terça-feira, 6 de julho de 2010

Os Gigantes estão Chegando: Victória

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro, Capítulo 4: Augusto


—Acorda! Acorda logo! — Victoria acordou assustada. Ainda com a visão embassada, ela percebeu a irmã que estava sacudindo uma calça verde com toda força possível. Sonolenta, Victória não sabia o que fazer até que começou a ser golpeada pela irmã.
Arghh! Quem mandou você fazer isso com minha calça? Você é louca, guria? Vai se ferrar sua idiota!
— O quê? — esperneou
— Olha a mancha na minha calça. Olha o tamanho disso. — Um segundo foi o suficiente para que a irmã de Victória esfregasse a calça na sua cara. Como impulso ela se desviou e a agarrou com força com a intenção de distribuir toda sua raiva matinal na irmã. Os gritos se perdiam nos puxões de cabelo quando Victória recebeu um arranhão com de unhas no rosto e se preparava para socar a irmã, sua mãe apareceu apartando toda confusão.
— Que maluquice é essa? — gritou
Vad...
— Olha a boca! — Advertiu. Por que você está brigando com sua irmã?
— Eu? — Exclamou Victória.
— É essa maluca que manchou minha calça. Olha que ridículo isso, o que vou usar agora?
— É por isso toda essa briga? Me dá essa calça aqui e calem a boca. E você Ana, se ouvir mais um palavrão saindo dessa sua boca imunda. Você nunca mais vai por o pé na rua, entendeu? — Com força puxou a calça das mãos de Ana.
— E Victória, para de implicar com sua irmã. — Victória percebia o olhar de reprovação que recebia da mãe. Por muitas vezes era culpada por brigas que não começara ou situações que não estava presente. O sermão da mãe se repetia toda semana e o sorriso de Ana estampava cada vitória no tribunal materno.
Ao se virar, viu caído no criado-mudo o relógio-despertador-rádio que ganhara de aniversário dos seus amigos. Rosa com desenhos desbotados, era o único item quem não estava esparramado na pequena mesinha. Em vermelho ele mostrava ser 11:32am. Como em todos os sábados, Victória não esperava a hora de casa e, talvez, poder respirar longe da irmã.
O nostálgico cenário do supermercado pela manhã fazia Pedro lembrar mais dos pais. Uma semana e hoje finalmente voltavam para livrá-lo de sua tia. Empurrando o carrinho carregado de compras, tentava não se esforçar o suficiente para ficar bem distante daquela criatura irmã de sua mãe.
— Você pode vir mais rápido, Pe-dro?
— Sim, Tia. — Sem muita vontade, encostou o carrinho de compras ao lado da megera.
— Querido, será que você pode me fazer um favor? Ah, que besteira a minha. Você pode me fazer um favor sim. Não é mesmo? — Perversa, riu. — Vá buscar um desinfetante e esponjas novas. Assim podemos ir embora. Mas por favor, vá logo! — Pedro não podia fazer nada, pois em algumas horas estaria livre daquela mulher. A mulher que durante sete dias, desejou que estivesse morta no lugar de Estevan. Passando pelo corredor, Fabrício acompanha sua mãe nas compras. As mudanças repentinas em sua vida o fizeram não querer passar mais tempo com a mãe, já que as lembranças que rodeavam sua cabeça só o atormentavam em relação ao pai, um sentimento que não queria admitir. O pai havia o abandonado e, o pior de tudo, parecia não importar-se com tal frieza.
— Mãe, você pode indo. Te alcanço no caixa, tudo bem? — Sorriu.
— Ah, tudo bem. Filho, mas chega de comprar besteira. Já tem muita coisa aqui, sua namorada não precisa ficar gorda. — Fabrício não se recordava da última vez que ouvira uma piada de sua mãe. Agora que estavam tão bem, ele conseguia perceber que era o seu constante mau humor que impedia a família de um novo recomeço.
Dirigiu-se sutilmente para o lado da senhora de média estatura e cabelos tingidos de ruivo, a tia de Pedro.
— Bom dia... err... Senhora? — tentou soar gentil.
— Ah... Bom dia. O que você... quer? — com um olhar analítico, ela percorreu todo semblante de Fabrício e por fim, pareceu reprovar o jeito que o menino se vestia.
— Eu tentaria ser mais educado, mas acho que a senhora prefere algo mais direto. Então é o seguinte esquema. Eu quero que você comece a pensar no que fala para o meu amigo, entendeu? Ou talvez, se preferir, cale a merda da sua boca para sempre. Não tente culpa-lo pelas besteiras que você e o idiota do marido fizeram de errado. Não foram capaz de ajudar o próprio filho quando ele precisava mais?
— Quem é voc... — tentou interromper.
— Sem mais. Eu não entendo a droga que a senhora tomou ou que porcaria a senhora quer fazer da vida do meu amigo. Seja lá o que o seu filho foi; eu sugiro que você comece a se culpar e não o Pedro. Que... droga! Foi a única pessoa que tentou entender seu filho. E sinceramente? Espero que você vá para o inferno e, talvez, a gente se encontre lá. Por fim, ou você muda ou eu volto aqui e enfio esse pacote de macarrão na sua boca de fossa. — a raiva a paralisou, o que foi ótimo para Fabrício que estava com medo de atacar aquela senhora de cara arrogante no meio da seção de massas. Felizmente conseguiu conter-se.
— O que você vai querer comer? — perguntou Guto.
— Sei lá. Tanto faz. Eu só queria sair de casa.
— Pizza?
Ok. — os dois passaram a tarde juntos conversando sobre tudo que vinha à mente. Guto tentava aconselhar a amiga de todas as maneiras possíveis, mas a certo ponto a conversa sobre os problemas de Victória morreu. O clima triste pairava.
— Por que você ainda não está falando com o Pedro? — enfim Victória quebrava o clima de tristeza que Guto estava sentindo pela amiga. Porém, agora as dúvidas rondavam a conversa.
— É difícil explicar. Eu não sei o que dizer e não quero estragar as coisas...
— Por favor, ? Estragar o quê?
— A amizade.
— Mas está na cara dele que ele gostava e você. Daí você fica ignorando ele?
— Não é de...
— E quando você pretende falar com ele?
— Não sei — Guto estava sentindo que a Victória estava se alterando, estava demonstrando raiva.
— Desculpa. — Victória chorou — Eu não sei o que fazer, sabe. Desculpa brigar com você por nada, mas você tem a oportunidade de amar alguém e fica indeciso? As coisas eram mais fáceis quando a gente não sabia de nada.
— Eu entendo — respondeu Guto tentando consolar a tristeza de Victória.
— Quando a Cláudia estava mal... droga! Por favor, eu não quero ficar longe de vocês. É com vocês que eu me sinto bem. — alguns minutos em silêncio se tornavam horas abraçada com Guto.
— Não estrague tudo, Augusto. — tentou rir. Guto explicou tudo que sentia para Victória e os dois resolveram mudar o possível para não estragar a amizade que tinham com os amigos. Victória também prometeu mudanças e, decididos, seguiram para suas casas. — Você acha que eu devo falar com o Pedro agora?
— Não. Acho que os pais dele chegam hoje de viagem. Acho melhor você falar segunda antes da aula ou, sei lá, amanhã. A gente dá um jeito. — sorriu.

Victória chegou entrou no apartamento e percebeu um cheiro agradável vindo da cozinha. Estavam sua mãe e seu pai sentados na mesa de frente para Ana. O cheiro convidava-a para se sentar, mas ainda tinha dúvidas se era bem-vinda.
— Senta logo aí, sua chata. — brincou Ana.
— Filha, a comida está ótima. — seu pai nunca pareceu ser tão gentil quanto hoje, apesar de Victória sempre enxergar o pai como o homem mais cavalheiro do mundo, nunca imaginou que ele pudesse parecer mais agradável apenas pronunciando pouquíssimas palavras. Ao sentar ao lado da irmã, Victória percebeu que Ana estava usando a calça verde de mais cedo. Aparentemente a mancha teria saído, assim como sua raiva pela irmã caçula também. O alivio que sentiu depois de uma longa tarde de conversa com Guto, pareceu cura-la de todo ódio.

Ao mesmo tempo na casa de Fabrício, a conversa se estendia pela noite. Amanda e sua mãe estavam se entendendo muito bem e, juntas, tramaram para que Fabrício arrumasse e lavasse toda a louça do jantar, o que fez Fabrício se sentir bem mesmo com tanta coisa para limpar. Ele realmente estava amando aquela garota.

Pedro não entendia o silêncio em que sua tia mantinha durante o restante do sábado e também não se importava. Estava feliz por receber seus pais de volta. O casal atravessou a porta da frente com gigantescas malas e os maiores sorrisos do mundo. Depois de se acomodarem, se sentaram para jantar e insistiram para que a tia de Pedro ficasse, mas um simples olhar que ele deu para a mulher fez com que ela recusasse e, além de tudo, desejasse chegar ir para casa o mais rápido possível para se desbordar em lágrimas de arrependimento. Pedro estava livre.


— Filho, alguém quer falar com você. — o pai de Guto o passou o telefone — eu não sei quem é.
— Alô? — Guto não imaginava receber uma ligação durante o jantar. — Alô? — Guto repetiu. Ele e o pai jantavam tarde da noite, não era de costume receber qualquer ligação. Um murmuro quebrou o silêncio do outro lado da ligação.
Delinque... Filho de uma desgraçada, como você pode fazer isso com a gente? Minha fam... lia. — mais algumas palavras foram pronunciadas, mas Guto não conseguiu entender. A qualidade da ligação estava péssima e quem estava do outro lado da ligação aparentava estar alcoolizado. Por fim, a ligação caiu.
— Quem era? — Guto estava desnorteado e não soube responder o pai. Um sentimento de medo parecia esgana-lo com força.


Próximo Capítulo: Estevan
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