terça-feira, 6 de julho de 2010

Os Gigantes estão Chegando: Victória

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro, Capítulo 4: Augusto


—Acorda! Acorda logo! — Victoria acordou assustada. Ainda com a visão embassada, ela percebeu a irmã que estava sacudindo uma calça verde com toda força possível. Sonolenta, Victória não sabia o que fazer até que começou a ser golpeada pela irmã.
Arghh! Quem mandou você fazer isso com minha calça? Você é louca, guria? Vai se ferrar sua idiota!
— O quê? — esperneou
— Olha a mancha na minha calça. Olha o tamanho disso. — Um segundo foi o suficiente para que a irmã de Victória esfregasse a calça na sua cara. Como impulso ela se desviou e a agarrou com força com a intenção de distribuir toda sua raiva matinal na irmã. Os gritos se perdiam nos puxões de cabelo quando Victória recebeu um arranhão com de unhas no rosto e se preparava para socar a irmã, sua mãe apareceu apartando toda confusão.
— Que maluquice é essa? — gritou
Vad...
— Olha a boca! — Advertiu. Por que você está brigando com sua irmã?
— Eu? — Exclamou Victória.
— É essa maluca que manchou minha calça. Olha que ridículo isso, o que vou usar agora?
— É por isso toda essa briga? Me dá essa calça aqui e calem a boca. E você Ana, se ouvir mais um palavrão saindo dessa sua boca imunda. Você nunca mais vai por o pé na rua, entendeu? — Com força puxou a calça das mãos de Ana.
— E Victória, para de implicar com sua irmã. — Victória percebia o olhar de reprovação que recebia da mãe. Por muitas vezes era culpada por brigas que não começara ou situações que não estava presente. O sermão da mãe se repetia toda semana e o sorriso de Ana estampava cada vitória no tribunal materno.
Ao se virar, viu caído no criado-mudo o relógio-despertador-rádio que ganhara de aniversário dos seus amigos. Rosa com desenhos desbotados, era o único item quem não estava esparramado na pequena mesinha. Em vermelho ele mostrava ser 11:32am. Como em todos os sábados, Victória não esperava a hora de casa e, talvez, poder respirar longe da irmã.
O nostálgico cenário do supermercado pela manhã fazia Pedro lembrar mais dos pais. Uma semana e hoje finalmente voltavam para livrá-lo de sua tia. Empurrando o carrinho carregado de compras, tentava não se esforçar o suficiente para ficar bem distante daquela criatura irmã de sua mãe.
— Você pode vir mais rápido, Pe-dro?
— Sim, Tia. — Sem muita vontade, encostou o carrinho de compras ao lado da megera.
— Querido, será que você pode me fazer um favor? Ah, que besteira a minha. Você pode me fazer um favor sim. Não é mesmo? — Perversa, riu. — Vá buscar um desinfetante e esponjas novas. Assim podemos ir embora. Mas por favor, vá logo! — Pedro não podia fazer nada, pois em algumas horas estaria livre daquela mulher. A mulher que durante sete dias, desejou que estivesse morta no lugar de Estevan. Passando pelo corredor, Fabrício acompanha sua mãe nas compras. As mudanças repentinas em sua vida o fizeram não querer passar mais tempo com a mãe, já que as lembranças que rodeavam sua cabeça só o atormentavam em relação ao pai, um sentimento que não queria admitir. O pai havia o abandonado e, o pior de tudo, parecia não importar-se com tal frieza.
— Mãe, você pode indo. Te alcanço no caixa, tudo bem? — Sorriu.
— Ah, tudo bem. Filho, mas chega de comprar besteira. Já tem muita coisa aqui, sua namorada não precisa ficar gorda. — Fabrício não se recordava da última vez que ouvira uma piada de sua mãe. Agora que estavam tão bem, ele conseguia perceber que era o seu constante mau humor que impedia a família de um novo recomeço.
Dirigiu-se sutilmente para o lado da senhora de média estatura e cabelos tingidos de ruivo, a tia de Pedro.
— Bom dia... err... Senhora? — tentou soar gentil.
— Ah... Bom dia. O que você... quer? — com um olhar analítico, ela percorreu todo semblante de Fabrício e por fim, pareceu reprovar o jeito que o menino se vestia.
— Eu tentaria ser mais educado, mas acho que a senhora prefere algo mais direto. Então é o seguinte esquema. Eu quero que você comece a pensar no que fala para o meu amigo, entendeu? Ou talvez, se preferir, cale a merda da sua boca para sempre. Não tente culpa-lo pelas besteiras que você e o idiota do marido fizeram de errado. Não foram capaz de ajudar o próprio filho quando ele precisava mais?
— Quem é voc... — tentou interromper.
— Sem mais. Eu não entendo a droga que a senhora tomou ou que porcaria a senhora quer fazer da vida do meu amigo. Seja lá o que o seu filho foi; eu sugiro que você comece a se culpar e não o Pedro. Que... droga! Foi a única pessoa que tentou entender seu filho. E sinceramente? Espero que você vá para o inferno e, talvez, a gente se encontre lá. Por fim, ou você muda ou eu volto aqui e enfio esse pacote de macarrão na sua boca de fossa. — a raiva a paralisou, o que foi ótimo para Fabrício que estava com medo de atacar aquela senhora de cara arrogante no meio da seção de massas. Felizmente conseguiu conter-se.
— O que você vai querer comer? — perguntou Guto.
— Sei lá. Tanto faz. Eu só queria sair de casa.
— Pizza?
Ok. — os dois passaram a tarde juntos conversando sobre tudo que vinha à mente. Guto tentava aconselhar a amiga de todas as maneiras possíveis, mas a certo ponto a conversa sobre os problemas de Victória morreu. O clima triste pairava.
— Por que você ainda não está falando com o Pedro? — enfim Victória quebrava o clima de tristeza que Guto estava sentindo pela amiga. Porém, agora as dúvidas rondavam a conversa.
— É difícil explicar. Eu não sei o que dizer e não quero estragar as coisas...
— Por favor, ? Estragar o quê?
— A amizade.
— Mas está na cara dele que ele gostava e você. Daí você fica ignorando ele?
— Não é de...
— E quando você pretende falar com ele?
— Não sei — Guto estava sentindo que a Victória estava se alterando, estava demonstrando raiva.
— Desculpa. — Victória chorou — Eu não sei o que fazer, sabe. Desculpa brigar com você por nada, mas você tem a oportunidade de amar alguém e fica indeciso? As coisas eram mais fáceis quando a gente não sabia de nada.
— Eu entendo — respondeu Guto tentando consolar a tristeza de Victória.
— Quando a Cláudia estava mal... droga! Por favor, eu não quero ficar longe de vocês. É com vocês que eu me sinto bem. — alguns minutos em silêncio se tornavam horas abraçada com Guto.
— Não estrague tudo, Augusto. — tentou rir. Guto explicou tudo que sentia para Victória e os dois resolveram mudar o possível para não estragar a amizade que tinham com os amigos. Victória também prometeu mudanças e, decididos, seguiram para suas casas. — Você acha que eu devo falar com o Pedro agora?
— Não. Acho que os pais dele chegam hoje de viagem. Acho melhor você falar segunda antes da aula ou, sei lá, amanhã. A gente dá um jeito. — sorriu.

Victória chegou entrou no apartamento e percebeu um cheiro agradável vindo da cozinha. Estavam sua mãe e seu pai sentados na mesa de frente para Ana. O cheiro convidava-a para se sentar, mas ainda tinha dúvidas se era bem-vinda.
— Senta logo aí, sua chata. — brincou Ana.
— Filha, a comida está ótima. — seu pai nunca pareceu ser tão gentil quanto hoje, apesar de Victória sempre enxergar o pai como o homem mais cavalheiro do mundo, nunca imaginou que ele pudesse parecer mais agradável apenas pronunciando pouquíssimas palavras. Ao sentar ao lado da irmã, Victória percebeu que Ana estava usando a calça verde de mais cedo. Aparentemente a mancha teria saído, assim como sua raiva pela irmã caçula também. O alivio que sentiu depois de uma longa tarde de conversa com Guto, pareceu cura-la de todo ódio.

Ao mesmo tempo na casa de Fabrício, a conversa se estendia pela noite. Amanda e sua mãe estavam se entendendo muito bem e, juntas, tramaram para que Fabrício arrumasse e lavasse toda a louça do jantar, o que fez Fabrício se sentir bem mesmo com tanta coisa para limpar. Ele realmente estava amando aquela garota.

Pedro não entendia o silêncio em que sua tia mantinha durante o restante do sábado e também não se importava. Estava feliz por receber seus pais de volta. O casal atravessou a porta da frente com gigantescas malas e os maiores sorrisos do mundo. Depois de se acomodarem, se sentaram para jantar e insistiram para que a tia de Pedro ficasse, mas um simples olhar que ele deu para a mulher fez com que ela recusasse e, além de tudo, desejasse chegar ir para casa o mais rápido possível para se desbordar em lágrimas de arrependimento. Pedro estava livre.


— Filho, alguém quer falar com você. — o pai de Guto o passou o telefone — eu não sei quem é.
— Alô? — Guto não imaginava receber uma ligação durante o jantar. — Alô? — Guto repetiu. Ele e o pai jantavam tarde da noite, não era de costume receber qualquer ligação. Um murmuro quebrou o silêncio do outro lado da ligação.
Delinque... Filho de uma desgraçada, como você pode fazer isso com a gente? Minha fam... lia. — mais algumas palavras foram pronunciadas, mas Guto não conseguiu entender. A qualidade da ligação estava péssima e quem estava do outro lado da ligação aparentava estar alcoolizado. Por fim, a ligação caiu.
— Quem era? — Guto estava desnorteado e não soube responder o pai. Um sentimento de medo parecia esgana-lo com força.


Próximo Capítulo: Estevan

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Augusto

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro



Augusto estava dirigindo seu grande carro azul com toda atenção que alguém usaria para montar uma torre de cartas. Logo ele avistou uma enorme placa que indicava a saída da grande cidade, segundos depois a pequena tela do GPS apitou avisando o inicio do quilômetro oitenta. Com cuidado retirou a mão direita do volante e apertou um botão azul ao lado do aparelho. Um som engraçado soou e uma voz de secretaria eletrônica se pronunciou: quilômetro oitenta há uma hora do destino final. 14h34 pm. Pnnn.
— Pai! Por favor! — Augusto nunca se acostumara à mania que o pai, Augusto, tinha de ligar o speech do GPS. Há quatro anos que seu pai tinha comprado o novo aparelho, que muitas vezes não servia para nada.
— Filho, segurança é... Pnnn... Tudo. — em baixa velocidade, o carro fez a curva.
— Tá, mas a Cláudia não está bem e ... Pnnn... Tem como a gente chegar logo? — Cláudia estava encolhida no banco de trás ao lado de Guto, seu rosto estava com uma aparência mais suave apesar das marcas vermelhas e uma leve cicatriz no alto da bochecha.
— Não... tudo bem, Guto. Já é dem... — ela não conseguiu terminar a frase, sua garganta ainda rasgava quando tentava aumentar o tom da sua voz rouca.
— Ahnn, deixa de ser chato Guto. Ninguém, além da Cláudia, sabe onde fica a casa da vó dela. E o GPS não vai ajudar? Mesmo que... Pnnn... — interrompida pelo barulho irritante do GPS, Victória decidiu não terminar sua bronca diria ao seu melhor amigo que, sempre que possível, arranja algum motivo para implicar com o pai.
Meia hora depois o pai de Guto decidiu reabastecer o carro, sem qualquer necessidade, pois o carro ainda estava com metade do tanque cheio.
— Então, enquanto eu recarrego o...
— Reabastece — disse Guto, interrompendo o pai.
— Ah, enquanto eu reabasteço o carro, vocês vão querer alguma coisa da loja de conveniência? Alguma comida? Algo para beber? Talvez...
— Pai, só me dá o dinheiro ok?
— Tudo bem... Aqui está Victória, acho que você pode... — o pai de Guto mexeu a boca querendo murmurar algo para Victória, sem sucesso, pois ela não entendeu nada.
— Ah, ele vai parar de reclamar sim — disse. Cláudia e Guto saíram do carro, Victória abriu a porta e se impulsionou para perto do amigo.
— Cara, para de reclamar, você está falando mais que a merda do GPS! O seu pai não tinha que levar a gente para lugar nenhum, ele é maluco de tentar ajudar! E você ainda reclama? Eu sou sua amiga, mas isso não impede que eu te mate. Que saco! — irritada seguiu até a loja, deixando Cláudia e Guto parados ao lado do carro. Cláudia estava se sentindo mal por estar incomodado e quando estava prestes pedir desculpas pelo estresse de Guto, ele foi mais rápido.
— Não é sua culpa... é que... meu pai é um saco! — disse irritado.
— Não mais que o meu... né? — brincou
— Ahhh... é... desculpe.
— Tudo bem. Guto, posso te perguntar uma coisa?
— Uh, Claro — afirmou, sem mesmo entender o porque a amiga iria perguntar algo naquele exato momento. Um momento dos mais estranhos da vida dela.
— Por que você está assim, sabe? Estressado. E não é com seu pai, dá para perceber que você só... — Cláudia engoliu seco, tentando aliviar a dor da garganta, mas decidiu prosseguir mesmo sentindo dor — Sabe, descontando nele.
— Sério?
— Ahum.
— Não sei se é algo que... ah, nós somos amigos, né? E eu sou um idiota, eu estava conversando com o Fish e praticamente disse que ele era um merda. E o Pedro também, eu ignorei ele total... sabe... por que ... você precisa de ajuda...
— Acho... que a culpa toda aqui é minha, né? — Cláudia se sentia mal por causar tanta confusão e transtorno.
— Não! A gente sabe que não é sua culpa. Arghh! É que... merda... eu gosto do Pedro — Guto estampou uma careta que expressava dúvida. — Você... acha?...
— Estranho? — Cláudia riu.
— Guto, você lembra da festa daquela menina do segundo ano? Você fez do quarto dela uma festa particular — tossiu — e acho que sexo você fez com ela, a irmã dela... e o primo dela, não foi algo muito comum, né? Todo mundo sabe que você é bi... — Cláudia finalmente conseguiu expressar um sorriso verdadeiro desde o inicio viagem.
— É... mas... — Guto não sabia o que dizer, então riu. Os dois pareciam se entender muito bem e ao mesmo tempo Cláudia riu.
— Grande festa, né? — disse rindo. Victória entregou uma garrafa de suco de frutas vermelhas para Cláudia e uma sacola para Guto, cheia de pacotes de doces e mais coisas que Victória gostava de comer.
— Vocês estavam rindo muito. O quê era? — perguntou, abrindo ao mesmo tempo um pequeno pacote de alcaçuz cítricos.
— Ah, na...
— O Guto gosta do Pedro — interrompeu Cláudia.
— Sério? — Victória riu.
— Ahh — Guto murmurou envergonhado.
— É, um dia ele ia escolher algo, né? Ia parar de ficar sempre com três — Cláudia demonstrou uma animação que jamais tivesse mostrado para seus amigos. Victória colocou o braço sobre o ombro de Cláudia e sorriu para Guto.
— Amigo, todo mundo sabia...
— Ah, para vai. Ninguém sabia... eu nunca disse — contestou
— É, mas eu já sabia. Lembra você a primeira vez que o Pedro ficou caído de bêbado? E eu, a Cláudia e ele tivemos que dormir na sua casa?
— Ahhh não! Voc... — Guto nunca ficava envergonhado com as coisas que fazia nas festas que ia com os amigos, muitas vezes ficava com todo mundo que quisesse e bebia sem ter vergonha das conseqüências.
— Eu vi você beijando ele. O que foi nojento né, amigo. Ele estava bêbado. — o que Victória disse fez Cláudia rir da situação constrangendo que o amigo estava.
— E você já ficou com todas do terceiro, e mais algumas pessoas do segundo, né? Poderia ter muito bem ter... você sabe — Victória riu.


— É ela — Fish apontou para uma menina loira que estava subindo a escadaria da escola. Quando ela se aproximou, eles trocaram um longo beijo que deixou Pedro constrangido. — Hein, tem certeza que não quer vir com a gente? Ah... essa é a Amanda.
— Prazer... Amanda. — Pedro tentou cumprimentar a garota, mas o máximo que conseguiu fazer foi um singelo movimento com a mão.
— Vamos cara, a gente só vai no shopping... no cinema, comer... essas coisas — Fish incentivou o amigo a manhã inteira, e sua insistência foi tanta que acabara convencendo-o.
— Ah... okay... mas preciso ir em casa primeiro.
— Não precisa, a gente pode deixar as coisas no carro. — Amanda disse.
— É, cara... — Fish sorriu, o que fez Pedro perceber que pela primeira vez Fish parecia estar completamente feliz e... controlado. Se quer lembrava o cara arruaceiro e aborrecido de sempre, não parecia ser Fish. Talvez tivesse se tornado no Fabrício que ninguém conhecia.
O dia estava sendo agradável para todos. Pedro parecia gostar mais de Amanda, a menina que conseguiu mudar seu amigo em alguém mais legal do que era. A menina magra, loira, que vestia um vestido estampado com um enorme decote em formato de coração nas costas e uma galocha cinza, não parecia mais uma menina bonita e estranha. Agora ela aparentava ser bonita e estranhamente legal. Pedro se sentiu livre em contar o que estava acontecendo em sua vida para o amigo e namorada. Fish, agora Fabrício, parecia entender o que o amigo estava sentindo e tentava aconselha-lo em tudo que podia. Amanda também tentava ajudar em tudo que podia. E o mais importante, Pedro se sentia aliviado em poder contar para alguém o que estava sentindo e ter alguém disposto a conversar e tentar ajudar, assim como os dois novos amigos estavam fazendo. Um novo velho amigo e uma nova amiga.


— Então quer dizer que você estavam rindo das fotos do Pedro nu? No note do seu pai? — Cláudia riu, ela parecia não acreditar que Guto tinha feito isso com o amigo. Fotografado um momento ridículo daqueles. Mas mesmo assim, ela continuava rindo.
— E ainda tinha um vídeo dele conversando com o Pedro. Aquele notebook está cheio de relíquias da gente bêbada. — Victória riu.
— Ei.. crian— o pai de Guto excitou quando percebeu que ia dizer crianças, então tentou disfarçar — nos já vamos.
— Okay pai. — Guto tentou parecer o mais gentil possível, mesmo tendo pronunciado apenas duas palavras. O restante da viagem foi muito agradável, a conversa dos amigos seguiu mesmo com o barulho continuo do GPS. Eles não perceberam que já tinham chegado ao apartamento da vó de Cláudia até o carro estacionar em frente um prédio azul e branco. Eles interfonaram a Vó Dolce, como Cláudia à chamava, e já no apartamento tiveram uma longa conversa com a senhora que se vestia elegantemente. Vó Dolce tinha uma aparência jovem, aparentava se cuidar bastante. Longas horas de conversa e Victória e Guto explicavam o que tinha acontecido, enquanto o pai de Guto ficava apreensivo com a resposta da senhora. Depois de Cláudia expressar o que estava sentindo, sua avó disse:

— Você sabe que sua mãe vai perceber que você não está em casa quando chegar, né?
— Sim, vó... — respondeu
— Minha filha é uma péssima mãe em deixar isso acontecer com você. Deixar seu pai te culpar pelo acidente de carro que ela sofreu quando estava grávida, é o maior absurdo que ela poderia ter feito. Você pode ficar aqui comigo o quanto quiser, mas nós teremos que resolver isso... — A despedida de Cláudia foi recheada de agradecimentos aos amigos, agradecimentos que se perdiam em lágrimas continuas. Um bom tempo depois, Guto e Victória estavam se despedindo de dentro do carro para Cláudia, tentando esconder a tristeza de deixar a amiga longe.

— A gente te ama... — Guto gritou.
— E para de tomar gim! — Cláudia riu, Victória mandou um beijo dramático da janela do carro para a amiga. Talvez o último beijo que ela receberia da amiga viciada em gim com frutas.




Próximo Capítulo: Victória

sábado, 12 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Pedro

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— Eu passei a noite preso e vocês não estavam nem ai! Vai a merda — Fish gritou
— Foi mal, ok. Você já pode calar a boca, todo mundo aqui ouviu. — Augusto não sabia como explicar como ninguém notou a falta do amigo depois da desastrosa festa. Na verdade, Fish não era uma boa companhia, sempre irritado e com piadas idiotas. Augusto achava que o amigo era egocêntrico demais para pedir ajuda, mas Fish realmente estava triste por ter sido esquecido e privado de ajuda.
— Pensei que você tivesse ido para casa. Todo mundo foi... desculpa — disse Pedro lamentando o que aconteceu.
— Ah, que se foda! — Fish se levantou e seguiu para sua classe sem deixar qualquer espaço para outros pedidos de desculpas. Ele era o único do grupo que não estudava mais na mesma sala. No inicio do ano foi transferido para o 3MC por mal comportamento, o que os professores nomeavam na ficha escolar de ABR/CI (Aluno com Baixo Rendimento e Comportamento Indevido) . O sinal tocou e todos os alunos se dirigiram para suas classes. A professora de biologia estava demorando mais do que de costume para chegar, mas de repente ela adentrou a sala e antes mesmo de organizar-se em sua mesa disse:

— Augusto? — perguntou balançando a cabeça para encontrar o aluno.
— Sim — respondeu levantando a mão.
— A Coordenação mandou informa-lhe que você tem uma visita na sala B do secretariado. O senhor pode ir, mas não demore muito. Quero vê-lo aqui antes do termino na aula. Entendido? — advertiu Augusto, muito conhecido por demorar em suas idas ao banheiro e saídas repentinas.
— Ah-h... sim!? — levantou-se e rapidamente saiu da sala. Pedro não entendeu o motivo da visita, mas algo despertava uma profunda preocupação com o amigo.
A vida escolar de Pedro não era conturbada, sempre recebia avaliações altas dos professores. Os únicos problemas que vinham estampados em seu boletim eram faltas excessivas nas matérias de Educação Física e Lab. de Química, que costumava matar com os amigos.
Vários minutos depois Augusto retornara e apreensivo com a demora logo se sentou.
— O que foi? — Pedro rapidamente perguntou.
— Ah... era a Vicky... Mas...
— O que ela queria? Por que ela não me...
— Não era nada demais. Ela queria falar comigo. Só isso — Augusto interrompeu tentando desconversar. Pedro desconcertou-se na cadeira sem saber o que dizer para obter uma resposta.


No fim da manhã Pedro sequer viu Augusto indo embora, talvez tivesse demorado demais para recolher os materiais, mesmo portando apenas um caderno e alguns livros. Na escadaria da escola encontrou-se com Fish.
— Você viu o Guto? — perguntou
— Sei lá. Por quê? — Fish respondeu com tom de desdenho.
— A Vicky apareceu na escola e parece que aconteceu alguma coisa. Não sei, ele não quis contar. E depois quando a aula terminou ele sumiu. — disse apreensivo.
— Talvez ela tenha chamado ele para f...
— Haha — Pedro fitou os olhos de Fish e pareceu desprezar toda presença de Fish em sua vida, que logo percebeu o incomodo do amigo e decidiu ir embora sem qualquer cerimônia de despedidas. Chegando em casa, Pedro correu para o quarto e quando estava subindo as escadas ouviu sua tia chamá-lo.
— Pedro, querido! Venha cá. — exclamou. Ele tentou ignorar, mas sua tia logo apareceu no hall e observou o que o sobrinho estava fazendo.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou. Sem entender, Pedro respondeu
— Eu... eu estava indo para o meu quarto.
— Não, querido. Você vai almoçar antes. Venha.
— Então vou tomar um banho antes. — continuou a subir as escadas.
— Não! Você vai almoçar agora, depois você faz o que quiser. — o tom de voz de sua tia expressava sua raiva repentina. Pedro então largou sua mochila na escada e se dirigiu para a cozinha. Rose estava secando a louça e quando percebeu a presença de Pedro lançou um olhar de tédio para a tia do garoto. Pedro sorriu.
— Aqui está. — em sua frente estava um prato enorme de comida. Um pequeno filé de frango sumia dentre uma enorme quantidade de salada de grão-de-bico. O arroz era o único elemento que compunha a refeição que não o causava náuseas.
— Eu não... err... Acho que perdi a fome, tia. — tentou justificar a cara desagradável que fez para o prato.
— Roseanne, querida. Você pode ir na área de serviço verificar se a roupa que está na máquina já está lavada? Por favor? — Rose secou as mãos na toalha de prato que estava ao lado da pia e se retirou da cozinha.
— Obrigada — disse. A tia de pedro contornou a mesa e, bem próximo a Pedro, sussurrou:
— Você pensa que não sabemos o que você fez com nosso filho? Meu marido ainda lamenta a morte do nosso querido filho, e tudo por sua culpa. Como você pôde fazer isso com a gente? Você é um mulequinho depravado, que acabou destruído uma familia inteira. Se eu fosse você e quisesse continuar guardando esse segredo dos meus pais, eu levaria esse prato para meu quarto e o enfiaria todo em minha boca sem reclamar. Você entendeu? — Pedro sentiu suas pernas adormecerem, levou longos segundos para se levantar e recolher o prato da mesa.
— E outra coisa querido. Pare de enviar mensagens depravadas para outros meninos na internet. Os pais deles podem ler. E você pode se dar muito mal. Se é que você me entende — após concluir sua sentença, a tia de Pedro sentou-se e começou a cortar violentamente um pedaço de carne de frango.


Isso pode parecer estranho, mas tenho uma coisa para te contar. Espero que você não me ignore depois do que vou te dizer, P. Acho que depois do domingo passado, não consigo mais parar de pensar em você. É estranho!! Não sei se você sente a mesma coisa... mas acho que estou apaixonado por você. E, Pê, não vejo a hora de poder te beijar de novo.
Ahhhhhh, outra coisa.... fiquei com seu anel. É um motivo genial para você vir me visitar aqui em casa. Prometo que aviso quando meu pai passar o dia fora. Ninguém vai chegar e acabar com o clima... bjosss.....

Recebido em 23 de Julho de 2008. Enviado por: Estevan C. Albuquerque.

Em seu Gmail Pedro tinha um grupo nomeado "E" onde guardava alguns dos emails que recebera do primo. Fazia um ano que não os relia, o que fez por várias vezes no ano passado quando soube da morte do primo. Juntos, eles mantinham um relacionamento secreto desde fevereiro de 2008.
Desesperado Pedro apagou todo os seus registros de conversa e , por horas, tentou apagar os emails do grupo "E", mas não conseguiu. A imagem de Estevan rondava seus olhos e o espremia em angustia, uma dor mais pesada da que sentiu quando observou o caixão do primo sendo enterrado. Mas, apesar de tudo, não conseguia entender porque só agora sua tia descobrira tudo. Talvez tivesse vasculhado o computador do filho procurando lembranças... ou... o que Pedro desconfiava tivesse vindo à tona.
Uma vez Pedro estava com Estevan no shopping, eles tinham marcado um encontro rápido por sms. Estevan estava matando aula no cursinho pré-vestibular, mas parecia ter se arrumado categóricamente para o encontro. Ele trajava uma camiseta preta preta por baixo de uma jaqueta cobre e uma calça manchada azul. Pedro sempre fazia piada com a calça de Estevan, pois ela parecia ter sido mal lavada ou bombardeada por balões de tinta branca, mas o marcante era o perfume que ele sentia quando estavam juntos. Parecia fluir de todo lugar e hipnotizar-lo. Estevan sempre chamava a atenção das meninas, o que deixava Pedro desconfortavel, mas Estevan não se importava. Gostava de passar os dias com o namorado secreto. Nesse dia Estevan foi chamado atenção por uma jovem menina que lhe entregou um papel com o email aparentemente da amiga que estava sentada quatro mesas a frente deles. Pedro, tímido, resolveu confessar que não havia gostado da atenção que Estevan deu ao recado. Foi então que Estevan colocou a mão em cima da de Pedro e o puxou dando um breve e doce beijo. Até que o celular de Estevan tocou o que ele disse ser o pai após atender. Pedro observava-o responder o pai, quando percebeu que o tio parecia estar do outro lado da praça de alimentação, provavelmente observando toda a cena. O tio rapidamente se retirou do local, logo mais, Estevan anunciou que precisava ir para casa pois não entendera o porque o pai estava preocupado e para que precisava conversar com filho. Pedro ficou nervoso, mas tentou explicar que achava que tinha visto o tio na praça de alimentação.
Longas horas depois de conversas sobre o que poderia acontecer, Estevan disse que isso um dia iria acontecer e que não conseguiriam esconder por mais oito meses.
Eu resolvo isso, pode ficar tranquilo. Eu te amo e farei de tudo para que possamos ficar juntos. Talvez não seja nada demais, mas sonho que vai ser sempre assim. Eu e você juntos para sempre.

Uma semana depois a comunicação entre os dois parece cada vez mais difícil, e um mês depois Estevan noticiou que o pai o mandara para fazer faculdade no exterior, que ele iria morar com uns tios no Canadá. Os dois tentavam trocar mensagens e até telefonemas, mas era praticamente impossível, graças a grande vigilância que os tios tinham sobre ele. Estevan dizia estar sofrendo e não aguentar a distancia, a cada palavra triste que Pedro lia nas mensagens cortavam sua respiração e partiam seu coração. Até que Estevan fugira de volta para o Brasil. E uma semana depois de ficar em casa preso, pelo pai, sem qualquer contado com Pedro, foi encontrado morto no banheiro do quarto. Dois dias depois de chegar ao Brasil, Pedro recebera uma sms dizendo 'Meu pai não quer me deixar sair. Não sei o que faço, não consigo viver sem voc...'
Pedro sentiu-se horrível por não ter respondido a sms, mas o sentimento que o destruiria cinco dias depois seria pior, quando encontraram o corpo de Estevan no banheiro, enforcado. A culpa o asfixiava, assim como o amor fez a Estevan.


Pedro fitou os olhos na tela do computador e leu:
...Não importa! Você sabe que especial para mim. E a gente vai ficar, tudo vai ficar bem.
p.s.: Eu te amo... assim como no filme. :)

Próximo Capítulo: Augusto

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Cláudia

Gigante anterior: Fish


Os insultos se perdiam no gritos de desespero de Cláudia. Sem saber para onde olhar, ela tentava se proteger dos ataques que sofria do pai.
—Por favor.... por favor pai... — exclamava desesperadamente. Sem saber por quanto tempo estava implorando por misericórdia, e o quanto já havia chorado. Cláudia resolveu gritar por socorro.
— Você quer ajuda? É isso? — Por um breve momento os socos e tapas pararam. Quando Cláudia conseguiu abrir os olhos, segundos depois de focar a visão, observou seu pai trancando a porta do quarto.
— Você é uma vagabunda! Tantos anos de trabalho para te sustentar, pagar a escola que você estuda. Você tem tudo, você não passa fome. E você me dá apenas desgosto? Por quantas vezes vou precisar te ensinar a ser gente? Você deveria ter vergonha de se considerar alguém, sua .... — Antes de se preparar para continuar mais uma serie de insultos à filha, ele foi brutalmente interrompido por um grito de revolta que jamais imaginaria receber da filha.
— Tudo que você faz é porque me culpa pela morte do seu filho! Eu não tenho culpa do aborto da... — Cláudia estava prestes a se arrepender do que estava dizendo, quando seu pai fechou o punho e com toda força possível socou-a no rosto. O choro agora sobressaia-se pela casa. O rosto infernal do pai não transmitia qualquer emoção além de ódio pela filha.
— Você nunca mais repita isso, vagabunda! — Gritou. Já fora do quarto, ele ouvia a filha chorar. Parado no corredor ele emitiu, em tom de ordem, que ela parasse de chorar. Segundos depois, um silêncio comovente se possuía da casa. Inexorável, ele tomou fôlego e aliviado se distanciou do quarto.

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Assim, teoriza o filósofo genebrino Rousseau, grande idealizador da ... "
Enquanto o tédio destruía a sede de conhecimento de alguns alunos, que pareciam mais entretidos com seus fones de ouvido e outras atividades que não envolviam a aula de filosofia, Victória tentava conversar com Pedro sem chamar a atenção do professor. O quê não era uma missão difícil pois o professor estava fixado na narração do seu livro entediante da historia da formação da política.
— E seus pais? O que falaram quando você chegou em casa com a policia?
— Perguntou, soando como um rato.
— Putz! Acho que o pior foi eles não terem se importado muito. Disseram que eu vinha envergonhando toda a familia, e se eu não me comportasse, eles não se preocupariam em me buscar ou atender algo que fosse em minha relação. — Victória expressou um olhar triste, pois sabia o que era não importar em relação à familia.
— E a viagem de lua-de-mel?
— Eles viajaram mesmo assim. Agora tenho que ficar em casa com a empregada e acho que minha tia vai passar a semana lá. — A conversa pareceu desaparecer inexplicavelmente. Quando os olhares se voltaram para o quadro no qual o professor acabará de encher com um texto ilegível, o sinal soou e todos saíram da sala desesperadamente.
— Até a próxima aula — Lamentou o velho professor.

Sentados ao redor da mesa da lanchonete do colégio, Victória e Pedro sentiam uma ligeira falta dos amigos. Foi quando um menino passou ao lado da mesa e acenou para Pedro que respondeu singelo.
— Quem é esse?
— Um amigo do 3MC. — respondeu sem se importar muito com a pergunta.
— Esse idiota de calça laranja é do terceiro ano? — Ironizou. Pedro riu.
— Ele nem é tão idiota assim vai.... okay, ele parece um. — Os dois riram aparentemente animados por tirar sarro do menino magrelo de calça laranja.
— Por que será que o Guto não veio hoje? Será que a encrenca foi maior na casa dele? — Perguntou aflita.
— Acho que o pai do Augusto deve ter soltado leões em cima dele. A síndica do prédio deve ter contado tudo para o pai dele daí o Guto se ferrou. Ou sei lá... não quis vir à escola. — disse Pedro lamentando.
— Se com o Guto aconteceu isso, a Cláudia deve ter ficado de castigo até ficar velha e recuperar a virgindade. — disse Victória tentando deixar a conversa menos pesada.
— Nossa — Pedro começou a rir.


Pedro subiu as escadas correndo. Chegou no quarto e ligou o computador desesperado. Enquanto o computador carregava Pedro trocava de roupa. Ao invés do uniforme azul do colégio, agora trajava uma camiseta cinza e um short verdade, porém ainda estava com as meias que adorava. Uma vez Pedro chegou à comprar sete pares de meias brancas com três listras superiores de diversas cores. Quando sentou-se na poltrona em frente ao computador, sua empregada inclinou-se na porta.
— Oi Pedro, tudo bom? Sua mãe ligou e mandou avisar que chegou bem em Gramado. Ela falou um monte de coisa, eu nem me lembro mais.
— Tudo bem, Rose. Tanto faz.
— E você menino, vai querer comer hoje? — Rose trabalha na casa dos pais de Pedro há mais de cinco anos e sempre se incomodava em perguntar para Pedro o que ele gostaria de comer, mesmo sabendo que ele não iria exigir nada. Raramente almoçava, mas sempre agradecia pelo trabalho que Rose tinha em perguntar o que ele gostaria de comer.
— Nem estou com fome. Sei lá, depois eu desço e como alguma coisa. Mas obrigado Rose.
— Ah... Sua Tia ligou e disse que chega à noite. Ela vem hoje mesmo. — informou
— Aff..
— Então... era só isso mesmo. — Rose se virou e seguiu despretensiosa a escada.

No desktop de Pedro uma enorme imagem de alguma banda de rock desaparecia embaixo de tantos ícones que ele raramente cliclava. Enquanto carregava o browser da internet, Pedro percebeu um som baixo ecoando do andar abaixo, era Rose que iniciava seus trabalhos domésticos guiados por qualquer banda de sertanejo ou músicos que morreram antes mesmo da criação do CD. Rapidamente o gtalk de pedro começou a piscar, chamando sua atenção. Era Augusto animado em contar tudo que aconteceu ao amigo.

• Guto: Cara!!!! Você não sabe a merda que a gente quase pisou! LOL
Meu pai virou o capeta aqui. Começou a lamentar a ausência e blá blá´
disse que não sabia de quem era a culpa do que aconteceu, ainda quis ter uma conversa de homem para homem. HAhshHa
A sorte foi que o cheiro do cigarro não deu para notar o da maconha. A síndica nem entrou nem nada
Consegui esconder o restinho que sobrou mas tive que jogar fora!!!
Aquela velha ainda cobrou uam multa do meu pai
• PedroA.: Hahhshah, sortee!
Seu pai não te colocou de castigo. Então porq você não foi pra escola hoje?!
• Guto: Aff
Ele inventou de me levar num psicólogo. Agora tenho consulta três vzs na semana.
E o lugar lá é super tenso.... muito tédio
• PedroA.: HahahHAhA agora você vai se consultar e vão te tratar como louco
• Guto: Nem vou, Pedro. Nem vou aparecer lá. Dinheiro jogado fora... sou mais gastar em outra festa
E com você, no que deu?
• PedroA.: Nada demais....
• Guto: E as meninas? A Vickyy e a Cláudia? Tenso
• PedroA.: Com a Vicky nada tambem. Ja a Cláudia eu nem sei. tambem nem foi para a escola hj
• Guto: Serio? Sera que o pai dela brigou muito ?
• PedroA: Acho bem provavel... ele é muito idiota...
A conversa se estendeu até o fim da tarde. Até que Augusto teve que sair para fazer compras com o pai. Pedro também tinha conversado com Victória, mas ela logo teve que sair também. Ele recebeu uma sms da amiga que dizia "Aff.. Tive que sair, a idiota da minha irmã queria usar. Que raiva!!! ouh, vou na casa da Cláudia ver como ela está... qlqr coisa me liga". Pedro respondeu-a com uma breve mensagem "Não posso. Minha tia idiota vem pra cá hoje. Alguem me mata porfavorrrrr".


Victória esteve poucas vezes na casa de Cláudia. Talvez seis vezes ou menos. Uma delas ela conseguia se lembrar bem. Foi no aniversário de Cláudia em maio do ano passado. Ela tinha organizado um encontro para os amigos. Dez pessoas no máximo estavam na cozinha conversando e comendo pizza enquanto a Mãe de Cláudia, a senhora Marta, estava sendo educada e servindo todos com a maior atenção do mundo. Victória e Augusto resolveram passear pela sala e observaram a falta de quaisquer retratos nas paredes ou nas estantes. Nada além de velhos quadros de pintores que eles não conheciam e os grandes móveis decoravam a espaçosa sala. Quando foram interrompidos pelo pai de Cláudia, que aparentemente não havia gostado dos amigos da filha xeretando sua sala. Ele de dirigiu a cozinha e depois de alguns sussurros no ouvido da mulher, ela informou que a festa tinha que acabar, pois estava ficando tarde. Cláudia pensou em lamentar, mas seus olhos encontraram os enormes olhos do pai, que fizeram ela mudar de ideia rapidamente. Desde então foram raros e rápidos os encontros na casa de Cláudia.
Victória se sentia desconfortável na luxuosa casa. Talvez pelo tamanho ou pelo clima ruim que sentia toda vez que entrava lá. Victória percebeu que a persiana do quarto de Cláudia estava aberta, isso significava que ela estava em casa. Sem tocar a campainha entrou pelo portão e bateu à porta. Logo foi atendida pela Senhora Marta.

— Ah, olá Victória. — disse a Senhora Marta aparentemente surpresa pela visita.
— Oi... Eu posso falar com a Cláudia? — perguntou tentando soar como uma princesa da corte britânica.
— Creio que não, querida. Ela não está. Sinto muito.
— Como ela não está? Acabei de ligar para ela! — mentiu
— Acho que houve um eng...
— Não... Eu quero falar com ela. Por favor. — Victória não soava mais como uma menina educada, sabia que não conseguiria falar com a amiga se deixasse a Senhora Marta achar que a enganara.
— Depois do que vocês fizeram, meu marido não quer que... — enquanto a Senhora Marta tentava justificar a proibição do encontro casual que Victória estava tentando ter com a amiga, se irritou e em tom pressionou a porta.
— Você não vai falar com ela — a Senhora Marta exclamou, sem muito sucesso.
— Então ela está aí!? — Victória driblou a mãe de Cláudia, rapidamente seguiu pelo corredor e subiu as escadas. Logo atrás a Senhora Marta a seguida emitindo alguma frase que Victória não estava querendo ouvir, então ignorava. Apressou-se e então girou a maçaneta da porta do quarto da amiga. Victória parecia não acreditar no que via. Um sentimento desconhecido começava a apertar suas entranhas e sucumbia suas pernas em agonia. Cláudia estava em pé surpresa por ver a amiga ali, no seu quarto. Seu rosto estava marcado por arranhões e demasiadamente inchado. Sua sobrancelha ressaltada por um enorme inchaço preto. O silêncio desesperava cada vez mais Victória. Por várias segundos tentando se mexer e fazer ou dizer algo, mas nada conseguiu. O dissabor transbordou-se em forma de lágrimas nos olhos castanhos de Victória. De repente a Senhora Marta puxou-a com força, dizendo que ela não poderia estar ali. Por algum tempo Victória resistiu, mas a mãe de Cláudia conseguiu tirar ela do quarto e expulsa-lá de sua casa. Já na calçada Victória voltou a olhar para a janela do quarto da amiga que logo foi fechada, de maneira brusca, pela Senhora Marta.




Próximo Capitulo: Pedro

terça-feira, 8 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Fish


O caminho para colégio não parecia tão longo quando Fabrício, mais conhecido como Fish, estava distraído com seu mp3 no volume máximo. Os fones de ouvidos verdes estouravam um zumbido alto. Fish nunca teve quaisquer aparelho tecnológico além do mp3 que pegou emprestado do seu amigo de classe Pedro. Na metade do caminho ele decidiu entrar na padaria que sempre frequentava com seu pai, antes da separação que completava três exatos anos hoje.
—Iai, Julião... bom dia! — gritou para o velho senhor atrás do balcão. Sr. Júlio era o dono da padaria, morava há mais de 50 anos no bairro e não tinha uma boa audição.
—Bom dia, menino. Veio comprar o de sempre? — perguntou abrindo um longo sorriso desdentado pelo tempo.
—Claro. — Sr. Júlio estendeu o braço para pegar a caixa de cigarros que ficava na prateleira que ficava acima do balcão quando foi interrompido.
—Hmm, será que o senhor não tem o Marlboro Light?
—Light? Deixa eu ver... — Sr. Julio se levantou da cadeira com dificuldade e se virou. Do bolso tirou um molho de chaves e abriu um pequeno armário de vidro onde estocava os cigarros e os isqueiros que vendia. Aproveitando a distração do senhor, Fish pegou um bolinho de baunilha que ficava em uma pequena caixa ao redor do balcão. Quando decidiu encher a mão de chicletes de menta percebeu que uma menina, que tomava um xícara de café logo ao seu lado, o observava. rapidamente colocou tudo dentro do bolso-canguru do moleton roxo e sorriu ironicamente.
—Aqui está! — Exclamou com uma voz falha.
—Ah, valeu.
—Sabe rapaz, você deveria parar com essa desgraça. Olha o que isso fez com o velho aqui!— Sentou-se na cadeira, aliviando o corpo pesado.
—Magina. Eu sempre paro por 6 horas quando estou dormindo. Todos os dias... — Fish começou a dar passos em ré, agradecendo com a mão que segurava os cigarros.
—Julião, põe na conta da minha mãe! Valeu? — Ao apressar o passo, antes de sair na rua, piscou descaradamente para loira que ainda o observava. Ela estendeu a mão para mostrar o dedo maior, mas Fish já estava correndo pela rua.


Todos estavam sentados na escadaria em frente ao colégio. Em sentido horário estavam Cláudia, Pedro, Vicky e Augusto. De repente eles foram bombardeados por uma enorme quantidade de chicletes de menta.
—Ai... — gritou Cláudia
—Que merda é....
—Quem não quiser chiclete pode pegar e me devolver, então. — Fish subiu um degrau e sentou-se do lado de Augusto.
—Cara.... tem como você devolver meu mp3? — disse Augusto.
—Tááá... que saco. — Após retirar todo o fone de ouvido do moleton e jogou, sem cuidado qualquer, em cima do colo do amigo.
—O que vocês estavam tramando, ai?
—Matar aula para comemorar o aniversário do Pedro. — respondeu Vicky.
—Mas se a gente for mesmo fazer uma festa agora, tem que ser rápido antes que o... — Um enorme barulho de alarme rondou todos os ouvidos. Era o alarme do inicio das aulas.
—Agora? — disse Fish.

A sala do apartamento de Augusto estava tomada por fumaça. O som estava fazendo com que as taças de cristal que ficavam suspensas no armário do bar tremessem. Augusto estava deitado no canto do tapete fumando um cigarro de maconha mal feito que se desmanchou na segunda tragada. Vicky e Pedro estavam esparramados no sofá rindo de algo que viam no notebook do pai de Pedro. Parecia ser algo tão engraçado que Vicky quase derrubou o copo com vodka no sofá.
Fish colocou um quarto de licor de cereja em um copo e completou com Absolut Vodka. Quando terminou percebeu Cláudia mudando a música no som. Uma batida viciante acompanhada de um estrondo de guitarra começou a soar e Cláudia de repente começou a cantar junto com a música: Play it so safe to stay on top. Shake it, imitate it, but it still sounds old...
Fish ficou observando por alguns segundos Cláudia enlouquecer e se balançar sem qualquer controle. Vicky e Pedro gritaram. Fish derrubou o copo no chão e correu para perto de Cláudia. Ele a agarrou e a beijou com tanta força que seus lábios foram espremidos um contra o outro. Fish subiu sua mão da cintura de Cláudia puxando sua camiseta de malha branca. Em segundos Fish já estava sem o moleton, com a calça desabotoada e usando só uma regata velha. Cláudia, já sem camisa, estava com um sutiã rosa fosforescente. Enquanto beijava Fish, contorceu-se para desgrampear o sutiã quando a campainha do apartamento tocou. Antes que alguém pudesse parar a música ou pensar em atender quem estivesse na porta, ela se abriu. Lá estavam Senhora Almeida, síndica do prédio, ao lado de um policial.


A campainha soou no silêncio da casa. José Alpher, dono da grande casa abriu a porta quando para sua surpresa um policial o esperava. Logo ao lado estava sua filha, Cláudia, encolhida e de cabeça baixa. Cláudia estava o batom manchado que contrastava com o roxo do moleton que pegou de Fish.
—Senhor? Essa garota disse morar aqui? Você a conhece?
— Eu....
— Gaguejou. Senhor José tinha exercido por 35 anos o cargo de Coronel na Força Aérea Brasileira. Expressou sua raiva, que jamais viverá em todos os seus anos de serviço militar, em um olhar direto para Cláudia.
— Ela estava em uma festa em pleno horário escolar no apartamento de um individuo que ela disse ser amigo da escola. E que o senhor estava ciente... — Enquanto o Policial desenrolava as mentiras de Cláudia havia contado para amenizar sua situação, o desespero fez com que ela derramasse uma dolorosa lágrima. Por segundos segurou a respiração desejando não estar lá, mas a situação só a desesperava mais.





Próximo Capítulo: Cláudia

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Terra

TERRA s.f. 1. O planeta em que habitamos. 2. A parte sólida do globo terrestre não ocupada pelo mar.

Está é a definição de "terra" que encontrei em meu velho dicionário, da escola da pré-escola. Mas isso não é o importante. Hoje eu presenciei como a terra cobriu Minha Vó, Dona Dalva. Eu me sento mal por não gostar de últimos momentos, talvez por ter presenciado só dois enterros. Este foi o segundo. Não sei se vou me acostumar, mas não quero gostar desse momento triste. No Templo, onde todos estavam, fiquei estagnado. Não sabia com quem falar, como falar e, nem muito menos, o que falar. Logo depois, sentado na ultima fileira de cadeiras pretas e acolchoadas, me senti distante. Mais distante de quando, por brigas, me distancio da familia. E esse momento que nas novelas e filmes costuma unir e animar as pessoas, me fazia sentir mais distante. Mais, mais e mais. Foi quando anunciaram "Para todos que não se despediram, por favor, este é o ultimo momento até...". Eu não tive coragem até então para chegar perto do caixão. Foi quando me levantei e decidi ir até lá. Por um tempo, em pé, esperei que todos me dessem passagem. Como ultimo adolescente por perto, encostei no caixão e pensei em dizer algo, toca-lá com um toque doce, o mesmo que ela tinha quando me abraçava, mas eu não pude; o desespero foi maior. O mesmo desespero que comprimia minha cabeça e me encolhia na cadeira, apertou meus olhos e então, pela primeira vez neste dia, chorei. Minhas mão esquerda subiu até minha cabeça, e descontrolada, não sabia seu rumo. Me virei... Percebi que, como tinha ouvido antes, Dona Dalva estava linda. Como se tivesse dormido depois de um encontro feliz com todos que amava. Típico, pois ela é a pessoa mais feliz que conheço.

As dúvidas depois foram inevitáveis. Porque as pessoas esconderam seus olhos pesados por lágrimas com óculos escuros? Não era um esforço necessário? Porque tudo que se comentava seguia para aquele rumo final? Poucos comentavam coisas que terminavam com sentimentos bons.
Algumas respostas, para perguntas que ainda não consegui formular, me completaram o vazio. Eu ainda não aprendi sobre a vida, nem seu começo nem seu fim, apenas o viver. Que Dona Dalva, é exemplo de que não devo desperdiçar os momentos que fui tratado com carinho por todos. Sempre sorrindo deveria ser a lei da vida e exigido pelo governo. E que no meu fim, talvez um recomeço, seja sorrindo e bonito como o dela.

Outra coisa... Já perto de casa, me veio um desejo de comer um Tablito, picolé que experimentei pela primeira vez em um churrasco onde Dona Dalva distribuía sorrisos e sua frase 'Come... você não está com fome? Mas está tão bom!" que costumava me animar. Me animava seu sorriso, mais, mais e mais.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Comum: Epifania do Céu.

Olhe... o Céu! Pasmo, disse à todos. E no instinto todos olharam. Que estranho. Oh, murmuravam todos. A situação parecia critica. O medo se espalhou pela rua deixando todos paralisados e com aparência horrível. Mamãe, estou com medo. Exclamava uma menininha. Deus, salve nossas almas. Exclamava um senhor. Eu não posso acreditar, exclamavam vários outros. Pássaros começaram a aparecer. Dançavam em respeito ao Céu. E a cada nova cara que o Céu apresentava, em cada novo tom de azul que ele irradiava, mais trêmulas e fracas ficavam. Eles não entendiam o que havia acontecido, ou melhor, o que estava acontecendo. Uma lágrima começara a escorrer de todos os olhos humanos presentes. Desnorteados sem saber o que tinham feito ao Céu. se culpavam. Até que então, antes que a gota salgada lavasse seus rostos, uma nuvem cinza tomou toda região. O Céu deixara de ser azul, voltara a ser cinza. Suspiros felizes ecoaram em uma só voz. Agradecimentos diversos foram proclamados. Oh, ainda bem! Todos os amigos se foram, as buzinas zumbiram, e todos ficaram mudos.
LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.