sábado, 22 de janeiro de 2011

Os Gigantes estão chegando: Amanda

Todos os Gigantes: capítulo 01: Fish, capítulo 02: Cláudia, capítulo 03: Pedro, capítulo 04: Augusto, capítulo 05: Victória, capítulo 06: Estevan, capítulo final: Amanda.

Fabrício checou o papel em sua mão e o endereço grifado em metal prateado na enorme parede amarela. Ambos eram iguais. Apertou a campainha.
—Quem é? — Uma voz soou do interfone.
—Ah... Fabrício. A Amanda es..
—Já vai! — Interrompeu. O portão abriu e Amanda apareceu correndo. Abraçou-o.
—Você chegou! Que bom que veio...
—É... — Fabrício pela primeira vez ficou envergonhado ao receber tanto carinho.
— Vou apresentar você... Rápido! — Amanda correu puxando Fabrício com toda força. A casa era enorme. A decoração era iluminada por cores que dançavam entre os movéis brancos e as enormes paredes brancas. Ao chegar à imensa cozinha Amanda logo disse:
—Mãe. Esse é o Fabrício. Fabrício essa é a minha mãe.
—Prazer! Finalmente você veio a minha casa, né rapaz? — Ela estendeu a mão a Fabrício e o serviu um enorme sorriso de felicidade.
— Obrigado pelo convite...
— Aquele ali é o namorado da minha mãe. O Gustavo.
— Olá. — Gustavo acenou. Não pode levantar, pois seria uma grande volta, já que o balcão da cozinha se estendia por três metros.
— O Gustavo não sabe, mas eu o vi escondendo o anel de noivado no bolso. — Amanda sorriu.
— Ei! Era segredo!
— Como assim? — A Mãe de Amanda sorriu e logo foi em direção ao namorado. Ela começou a procurar em todos os bolsos. Ambos começaram a rir.
— Vamos. Deixe-os resolverem isso sozinhos. — Seguiram por um corredor. Fabrício imaginou que lá ficavam os quartos. A parede era desenhada com lápis de cera e as formas tomavam os arredores das portas formando grandes mosaicos coloridos. Eles passaram por uma porta em que uma placa escrita com lápis de cor anuncia o quarto de Amanda. Logo estavam a frente de uma porta branca com adesivos de guarda-chuvas. Amanda abriu a porta. Haviam estantes em uma parede cheias de galochas coloridas, floridas e outros galochas com desenhos diversos. O quarto era extremamente aconchegante. Em um enorme puff azul, uma pequena garotinha estava usando um notebook branco que era decorado com gotas de chuva.

—Júlia. Esse é o Fabrício. Lembra que eu falei que iria apresentá-lo hoje?
— Sim! — Exclamou. Ela logo se levantou e sorriu. Fabrício por um momento percebeu que as pernas da menina eram mecânicas. Se ela não tivesse levantando, Fabrício não perceberia os feixes ao lado da perna. Ela pulou e o abraçou. Fabrício retribuiu o carinho. A menina de apenas 7 anos pareceu gostar de Fabrício.
— Ele é bem bonito como você disse. Mas é um pouco alto, não? — Fabrício riu.
— É, mas isso a gente resolve depois. Mandamos ele andar bastante para desgastar os pés, assim ele diminuiu. Agora... desligue isso daí e vai encontrar a mamãe na cozinha para o jantar!
— Já vou. — Amanda e Fabrício saíram. Ela o levou até seu quarto. O quarto de Amanda era mais simples, porém uma enorme parede estava completamente fechada com quadros coloridos que Fabrício imaginou terem sido pintados por ela.
— Tenho uma coisa para lhe contar.
— O quê?
— Sobre mim. Sobre o que eu era... — A conversa se estendeu por minutos. Amanda contou a Fabrício o motivo de sua irmã ter as penas mecânicas. Amanda passava por uma época em que achava que poderia ter tudo. Era indisciplinada e não se importava com a família. Uma vez pegou o carro do pai e decidiu passear com ele. Ela se sentia superior à todos e não obedecia às ordens de sua mãe. Ao fim de tarde, voltou com o carro. Antes que o portão da garagem fosse todo aberto, Amanda acelerou. Porém não percebeu que a pequena irmã, na época com 5 anos, estava andando de patins na área em frente a garagem. Amanda á atropelou. O desesperou e a revolta tomaram parte da família. O pai se separara da mãe de Amanda e nunca mais as visitou. Júlia teve suas pernas amputadas. Fabrício entendeu o porque da mudança de Amanda. A conversa continuou.

Fabrício e Amanda se juntaram aos outros na mesa de jantar. O celular de Fabrício tocou. A ligação era de “Vicky”. Ele pediu licença de atendeu o celular.
— Fabrício! Sua mãe disse que você estava na casa da Amanda. Estou tentando falar com você faz muito tempo. — Victória falava em tom desesperado.
— O que houve?
— O Augusto está no hospital. Parece que o pai da Cláudia espancou ele com um ferro, não sei muito bem o que aconteceu. Você precisa ir logo para o hospital. Eu estou indo agora.
— Tudo bem, tudo bem! Calma, eu vou! — Fabrício avisou a Amanda o que aconteceu.
—Desculpem, mas tenho que ir. — Ele se virou e correu para a porta. Não esperou que os outros lamentassem a sua ida, pois estava preocupado com o amigo. Pensou que poderia ter sido uma atitude mal educada, mas isso não era importante agora...


Duas semanas depois...

—E agora os formandos de irão subir ao palco para a grande foto final. — O teatro do colégio estava todo decorado para grande formatura. As luzes formaram laços nas paredes. Enormes fitas decoravam os corredores, um tapete vermelho cobria a frente do palco. O teto estava coberto por enfeites prateados. Uma fila de estudantes vestidos com becas se formou ao longo da escada do palco. Todos subiram. O palco logo estava tomado por vários estudantes. Então, o diretor anunciou.
— Agora, senhoras e senhores... o grande momento. O fechamento de um ano incrível, repleto de conquistas e descobertas. Que os nossos alunos possam seguir vencendo, como venceram esse ano. — Iniciaram uma contagem regressiva. Um grupo de cinco jovens se dirigiu à frente dos estudantes.
— Três!... dois... um! — Cláudia estava com a aparência recuperada, sem qualquer marca da agressão do pai. Ao seu lado estavam Fabrício e Victória, ambos fitavam a família sentada na platéia. O sorriso encobria suas faces. Augusto estava com algumas marcas no rosto, mas já se sentia melhor, ainda mais com Pedro ao seu lado. Os cinco abriram a beca no momento exato da foto. Cláudia estava com um conjunto de calcinha e sutiã cor de rosa estampados com pequenas cerejas. Fabrício vestia uma samba canção azul. Victória um baby doll azul marinho com detalhes de desenhos animados. Augusto usava uma boxer listrada, o seu corpo ainda apresentava pequenas manchas, mas nada que o deixasse envergonhado. Pedro usava uma samba canção rosa com caveiras vermelhas.



FIM




Na última fileira do teatro, um pequeno grupo estava sentado com as pernas apoiadas em cima das poltronas a frente. Três meninas e três meninos comiam um enorme pacote de pipoca doce.
— Mais uma manada de idiotas. — Disse o menino sentado na poltrona do meio entre as duas amigas. Todos os seis se entre olharam e gargalharam. Continuaram ali, comendo pipoca e rindo da cara dos formandos em roupa de baixo. Eles sabiam que iram fazer melhor. O próximo ano seria o seu ano. E mal podiam esperar...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Os Gigantes estão chegando: Estevan

Gigantes Anteriores: capítulo 01: Fish, capítulo 02: Cláudia, capitulo 03: Pedro, capítulo 04: Augusto, capítulo 05: Victória.



Os dias aqui são compridos. Sério, você não sabe o quanto os meus tios são controladores. (Acho que foi ordem do meu pai) pelo menos consigo ficar livre na faculdade. Acho que já fiz alguns amigos.
É o que você sempre dizia, não? Sou grudento e popular
” 12 maio, 2008.


Ei, não esqueça que eu te amo. Quero ver você escapar dessa
Estou enviando um cd de uma banda que acho que você vai adorar, se chama Broken Social Scene. Eles são ótimos
Uma colega da faculdade que me indic
Espero mesm

” 22 agosto, 2008


Eu iria enviar essa carta semana passada, mas pensei que seria legal se a Julianne e o Ed escr
alguma coisa.
As próximas linhas já não são minhas, coelho branco.

Oi, ... a gente te apelidou de coelho branco

você tem muita sorte c
ama muito.
Ok, ele me obrigou a escrever isso...
-Ed
Oi, fofo.
Olha, se você for lindo como o Estevan diz, já vou querer dividir você com ele. Fico com suas pernas, está bom?
Espero que a gente se encontre um dia
Estevan iria adorar
Tchau,
Julianne.
” 06 junho, 2008.


Oi, em todas as cartas que te envio eu nunca digo ‘oi’, né? Estou sempre ansioso para contar todas as coisa que aconteceram durante a semana

Hoje fui ao um mercado, sério! Mas o incrível é que dentro tem um café
fui com dois amigos da faculdade. Já falei muito de

estão sendo incríveis comigo
consigo ser o idiota que você gosta.
Você ainda gosta de mim?

eu t

” 01 setembro, 2008.

Pedro analisava cada pedaço de papel que derrubou da caixa que recebeu de sua tia pela manhã. Não achou que encontraria destroços de cartas, talvez algum objeto de Estevan que os comprometesse, mas não cartas.
O chão estava coberto pedaços de papéis, ele não poderia contar ou se quer juntar as partes para entender as cartas. E também não era necessário. A cada parágrafo ou linha que ausente ele parecia estar presente quando Estevan as estava escrevendo. Os elogios pareciam reconstruir as linhas e as promessas de amor eterno completavam as frases que terminavam com “eu te amo”.
Estevan estava sorrindo, talvez forçando risadas sobre os assuntos intelectuais que mantinha frequentemente com os colegas da faculdade nova. Antigamente Estevan estaria entusiasmado com as comparações que faziam despreocupados com a veracidade das igualdades, porém agora sentia que precisava se esforçar. Os dias eram longos, como ele sempre anotava em suas apostilas universitárias, os cantos pareciam paredes de prisão com tantas anotações e números que marcavam os dias.
Uma hora depois estava na hora marcada, sempre no mesmo local, ouviu o sinal que o tirava da liberdade assistida e o transferia para o regime solitário. Seu tio, irmão de seu pai, parece uma cópia diabólica de seu pai. Às vezes pensava em fingir um descontrole e, com toda a raiva que juntava ao longo dos dias, descontar no rosto de seu tio. Talvez a dor fosse igual ao a semelhança dos dois. Seria um estrago épico à estrutura de um rosto.

Os intervalos entre as aulas eram agradáveis. Seus amigos, Ed e Julianne, esforçavam-se para provar que se Estevan tentasse esquecer a dor talvez ela fosse realmente embora. A conversa sempre era produtiva, e dessa vez ultrapassou os limites que Estevan mantinha com os amigos. Ele realmente conseguiu esquecer os problemas. Esquecera que tinha pai, esquecera a mãe controladora mas sempre ausente, esquecera seu quarto, sua cama, seu amor. Não lembrava mais que cicatrizes um dia já possuíra. Por fim, não lembrava mais de Pedro.
Por um minuto deixou os risos espontâneos de lado e enfiou a mão no bolso para checar o celular. Uma nova mensagem.
“ME ESQUECE, ACABOU. POR FAVOR”


Estevan implorava aos amigos dinheiro. Saiu da faculdade direto para o aeroporto. Já não havia caminho para voltar, só lhe restava dor. Estevan imagina que tudo que estava sentindo era coragem por finalmente decidir seu destino.
Pedro não chorou e disse a si mesmo que não iria chorar. Ele segurava os papéis com firmeza. Como pôde ser tão fraco? Como desistira de tudo? Perguntava-se várias e várias vezes, mas sabia as respostas que procurava estavam com uma única pessoa. E ela não estava mais lá, nunca mais estaria.


Durante toda a manhã Victória pensou em como resolver todos os seus problemas. Ela não sabia o porquê de ser tão má com a irmã ou porque repudiava o apoio da família. Sempre sentia inferior, eles pareciam torna-la inferior. Agora, eles à tornavam estúpida. Eram eles que faziam esses sentimentos ruins fluírem de dentro dela. Odiava-se por odiá-los.

—Não tem lixo? — Um senhor estava em pé ao lado da catraca do ônibus. Ele parecia fraco, suas roupas eram simples e o boné vermelho só destacava o seu rosto caído. O cobrador do ônibus balançou a cabeça em tom de desaprovação. O senhor, no entanto, entendeu aquilo como uma resposta. Como um não. Voltou à sentar-se no acento preferencial. Estava com alguns pedaços de papel na mão e uma pequena embalagem de balinha. Ao tentar colocar o lixo no bolso, sua mão forçou o bolso e, sem querer, derrubou tudo que segurava no chão.

O balanço do ônibus não o impediu de levantar-se do banco para recolher o lixo ao chão. Victória não sabia por que prestava tanta atenção nos movimentos daquele velho homem. Ela percebeu que algumas pessoas o observavam com o mesmo olhar com que o cobrador o evitava. O senhor recolheu um velho jornal em baixo do acento e, lentamente, voltou a sentar. Após a leitura, ele enrolou as folhas do jornal em como uma bolinha. E nada mais fez, apenas esperava o ponto de ônibus certo para descer. Esse havia sido o momento mais estranho que Victória passou em toda a vida. Não pelo que presenciou, mas sim pelo que sentiu. Ela enxergou-se na cena, e não sabia como. Ela continuou sentada observando-o. Um dia, ela pensou, já ter encontrado aquele senhor. Ou como costumava achar que conhecia todos, logo descreveu a situação como casual.
—Ora, quantas pessoas derrubam as coisas no chão!? — falou em voz alta. O rapaz ao seu lado a encarou com julgamento. Victória percebeu o que acabara de fazer. Pela primeira vez falou sozinha sobre o que sentia. Sobre a dúvida. Rapidamente levantou-se e desceu do ônibus. Ainda corriam perguntas em sua cabeça. Victória gostaria de dizer a alguém que sofreu de epifania, mas não tinha certeza do que sentiu ao presenciar uma situação tão comum. Ela duvidava, porém apenas não queria admitir que agia como uma idiota e não poderia culpar ninguém por suas atitudes, e não poderia nomear de outra forma tudo que havia feito além de idiotice. Não ocorrera nenhuma epifania, apenas conclusão de fatos. Victória era uma idiota, em suas próprias palavras.
—Urrrr — murmurou.


Augusto atendeu o interfone.
— É o Augusto? Tem um menino querendo falar com você aqui na portaria. Disse que é urgente.
—Pode deixar ele subir.
—Acho melhor você descer aqui. — O porteiro abaixou o tom da voz e concluiu — ele está um pouco... transtornado. Acho melhor...
—Tudo bem, já vou. — Interrompeu. Saiu do apartamento apressado. Correu todo o corredor para não perder o elevador. Ao chegar ao térreo, avistou Pedro. O porteiro imediatamente destravou o portão, o barulho da trava destrancando anunciou a Pedro a chegada de Augusto. Saiu rapidamente e fitou Pedro que estava inquieto. Pedro segurou os braços de Augusto.
— Eu não queria... é sério — Pedro começou a falar sem parar, de repente se desesperou e embaralhou as falas que tinha planejado.
— Não quero que algo aconteça de mal com você. Eu gosto de você. Minha culpa... Não queria, mas não pude segurar... me sentia sozinho... me desculpe...
— Calma! Calma... — Augusto puxou Pedro e o envolveu em seus braços. Ele apertava-o como demonstração de afeto. Queria dizer que ali ele estava seguro. Ainda não entendia o porque ele o procurou e o motivo das coisas que antes não conseguia falar.
—Você... — Pedro chorava e seu desespero prendeu a atenção de augusto. Nenhum dos dois percebeu que um carro estacionou no outro lado da rua. Uma pessoa desceu do carro tão rápido quanto estacionou, não fechou a porta do motorista. Augusto levantou o olhar e enxergou uma sombra que corria em sua direção. Por um segundo voltou a observar Pedro e, na fração de segundo, foi atingido por um cano de ferro. Seus olhos agora dobravam imagens paralelas. Não sabia mais o que estava acontecendo, antes que seus olhos pesados fechassem-se ele observava vultos apressados. Vultos que pareciam pular em cima de sua cabeça e sobre todo o seu corpo, e antes que o zumbido em seus ouvidos fosse consumido pelo silêncio, só conseguia notar gritos abafados. Não poderia mais dizer a Pedro que ele estava seguro.


Próximo e Último Capítulo: Amanda
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