quinta-feira, 3 de junho de 2010

Terra

TERRA s.f. 1. O planeta em que habitamos. 2. A parte sólida do globo terrestre não ocupada pelo mar.

Está é a definição de "terra" que encontrei em meu velho dicionário, da escola da pré-escola. Mas isso não é o importante. Hoje eu presenciei como a terra cobriu Minha Vó, Dona Dalva. Eu me sento mal por não gostar de últimos momentos, talvez por ter presenciado só dois enterros. Este foi o segundo. Não sei se vou me acostumar, mas não quero gostar desse momento triste. No Templo, onde todos estavam, fiquei estagnado. Não sabia com quem falar, como falar e, nem muito menos, o que falar. Logo depois, sentado na ultima fileira de cadeiras pretas e acolchoadas, me senti distante. Mais distante de quando, por brigas, me distancio da familia. E esse momento que nas novelas e filmes costuma unir e animar as pessoas, me fazia sentir mais distante. Mais, mais e mais. Foi quando anunciaram "Para todos que não se despediram, por favor, este é o ultimo momento até...". Eu não tive coragem até então para chegar perto do caixão. Foi quando me levantei e decidi ir até lá. Por um tempo, em pé, esperei que todos me dessem passagem. Como ultimo adolescente por perto, encostei no caixão e pensei em dizer algo, toca-lá com um toque doce, o mesmo que ela tinha quando me abraçava, mas eu não pude; o desespero foi maior. O mesmo desespero que comprimia minha cabeça e me encolhia na cadeira, apertou meus olhos e então, pela primeira vez neste dia, chorei. Minhas mão esquerda subiu até minha cabeça, e descontrolada, não sabia seu rumo. Me virei... Percebi que, como tinha ouvido antes, Dona Dalva estava linda. Como se tivesse dormido depois de um encontro feliz com todos que amava. Típico, pois ela é a pessoa mais feliz que conheço.

As dúvidas depois foram inevitáveis. Porque as pessoas esconderam seus olhos pesados por lágrimas com óculos escuros? Não era um esforço necessário? Porque tudo que se comentava seguia para aquele rumo final? Poucos comentavam coisas que terminavam com sentimentos bons.
Algumas respostas, para perguntas que ainda não consegui formular, me completaram o vazio. Eu ainda não aprendi sobre a vida, nem seu começo nem seu fim, apenas o viver. Que Dona Dalva, é exemplo de que não devo desperdiçar os momentos que fui tratado com carinho por todos. Sempre sorrindo deveria ser a lei da vida e exigido pelo governo. E que no meu fim, talvez um recomeço, seja sorrindo e bonito como o dela.

Outra coisa... Já perto de casa, me veio um desejo de comer um Tablito, picolé que experimentei pela primeira vez em um churrasco onde Dona Dalva distribuía sorrisos e sua frase 'Come... você não está com fome? Mas está tão bom!" que costumava me animar. Me animava seu sorriso, mais, mais e mais.

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