sábado, 12 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Pedro

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia


— Eu passei a noite preso e vocês não estavam nem ai! Vai a merda — Fish gritou
— Foi mal, ok. Você já pode calar a boca, todo mundo aqui ouviu. — Augusto não sabia como explicar como ninguém notou a falta do amigo depois da desastrosa festa. Na verdade, Fish não era uma boa companhia, sempre irritado e com piadas idiotas. Augusto achava que o amigo era egocêntrico demais para pedir ajuda, mas Fish realmente estava triste por ter sido esquecido e privado de ajuda.
— Pensei que você tivesse ido para casa. Todo mundo foi... desculpa — disse Pedro lamentando o que aconteceu.
— Ah, que se foda! — Fish se levantou e seguiu para sua classe sem deixar qualquer espaço para outros pedidos de desculpas. Ele era o único do grupo que não estudava mais na mesma sala. No inicio do ano foi transferido para o 3MC por mal comportamento, o que os professores nomeavam na ficha escolar de ABR/CI (Aluno com Baixo Rendimento e Comportamento Indevido) . O sinal tocou e todos os alunos se dirigiram para suas classes. A professora de biologia estava demorando mais do que de costume para chegar, mas de repente ela adentrou a sala e antes mesmo de organizar-se em sua mesa disse:

— Augusto? — perguntou balançando a cabeça para encontrar o aluno.
— Sim — respondeu levantando a mão.
— A Coordenação mandou informa-lhe que você tem uma visita na sala B do secretariado. O senhor pode ir, mas não demore muito. Quero vê-lo aqui antes do termino na aula. Entendido? — advertiu Augusto, muito conhecido por demorar em suas idas ao banheiro e saídas repentinas.
— Ah-h... sim!? — levantou-se e rapidamente saiu da sala. Pedro não entendeu o motivo da visita, mas algo despertava uma profunda preocupação com o amigo.
A vida escolar de Pedro não era conturbada, sempre recebia avaliações altas dos professores. Os únicos problemas que vinham estampados em seu boletim eram faltas excessivas nas matérias de Educação Física e Lab. de Química, que costumava matar com os amigos.
Vários minutos depois Augusto retornara e apreensivo com a demora logo se sentou.
— O que foi? — Pedro rapidamente perguntou.
— Ah... era a Vicky... Mas...
— O que ela queria? Por que ela não me...
— Não era nada demais. Ela queria falar comigo. Só isso — Augusto interrompeu tentando desconversar. Pedro desconcertou-se na cadeira sem saber o que dizer para obter uma resposta.


No fim da manhã Pedro sequer viu Augusto indo embora, talvez tivesse demorado demais para recolher os materiais, mesmo portando apenas um caderno e alguns livros. Na escadaria da escola encontrou-se com Fish.
— Você viu o Guto? — perguntou
— Sei lá. Por quê? — Fish respondeu com tom de desdenho.
— A Vicky apareceu na escola e parece que aconteceu alguma coisa. Não sei, ele não quis contar. E depois quando a aula terminou ele sumiu. — disse apreensivo.
— Talvez ela tenha chamado ele para f...
— Haha — Pedro fitou os olhos de Fish e pareceu desprezar toda presença de Fish em sua vida, que logo percebeu o incomodo do amigo e decidiu ir embora sem qualquer cerimônia de despedidas. Chegando em casa, Pedro correu para o quarto e quando estava subindo as escadas ouviu sua tia chamá-lo.
— Pedro, querido! Venha cá. — exclamou. Ele tentou ignorar, mas sua tia logo apareceu no hall e observou o que o sobrinho estava fazendo.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou. Sem entender, Pedro respondeu
— Eu... eu estava indo para o meu quarto.
— Não, querido. Você vai almoçar antes. Venha.
— Então vou tomar um banho antes. — continuou a subir as escadas.
— Não! Você vai almoçar agora, depois você faz o que quiser. — o tom de voz de sua tia expressava sua raiva repentina. Pedro então largou sua mochila na escada e se dirigiu para a cozinha. Rose estava secando a louça e quando percebeu a presença de Pedro lançou um olhar de tédio para a tia do garoto. Pedro sorriu.
— Aqui está. — em sua frente estava um prato enorme de comida. Um pequeno filé de frango sumia dentre uma enorme quantidade de salada de grão-de-bico. O arroz era o único elemento que compunha a refeição que não o causava náuseas.
— Eu não... err... Acho que perdi a fome, tia. — tentou justificar a cara desagradável que fez para o prato.
— Roseanne, querida. Você pode ir na área de serviço verificar se a roupa que está na máquina já está lavada? Por favor? — Rose secou as mãos na toalha de prato que estava ao lado da pia e se retirou da cozinha.
— Obrigada — disse. A tia de pedro contornou a mesa e, bem próximo a Pedro, sussurrou:
— Você pensa que não sabemos o que você fez com nosso filho? Meu marido ainda lamenta a morte do nosso querido filho, e tudo por sua culpa. Como você pôde fazer isso com a gente? Você é um mulequinho depravado, que acabou destruído uma familia inteira. Se eu fosse você e quisesse continuar guardando esse segredo dos meus pais, eu levaria esse prato para meu quarto e o enfiaria todo em minha boca sem reclamar. Você entendeu? — Pedro sentiu suas pernas adormecerem, levou longos segundos para se levantar e recolher o prato da mesa.
— E outra coisa querido. Pare de enviar mensagens depravadas para outros meninos na internet. Os pais deles podem ler. E você pode se dar muito mal. Se é que você me entende — após concluir sua sentença, a tia de Pedro sentou-se e começou a cortar violentamente um pedaço de carne de frango.


Isso pode parecer estranho, mas tenho uma coisa para te contar. Espero que você não me ignore depois do que vou te dizer, P. Acho que depois do domingo passado, não consigo mais parar de pensar em você. É estranho!! Não sei se você sente a mesma coisa... mas acho que estou apaixonado por você. E, Pê, não vejo a hora de poder te beijar de novo.
Ahhhhhh, outra coisa.... fiquei com seu anel. É um motivo genial para você vir me visitar aqui em casa. Prometo que aviso quando meu pai passar o dia fora. Ninguém vai chegar e acabar com o clima... bjosss.....

Recebido em 23 de Julho de 2008. Enviado por: Estevan C. Albuquerque.

Em seu Gmail Pedro tinha um grupo nomeado "E" onde guardava alguns dos emails que recebera do primo. Fazia um ano que não os relia, o que fez por várias vezes no ano passado quando soube da morte do primo. Juntos, eles mantinham um relacionamento secreto desde fevereiro de 2008.
Desesperado Pedro apagou todo os seus registros de conversa e , por horas, tentou apagar os emails do grupo "E", mas não conseguiu. A imagem de Estevan rondava seus olhos e o espremia em angustia, uma dor mais pesada da que sentiu quando observou o caixão do primo sendo enterrado. Mas, apesar de tudo, não conseguia entender porque só agora sua tia descobrira tudo. Talvez tivesse vasculhado o computador do filho procurando lembranças... ou... o que Pedro desconfiava tivesse vindo à tona.
Uma vez Pedro estava com Estevan no shopping, eles tinham marcado um encontro rápido por sms. Estevan estava matando aula no cursinho pré-vestibular, mas parecia ter se arrumado categóricamente para o encontro. Ele trajava uma camiseta preta preta por baixo de uma jaqueta cobre e uma calça manchada azul. Pedro sempre fazia piada com a calça de Estevan, pois ela parecia ter sido mal lavada ou bombardeada por balões de tinta branca, mas o marcante era o perfume que ele sentia quando estavam juntos. Parecia fluir de todo lugar e hipnotizar-lo. Estevan sempre chamava a atenção das meninas, o que deixava Pedro desconfortavel, mas Estevan não se importava. Gostava de passar os dias com o namorado secreto. Nesse dia Estevan foi chamado atenção por uma jovem menina que lhe entregou um papel com o email aparentemente da amiga que estava sentada quatro mesas a frente deles. Pedro, tímido, resolveu confessar que não havia gostado da atenção que Estevan deu ao recado. Foi então que Estevan colocou a mão em cima da de Pedro e o puxou dando um breve e doce beijo. Até que o celular de Estevan tocou o que ele disse ser o pai após atender. Pedro observava-o responder o pai, quando percebeu que o tio parecia estar do outro lado da praça de alimentação, provavelmente observando toda a cena. O tio rapidamente se retirou do local, logo mais, Estevan anunciou que precisava ir para casa pois não entendera o porque o pai estava preocupado e para que precisava conversar com filho. Pedro ficou nervoso, mas tentou explicar que achava que tinha visto o tio na praça de alimentação.
Longas horas depois de conversas sobre o que poderia acontecer, Estevan disse que isso um dia iria acontecer e que não conseguiriam esconder por mais oito meses.
Eu resolvo isso, pode ficar tranquilo. Eu te amo e farei de tudo para que possamos ficar juntos. Talvez não seja nada demais, mas sonho que vai ser sempre assim. Eu e você juntos para sempre.

Uma semana depois a comunicação entre os dois parece cada vez mais difícil, e um mês depois Estevan noticiou que o pai o mandara para fazer faculdade no exterior, que ele iria morar com uns tios no Canadá. Os dois tentavam trocar mensagens e até telefonemas, mas era praticamente impossível, graças a grande vigilância que os tios tinham sobre ele. Estevan dizia estar sofrendo e não aguentar a distancia, a cada palavra triste que Pedro lia nas mensagens cortavam sua respiração e partiam seu coração. Até que Estevan fugira de volta para o Brasil. E uma semana depois de ficar em casa preso, pelo pai, sem qualquer contado com Pedro, foi encontrado morto no banheiro do quarto. Dois dias depois de chegar ao Brasil, Pedro recebera uma sms dizendo 'Meu pai não quer me deixar sair. Não sei o que faço, não consigo viver sem voc...'
Pedro sentiu-se horrível por não ter respondido a sms, mas o sentimento que o destruiria cinco dias depois seria pior, quando encontraram o corpo de Estevan no banheiro, enforcado. A culpa o asfixiava, assim como o amor fez a Estevan.


Pedro fitou os olhos na tela do computador e leu:
...Não importa! Você sabe que especial para mim. E a gente vai ficar, tudo vai ficar bem.
p.s.: Eu te amo... assim como no filme. :)

Próximo Capítulo: Augusto

Nenhum comentário:

LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.