sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Cláudia

Gigante anterior: Fish


Os insultos se perdiam no gritos de desespero de Cláudia. Sem saber para onde olhar, ela tentava se proteger dos ataques que sofria do pai.
—Por favor.... por favor pai... — exclamava desesperadamente. Sem saber por quanto tempo estava implorando por misericórdia, e o quanto já havia chorado. Cláudia resolveu gritar por socorro.
— Você quer ajuda? É isso? — Por um breve momento os socos e tapas pararam. Quando Cláudia conseguiu abrir os olhos, segundos depois de focar a visão, observou seu pai trancando a porta do quarto.
— Você é uma vagabunda! Tantos anos de trabalho para te sustentar, pagar a escola que você estuda. Você tem tudo, você não passa fome. E você me dá apenas desgosto? Por quantas vezes vou precisar te ensinar a ser gente? Você deveria ter vergonha de se considerar alguém, sua .... — Antes de se preparar para continuar mais uma serie de insultos à filha, ele foi brutalmente interrompido por um grito de revolta que jamais imaginaria receber da filha.
— Tudo que você faz é porque me culpa pela morte do seu filho! Eu não tenho culpa do aborto da... — Cláudia estava prestes a se arrepender do que estava dizendo, quando seu pai fechou o punho e com toda força possível socou-a no rosto. O choro agora sobressaia-se pela casa. O rosto infernal do pai não transmitia qualquer emoção além de ódio pela filha.
— Você nunca mais repita isso, vagabunda! — Gritou. Já fora do quarto, ele ouvia a filha chorar. Parado no corredor ele emitiu, em tom de ordem, que ela parasse de chorar. Segundos depois, um silêncio comovente se possuía da casa. Inexorável, ele tomou fôlego e aliviado se distanciou do quarto.

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Assim, teoriza o filósofo genebrino Rousseau, grande idealizador da ... "
Enquanto o tédio destruía a sede de conhecimento de alguns alunos, que pareciam mais entretidos com seus fones de ouvido e outras atividades que não envolviam a aula de filosofia, Victória tentava conversar com Pedro sem chamar a atenção do professor. O quê não era uma missão difícil pois o professor estava fixado na narração do seu livro entediante da historia da formação da política.
— E seus pais? O que falaram quando você chegou em casa com a policia?
— Perguntou, soando como um rato.
— Putz! Acho que o pior foi eles não terem se importado muito. Disseram que eu vinha envergonhando toda a familia, e se eu não me comportasse, eles não se preocupariam em me buscar ou atender algo que fosse em minha relação. — Victória expressou um olhar triste, pois sabia o que era não importar em relação à familia.
— E a viagem de lua-de-mel?
— Eles viajaram mesmo assim. Agora tenho que ficar em casa com a empregada e acho que minha tia vai passar a semana lá. — A conversa pareceu desaparecer inexplicavelmente. Quando os olhares se voltaram para o quadro no qual o professor acabará de encher com um texto ilegível, o sinal soou e todos saíram da sala desesperadamente.
— Até a próxima aula — Lamentou o velho professor.

Sentados ao redor da mesa da lanchonete do colégio, Victória e Pedro sentiam uma ligeira falta dos amigos. Foi quando um menino passou ao lado da mesa e acenou para Pedro que respondeu singelo.
— Quem é esse?
— Um amigo do 3MC. — respondeu sem se importar muito com a pergunta.
— Esse idiota de calça laranja é do terceiro ano? — Ironizou. Pedro riu.
— Ele nem é tão idiota assim vai.... okay, ele parece um. — Os dois riram aparentemente animados por tirar sarro do menino magrelo de calça laranja.
— Por que será que o Guto não veio hoje? Será que a encrenca foi maior na casa dele? — Perguntou aflita.
— Acho que o pai do Augusto deve ter soltado leões em cima dele. A síndica do prédio deve ter contado tudo para o pai dele daí o Guto se ferrou. Ou sei lá... não quis vir à escola. — disse Pedro lamentando.
— Se com o Guto aconteceu isso, a Cláudia deve ter ficado de castigo até ficar velha e recuperar a virgindade. — disse Victória tentando deixar a conversa menos pesada.
— Nossa — Pedro começou a rir.


Pedro subiu as escadas correndo. Chegou no quarto e ligou o computador desesperado. Enquanto o computador carregava Pedro trocava de roupa. Ao invés do uniforme azul do colégio, agora trajava uma camiseta cinza e um short verdade, porém ainda estava com as meias que adorava. Uma vez Pedro chegou à comprar sete pares de meias brancas com três listras superiores de diversas cores. Quando sentou-se na poltrona em frente ao computador, sua empregada inclinou-se na porta.
— Oi Pedro, tudo bom? Sua mãe ligou e mandou avisar que chegou bem em Gramado. Ela falou um monte de coisa, eu nem me lembro mais.
— Tudo bem, Rose. Tanto faz.
— E você menino, vai querer comer hoje? — Rose trabalha na casa dos pais de Pedro há mais de cinco anos e sempre se incomodava em perguntar para Pedro o que ele gostaria de comer, mesmo sabendo que ele não iria exigir nada. Raramente almoçava, mas sempre agradecia pelo trabalho que Rose tinha em perguntar o que ele gostaria de comer.
— Nem estou com fome. Sei lá, depois eu desço e como alguma coisa. Mas obrigado Rose.
— Ah... Sua Tia ligou e disse que chega à noite. Ela vem hoje mesmo. — informou
— Aff..
— Então... era só isso mesmo. — Rose se virou e seguiu despretensiosa a escada.

No desktop de Pedro uma enorme imagem de alguma banda de rock desaparecia embaixo de tantos ícones que ele raramente cliclava. Enquanto carregava o browser da internet, Pedro percebeu um som baixo ecoando do andar abaixo, era Rose que iniciava seus trabalhos domésticos guiados por qualquer banda de sertanejo ou músicos que morreram antes mesmo da criação do CD. Rapidamente o gtalk de pedro começou a piscar, chamando sua atenção. Era Augusto animado em contar tudo que aconteceu ao amigo.

• Guto: Cara!!!! Você não sabe a merda que a gente quase pisou! LOL
Meu pai virou o capeta aqui. Começou a lamentar a ausência e blá blá´
disse que não sabia de quem era a culpa do que aconteceu, ainda quis ter uma conversa de homem para homem. HAhshHa
A sorte foi que o cheiro do cigarro não deu para notar o da maconha. A síndica nem entrou nem nada
Consegui esconder o restinho que sobrou mas tive que jogar fora!!!
Aquela velha ainda cobrou uam multa do meu pai
• PedroA.: Hahhshah, sortee!
Seu pai não te colocou de castigo. Então porq você não foi pra escola hoje?!
• Guto: Aff
Ele inventou de me levar num psicólogo. Agora tenho consulta três vzs na semana.
E o lugar lá é super tenso.... muito tédio
• PedroA.: HahahHAhA agora você vai se consultar e vão te tratar como louco
• Guto: Nem vou, Pedro. Nem vou aparecer lá. Dinheiro jogado fora... sou mais gastar em outra festa
E com você, no que deu?
• PedroA.: Nada demais....
• Guto: E as meninas? A Vickyy e a Cláudia? Tenso
• PedroA.: Com a Vicky nada tambem. Ja a Cláudia eu nem sei. tambem nem foi para a escola hj
• Guto: Serio? Sera que o pai dela brigou muito ?
• PedroA: Acho bem provavel... ele é muito idiota...
A conversa se estendeu até o fim da tarde. Até que Augusto teve que sair para fazer compras com o pai. Pedro também tinha conversado com Victória, mas ela logo teve que sair também. Ele recebeu uma sms da amiga que dizia "Aff.. Tive que sair, a idiota da minha irmã queria usar. Que raiva!!! ouh, vou na casa da Cláudia ver como ela está... qlqr coisa me liga". Pedro respondeu-a com uma breve mensagem "Não posso. Minha tia idiota vem pra cá hoje. Alguem me mata porfavorrrrr".


Victória esteve poucas vezes na casa de Cláudia. Talvez seis vezes ou menos. Uma delas ela conseguia se lembrar bem. Foi no aniversário de Cláudia em maio do ano passado. Ela tinha organizado um encontro para os amigos. Dez pessoas no máximo estavam na cozinha conversando e comendo pizza enquanto a Mãe de Cláudia, a senhora Marta, estava sendo educada e servindo todos com a maior atenção do mundo. Victória e Augusto resolveram passear pela sala e observaram a falta de quaisquer retratos nas paredes ou nas estantes. Nada além de velhos quadros de pintores que eles não conheciam e os grandes móveis decoravam a espaçosa sala. Quando foram interrompidos pelo pai de Cláudia, que aparentemente não havia gostado dos amigos da filha xeretando sua sala. Ele de dirigiu a cozinha e depois de alguns sussurros no ouvido da mulher, ela informou que a festa tinha que acabar, pois estava ficando tarde. Cláudia pensou em lamentar, mas seus olhos encontraram os enormes olhos do pai, que fizeram ela mudar de ideia rapidamente. Desde então foram raros e rápidos os encontros na casa de Cláudia.
Victória se sentia desconfortável na luxuosa casa. Talvez pelo tamanho ou pelo clima ruim que sentia toda vez que entrava lá. Victória percebeu que a persiana do quarto de Cláudia estava aberta, isso significava que ela estava em casa. Sem tocar a campainha entrou pelo portão e bateu à porta. Logo foi atendida pela Senhora Marta.

— Ah, olá Victória. — disse a Senhora Marta aparentemente surpresa pela visita.
— Oi... Eu posso falar com a Cláudia? — perguntou tentando soar como uma princesa da corte britânica.
— Creio que não, querida. Ela não está. Sinto muito.
— Como ela não está? Acabei de ligar para ela! — mentiu
— Acho que houve um eng...
— Não... Eu quero falar com ela. Por favor. — Victória não soava mais como uma menina educada, sabia que não conseguiria falar com a amiga se deixasse a Senhora Marta achar que a enganara.
— Depois do que vocês fizeram, meu marido não quer que... — enquanto a Senhora Marta tentava justificar a proibição do encontro casual que Victória estava tentando ter com a amiga, se irritou e em tom pressionou a porta.
— Você não vai falar com ela — a Senhora Marta exclamou, sem muito sucesso.
— Então ela está aí!? — Victória driblou a mãe de Cláudia, rapidamente seguiu pelo corredor e subiu as escadas. Logo atrás a Senhora Marta a seguida emitindo alguma frase que Victória não estava querendo ouvir, então ignorava. Apressou-se e então girou a maçaneta da porta do quarto da amiga. Victória parecia não acreditar no que via. Um sentimento desconhecido começava a apertar suas entranhas e sucumbia suas pernas em agonia. Cláudia estava em pé surpresa por ver a amiga ali, no seu quarto. Seu rosto estava marcado por arranhões e demasiadamente inchado. Sua sobrancelha ressaltada por um enorme inchaço preto. O silêncio desesperava cada vez mais Victória. Por várias segundos tentando se mexer e fazer ou dizer algo, mas nada conseguiu. O dissabor transbordou-se em forma de lágrimas nos olhos castanhos de Victória. De repente a Senhora Marta puxou-a com força, dizendo que ela não poderia estar ali. Por algum tempo Victória resistiu, mas a mãe de Cláudia conseguiu tirar ela do quarto e expulsa-lá de sua casa. Já na calçada Victória voltou a olhar para a janela do quarto da amiga que logo foi fechada, de maneira brusca, pela Senhora Marta.




Próximo Capitulo: Pedro

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