuportável fez com que a coca-cola virasse água. Essa tinha tudo para ser a pior saída de todas. Muito mais que quando fomos presos por deixar Bene segurar três garrafas de vodka.
A Sala estava vazia, com no máximo 20 pessoas contando com a gente. Quando ia sugerir que fôssemos embora, um barulho muito forte de estalo veio da sala de projeção. A luz do projetor sumiu e respectivamente a imagem na tela. Todos ficamos sem saber o que fazer, mas no canto da sala tinha um grupo de 7 idiotas que ficavam gritando como loucos. Pareciam macacos famintos e a única coisa que conseguiam pronunciar era a letra "u".

—Merda! Dinheiro jogado fora. — disse Ton com muita raiva.
—Eles são obrigados à devolver a nossa grana! — disse tentando acalmar Ton, mas parecia impossível.
— Merda! Merda! Merda! Essa porra só pode piorar se... — Acho que Ton ia dizer 'Se a luz acabar'. E foi exatamente isso que aconteceu. Nem as luzes de emergência estavam mais acesas. Escuridão total. Foi quando Julian ligou seu iPhone e iluminou um pouco nossa fileira. Muito pouco mesmo.
—Deus salve a Apple. — disse ele. Todos na sala começaram a descer as escadas a sala iluminando o caminho com seus celulares. Ficamos sentados um pouco, odiávamos sair quando todos estavam saindo. Não éramos dessa manada.
Perguntei à Nadh quantas horas eram, não anda com meu celular para evitar as ligações nervosas da minha mãe. Eram 19h e 57 min.
— Sugiro irmos para a loja de doces.— Nadh e Ton tinham essa mania de roubar sempre essa loja de doces. O gerente os odiava muito.
— Você acha que esse apagão não foi no shopping todo?— disse com um tom de ironia que jamais tinha usado alguma vez. Mas quem, com Q.I. maior que 98, não deduziria que o apagão fosse em todo o shopping? O Ton, claro.
— Eles não tem gerador?— disse Ton, novamente irritado.
— Já é um milagre esse shopping ter cinema.— acho que foi com o Julian que aprendi a ser tão irônica.
— Vamos embora. — disse Nadh enquanto se levantava e iluminava o caminho com o seu celular. Enquanto descíamos, forcei minha vista para tentar enxergar a sala de projeção. Inutilmente, estava muito escuro.

Eu estava certa. O apagão era em todo o shopping. No Hall do cinema haviam alguns seguranças com lanternas orientando as poucas pessoas presentes à irem embora. Quando íamos descendo pela escada rolante desligada, seguindo Nadh, os seguranças gritaram:
— Ei! Desçam pela escada normal, moleques!— Seguranças, brutos como sempre. Demos à volta e descemos pela escada normal. Nadh não parava de reclamar das voltas que a escada fazia.

—Malditos arquitetos!— disse ela.
—O que será que houve? — disse Bene. Acho que o tom da voz dela demonstrava medo. Crianças.
— Um apagão qualquer. — disse Jonnhy tentando consolar Bene.
— Não aguento mais! Nenhum ordem de segurança vai me fazer descer cinco andares dando todas essas voltas.— reclamou Nadh.
— Você vai descer cinco andares do mesmo jeito nas escadas rolantes desligadas! — Julian, sempre esperto.
—Foda-se! — Já no quarto andar, Nadh resolveu descer pela escada rolante. Ficava na ala de livrarias e lojas de cds. Estavam quase todas fechadas. Haviam poucas pessoas e elas estavam se dirigindo às escadas com lanternas. Nadh insistiu em descer pela escada rolante. Eu e Julian à seguimos enquanto os outros resolveram pedir informação sobre o que estava acontecendo com o grupo que estava descendo as escadas. Eles tiveram que correr, pois pareciam estar apressados.

—Você não precisa ser tão idiota, Nadh!— disse para Nadh, mas disse com todo o carinho do Mundo.
—É muito mais prático descer por...— de repente ouvimos um barulho de vidro quebrado. Alguém gritou 'pare', parecia a voz do mesmo segurança que havia gritado com a gente. A luz da lanterna ficava mais forte, mais frenética. Parecia que estava correndo atrás de algo. Foi quando três dos meninos que estavam gritando na sala apareceram correndo. Deveriam estar roubando algo. Eles apareceram correndo e resolveram descer pela escada rolante. Vieram muito rápido, como um flash de câmera, gritando palavrões e ordens para que saíssemos da frente. Eu e Julian nos encostamos na lateral da escada rolante, mas Nadh não. O terceiro menino desceu tão rápido e de forma agressiva que conseguiu empurrar Nadh para fora da escada rolante.

—Meu Deus!— gritei de nervosa que estava. Acabará de ver minha amiga cair de uma altura de quatro andares. O segurança passou em seguida indo atrás dos idiotas marginais que mataram minha amiga.
— Que... porra! ... E agora? Caralho... — Julian estava mais nervoso do que eu.
— Liga para alguém, rápido! Temos que descer, pegar a Nadh. — Não, ele não estava mais nervoso do que eu. Descemos rapidamente a escada rolante. Paramos na Ala 1 da Praça de Alimentação do piso 3. Segui para a outra parte da Ala para podermos descer pela escada normal. Julian veio atrás.

—Droga, não tem sinal. Droga, droga, droga..... porraa!!— disse ele.
— Vamos correr então. Encontrar os outros! — corremos por toda Ala 1 e quando chegamos na Ala 2 notamos que o lugar estava muito bagunçado. Pareciam que as pessoas que estavam ali decidiram sair dali e passar por cima de tudo. Julian parou em uma pilha de cadeiras jogadas no chão e quase caiu. Parecia ter escorregado em algo.

—Mas que merda é essa?— Julian iluminou o chão e viu que estava todo lambuzado com.... ketchup. Só podia ser ketchup, pois havia um pedaço de hamburger no chão, mas o cheiro era muito forte.
— Que nojo!— disse eu.
— O que será que aconteceu?— Não dei importância para a pergunta do Julian. Desviei-me dele e comecei a descer rapidamente as escadas. Julian, novamente, veio logo atrás. Agora estávamos na Ala 3 do piso 2. Segui pela Ala 2 e quando estava chegando na Ala 1, avistei Ton subindo pelas escadas da Ala 2. Logo atrás vinham Bene e Jonnhy.

—Caramba! Onde você estavam?— gritei
— Calma, estávamos pedindo informações para o pessoal que desceu. — disse Ton.
— Os seguranças insistiram para a gente esperar vocês lá fora, mas nós demos a volta e entramos pelo outro lado. — explicou Jonnhy com uma cara perplexa por causa da minha agitação.
— Tá, tá. A gente que descer logo. A Nadh caiu da escada rolante. — disse nervosa, enquanto Julian se aproximava.
— Como assim? — perguntou Bene.
— Uns idiotas estavam roubando uma loja e desceram pela escada rolante e empurram a Nadh. — disse Julian com um tom cansado.
— Mais que filhos da...
— Vai, rápido, tentem ligar para alguém. Para casa da Nadh. Emergência. Qualquer coisa!
— Acho que vocês precisam saber de uma coisa...— disse Bene.
— Agora não Bene! Rápido, Vamos! — passei por eles e comecei a descer as escadas sem me importa muito o que Bene vinha dizendo atrás.
— O pessoal que a gente foi pedir informação disseram aconteceu algo na cidade. A Energia acabou em todos os lugares. Alguns fios de energia foram danificados, cortados ou algo assim...
— O meu celular está sem sinal. — disse Ton.
— O meu também está... alguém tem... — Julian parou de falar quando percebeu que tínhamos chegados na Ala 2 do piso 1.
— Alguém deve estar com a Nadh na Ala 3. — disse ele.
— Espero... que .... ela... esteja... — eu sabia que ela não estava bem.

Corremos para a Ala 3, estava totalmente vazia. Na verdade, quase todo o shopping estava. Tirando nós e talvez alguns seguranças no piso 6. Não, havia mais alguém na ali. O corpo de Nadh. Era horrível, havia sangue pelo chão, o osso da perna da Nadh estava fazendo volume na calça que ela usava. A camiseta estava suja, como se a barriga tivesse aberta. Se não fosse minha amiga, e se eu não estivesse triste o suficiente, teria vomitado ali mesmo.
—Merda...— disse Ton. Ele tenta criar forças para abraçar Nadh, mas a situação era muito desagradável. Era uma cena horrível.
— Meu Deus... coitada... alguém precisa... — Bene começou à chorar antes mesmo de terminar a frase. Jonnhy à abraçou.
— Precisamos de ajuda! — disse Julian.


próximo: "Final: Éter & Asas em alfinetes"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas #1

Capítulo 1: Crisálidas

Eu estava fora de casa desde quinta-feira, não que fosse algo excitante, já era sexta-feira. Era de costume sair de casa quando o clima ficava meio insuportável. Minha mãe estava grávida pela segunda vez, mas não do meu pai. Não, aquele homem não era mais meu pai. Vivia estressado depois que voltou da guerra do Haiti. Porque precisava ser sempre voluntário em ONGs que presam pelos direitos humanos? Ficaria grata se decidisse lutar pelo direito dos animais da vizinhança. Mas antes de contar os meus problemas acho que você tem o direito de saber quem eu sou. Me chamo Julie Wintermary, tenho 17 anos, tenho 1,87 de altura, pele branca, cabelos ruivos, olhos negros e não estou à venda. Desculpe, mas todo pensam que sou um produto da "Rebeldia Adolescente". Na verdade, estou pouco me importando com a opinião alheia. Um estereótipo de modelo, arrogante como uma cantora de rock e excessivamente justiceira. Era assim que meu amigo Julian me descrevia. Maldita sexta-feira!

"J. a galer a vai ao cine 6f. fechado?
beijo,s Nadh."

Esse foi o convite da Nadhianne. Mais conhecida como Nadh. Ela não era boa em digitar sms, mas era sempre ela que enviava para toda a galera. Nadh era encarregada da diversão, talvez por ser uma adolescente inglesa sabia se divertir.
Éramos um grupo de seis adolescentes livres, ou quase. Eu, meu melhor amigo Julian, Nadh, os gêmeos Ton e Jonnhy e Bene. Bene era a mais nova do grupo, 14 anos. Eu não me lembro como ela entrou para o grupo, mas acho que foi quando ela ajudou eu e o Ton no trabalho de biologia marinha da escola. Todos estudávamos na Escola Wayne da cidade de Richmond, uma cidade do interior com cara de cidade grande localizada no estado de Indiana nos Estados Unidos.
Sempre às 19h estávamos em ponto na frente do shopping. Quase todos, faltavam Ton e Jonnhy.

—Não se preocupem, aposto que a Sra. Silver os prendeu em casa. — Bene sabia da rotina chata do Ton e Jonnhy. Ela era vizinha deles. Alias, seu nome verdadeiro era Benedith.
—Mas eles nunca ficam presos por mais de 1 minuto. — disse Julian enquanto avistávamos eles chegando.
—15 minutos de atraso, isso foi um recorde da Sra. Silver.— disse a eles.
—Ela anda praticando. — Ton, sempre engraçado.
— E os ingressos? — Nadh era a encarregada da diversão, mas não garantia satisfação em seus serviços.
—Eu e o Ton compramos!
— Que filme?— disse ela.
— Brüno.
— De novo!? É a segunda vez no mês. Já sei até as falas! — É, eu sabia mesmo.
— A outra opção era o filme da Miley Cyrus.
—Eu gosto da Miley. — Viu, não sei como Bene entrou para o grupo. Ela era muito "inocente". Chegava a dar medo!
—Por favor né, Bene. Ninguém gosta dessa Safada Montana.— disse Julian.
—Você não gosta porque você é gay, Julian. — disse Ton. Julian era gay, mas não era de se imaginar. Os bonitos, inteligentes e másculos sempre são gays. Julian estava nessa lista. Nadh não perdia a oportunidade de se divertir, né? Ton e Jonnhy eram heteros. Apesar que, uma vez, Ton tinha bebido muitas Bloodmaries e acabou nos braços de Julian. Eu era a mais "comportada" de todos. Homens não me mereciam. E eu realmente não estou afim de me arriscar com mulheres.
Ah... não, também tinha a Bene; ela tem quatorze anos!


Próximo "Capítulo 2: Espécies em Extinção"

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma Carta Para Meus Amigos da Escola...


"Esse ano as coisas aconteceram de forma diferente para mim. Talvez tenha sido um ano incrivel, onde eu aprendi muitas e muitas coisas. Acho que vocês também, ou não. Eu queria compartilhar um tempo mais essas coisas com vocês, sei lá. Não me perguntem o por quê, mas foi um ano bom e agravavél. uma porção de coisas. De tantos aprendizados, aprendi três coisas importantes. Então resolvi coloca-las no papel e ler para vocês.

A primeira coisa que aprendi foi que a escola é como uma floresta, uma selva. Porém, diferente do que muitos pensam, a lei da selva não é matar para sobreviver, e sim levar e pegar o que se precisa para se manter vivo. A gente pode contar varias historias para tentar agradar todos, a gente pode fingir que não está aqui - talvez por tímidez ou outras coisas - a gente pode vestir a roupa que for, fazer o que for, mas as pessoas só vão acreditar se for verdadeiro. De sentimento e coração. Não importa se a verdade seja chata ou estranha. Só a verdade vale. E isso é bem difícil.

A segunda é que todos somos diferentes, não melhores que os outros. Tem aquelas que parecem não se importar com as coisas, só se for a própria aparência, mas se você as conhece melhor vê que elas são legais. Não só menininhas. São quase mulheres, né? Independente do tamanho. Só precisariam levar as coisas um pouco mais a sério. Mas quem sou eu para julgar esses brotinhos delicias.
Tem os Anônimos, aqueles que se sentam nos mesmos lugares, que ninguém mexe. Pessoas simples e encantadoras. Talvez com um volume de voz muito baixo, mas todo mundo é diferente. Só colocar óculos que melhora.
Tem o pessoal da zorra, sem muitos comentários ou qualquer quote engraçado. Nem sempre são idiotas o quanto a gente imagina. Dá até para encontrar um grande amigo entre eles. E por fim tem aqueles que a gente gosta - me desculpem o uso da palavra - mas foda-se. A gente gosta deles. Estranhos, altos, baixos, loucas, loucos e sei lá mais o que.

Agora a terceira, mas não menos importante, coisa que aprendi com vocês. Por tudo e por todos, pelas circunstâncias e ações. Nós só temos dezessete anos. Não precisamos ser tão sérios, ou tão bobos. As coisas vão acontecer. Nós vamos fazer as coisas acontecerem. Não porque a professora de historia disse que nós temos ou porque está no nosso destino. Nós vamos fazer fazer isso por nós. Nós podemos fingir que não vemos as coisas, que brigar com um amigo por uma coisa que nós nem sabemos como aconteceu. A gente pode tomar atitudes precipitadas por achar que as pessoas são de um jeito, mas elas não são. Nós só temos dezessete anos. Tem muita coisa por aí, nesse estradão. Mas nós só vamos levar as coisas boas. Eu quero levar esses amigos. Para sempre.
É disso que eu queria falar com vocês. Eu tive que colocar no papel.

Esse foi um ano incrível, o que ano que vem também vai ser. Mas por enquanto, são essas coisas boas que eu quero vocês sintam. E que tudo seja bem melhor.


Com muita gratidão, Kabe Rodrigues H.F.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Casa é Coração.



Não existe casa amarela.
Casinha, nem casarão. Não existe.
Pode andar na estrada, pode ir longe.

Pode ficar parado, mas tem que bater.
Não existe roda que leva. Nem avião que rode.
Casinha está aqui.

Não dá para mudar de casa.
Não tem como aumentar.
É pequeno, mas cabe todo mundo e de tudo um pouco.
Casa é Coração.

sábado, 14 de novembro de 2009

Não ia dar certo...

-
Ele costumava ir embora quando o assunto batia de cara com ele. Parece marcado por alguma tipo de relógio magnético, mas claro que só funcionaria se tivesse comido dois quilos de parafusos. Tarde demais para fazer ele vomitar todo o metal, tive que pensar rápido para não deixar ele escorrer pelos meus dedos. Nunca gostei tanto de areia.
-Onde você pensa que vai? Disse eu com uma voz firme.
-Para casa.
-Mas você acabou de chegar!
-Então se cheguei já posso ir.
-Lógico que não. As coisas não são assim.
-Como são, então?

Não sei porque, mas sabia que ele iria perguntar isso. É o que eu chamo de quebrar a banca. Quando alguém não tem explicação para algo e mesmo assim usa isso para te convencer basta perguntar do que se trata. Minha Avó me ensinou isso em algum tempo da minha vida. Ela dizia que com paus e pedras seria impossível construir uma canoa.

-Você não quer um café?
-Eu não tomo café. Ele revirava os olhos olhando para o relógio. Parecia que estava esperando um cuckoo saltar para fora e gritar: "É HORA DE IR!". Eu não me surpreenderia se isso acontecesse, já tinha oferecido café.
-Ah, mas eu não tenho café mesmo.
-Então eu fico. Ele abriu um sorriso tímido. Esperançoso, quase.
-Uh... então. Fiquei sabendo que as coisas estão prestes a mudar. Deu no noticiário sobre o verde e o azul. Algo importante para a consciência mundial, não lembro. No contexto atual as coisas ficam mais legais, prazerosas, com toda essa...
-Preciso ir embora. Foi um prazer conversar com você hoje.
-Ahn..? Antes que eu pensasse em alguma coisa que prendesse sua atenção, ele olhou pela janela e disse:
-É um belo dia!

Andou até a porta, girou a maçaneta muito lentamente. Abriu a posta e uma leve brisa balançou seus cabelos. Disse até logo e sumiu em seguida. Como podia ter um amigo desses? Mal conversava e talvez nem respirasse. Ok, ele respirava. Não sabia explicar onde consegui um amigo desses e nem quando aconteceu. Eu só sabia que:
-Não ia dar certo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Breve Conto de um Jovem Barão Apaixonado.

Júlia era uma menina muito feliz, bonita e tinha um charme único. Eu nunca falava com ela, mas nossos olhos sempre se encontravam. O castanho parecia dançar com o verde. Meus olhos pareciam imãs no ferro verde. Todos, ou quase todos os dias, isso acontecia. Pura química, destino, parecia ser paixão a beira do amor. Sonhava em contar o que sentia a ela e assim poder tocar o seu leve cabelo loiro ou pelo menos dizer um oi.

Não sabia como fazer, só sabia que teria que arriscar tudo. O quê as pessoas pensariam de mim? Eu parecia outra pessoa me julgando:
- Que rapaz estranho, se apaixonar sem mesmo conversar com a menina...
- Quem é aquele cara que tentou paquerar a Júlia? Que bobão.
- Seriam um casal estranho.
- Ela nunca aceitaria o convite de namoro desse estranho. (...)

Tomar atitude foi fácil, o difícil foi superar a decepção. No final da aula fiquei determinado a dizer a Júlia o que sentia e que nós poderíamos nos dar bem. Me choquei quando vi e ouvi uma cena que parecia ser de novela:
- Vamos Júlia! O rapaz a beijou. Aqueles que pareciam ser os lábios mais doces dentre os mais doces do Universo. Ela pegou em sua mão e rapidamente olhou para trás. Nossos olhos se encontraram novamente. Os dela estavam felizes e lindos como sempre, os meus cabisbaixos e tristes. Ela ajeitou o violão em suas costas e seguiu com o rapaz. Talvez ele fosse o galã da novela de amor que Júlia precisava, mas nunca como eu poderia ser. Sim, seria prepotência minha achar ser melhor que um rapaz que eu conhecia ao alto. Não me bastava querer, eu tinha que conseguir o encanto desse amor.

Eu sentia que poderíamos dar certo, tinha o sentimento da certeza do amor. Mas como se fosse outra pessoa narrando um conto, dei fim a história. Assim aquele jovem romântico fraco, desligou a televisão da novela de amor de Júlia. A imagem dos dois desapareceu, apesar de ser diariamente vista. Fraco, foi dormir.


Quarta-feira, 27 de maio de 2009. Rodrigues, Kabe.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Birds

"Se você quer seus pássaros para sempre, trate-os bem. Cuide deles quando filhotes, ensine-os a voar quando jovens e liberte-os quando forem maduros e adultos. Eles voaram, desbravaram as mais altas montanhas. Irão mergulhar nos mais densos lagos e comerão as iguarias do futuro destino. Mas eles voltarão com as mais fantásticas historias, as mais belas imagens para descrever e com uma enorme saudade em seus braços."
kabe rodrigues hf.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Solte sua própria mão, levante da cama, respire por algo maior. Ajude a verdadeira mãe a manter mais de seus filhos vivos. Faça algo pela vida. Viva e deixe viver."

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

I feel like I am blind


Um giro de 90 graus. Água caiu sobre minha pele.
Um giro de 90 graus, parou. Peguei o sabonete, esfreguei tal rosto
familiar.
Tirei toda aquela tinta da cara. Limpei toda sujeira de outros em mim.
O sabão caiu em meus olhos. Incrível, me senti com a doce burrice
do preconceito. Cego, doía, mas eu apertei os olhos. Doía mais e mais.
Livrei-me, um giro de 90 graus.
Água caiu sobre meu rosto e pele. Agora me senti com o azedo sabor
do respeito. Limpeza espiritual, mais conhecida como higiene mental.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uma amizade de outono.



Uma folha de árvore seca e sem cor não é mais do que algo no chão para as pessoas. Sem dar a mínima para a variação do tempo que passa rapidamente, e nem para o clima disturbado por motivos implícitos. Não dão valor para essa estação. Ela só esta entre o calor do verão e o frio do inverno. Sem ser útil e também não inútil. É quase uma gravação das flores que brocham e desabrocham na primavera. Presa em um talvez e com certeza, sozinha, parece que viver assim é castigo da natureza. Vamos saldar o lastimável declínio da pureza, a amizade.
LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.