sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Augusto

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro



Augusto estava dirigindo seu grande carro azul com toda atenção que alguém usaria para montar uma torre de cartas. Logo ele avistou uma enorme placa que indicava a saída da grande cidade, segundos depois a pequena tela do GPS apitou avisando o inicio do quilômetro oitenta. Com cuidado retirou a mão direita do volante e apertou um botão azul ao lado do aparelho. Um som engraçado soou e uma voz de secretaria eletrônica se pronunciou: quilômetro oitenta há uma hora do destino final. 14h34 pm. Pnnn.
— Pai! Por favor! — Augusto nunca se acostumara à mania que o pai, Augusto, tinha de ligar o speech do GPS. Há quatro anos que seu pai tinha comprado o novo aparelho, que muitas vezes não servia para nada.
— Filho, segurança é... Pnnn... Tudo. — em baixa velocidade, o carro fez a curva.
— Tá, mas a Cláudia não está bem e ... Pnnn... Tem como a gente chegar logo? — Cláudia estava encolhida no banco de trás ao lado de Guto, seu rosto estava com uma aparência mais suave apesar das marcas vermelhas e uma leve cicatriz no alto da bochecha.
— Não... tudo bem, Guto. Já é dem... — ela não conseguiu terminar a frase, sua garganta ainda rasgava quando tentava aumentar o tom da sua voz rouca.
— Ahnn, deixa de ser chato Guto. Ninguém, além da Cláudia, sabe onde fica a casa da vó dela. E o GPS não vai ajudar? Mesmo que... Pnnn... — interrompida pelo barulho irritante do GPS, Victória decidiu não terminar sua bronca diria ao seu melhor amigo que, sempre que possível, arranja algum motivo para implicar com o pai.
Meia hora depois o pai de Guto decidiu reabastecer o carro, sem qualquer necessidade, pois o carro ainda estava com metade do tanque cheio.
— Então, enquanto eu recarrego o...
— Reabastece — disse Guto, interrompendo o pai.
— Ah, enquanto eu reabasteço o carro, vocês vão querer alguma coisa da loja de conveniência? Alguma comida? Algo para beber? Talvez...
— Pai, só me dá o dinheiro ok?
— Tudo bem... Aqui está Victória, acho que você pode... — o pai de Guto mexeu a boca querendo murmurar algo para Victória, sem sucesso, pois ela não entendeu nada.
— Ah, ele vai parar de reclamar sim — disse. Cláudia e Guto saíram do carro, Victória abriu a porta e se impulsionou para perto do amigo.
— Cara, para de reclamar, você está falando mais que a merda do GPS! O seu pai não tinha que levar a gente para lugar nenhum, ele é maluco de tentar ajudar! E você ainda reclama? Eu sou sua amiga, mas isso não impede que eu te mate. Que saco! — irritada seguiu até a loja, deixando Cláudia e Guto parados ao lado do carro. Cláudia estava se sentindo mal por estar incomodado e quando estava prestes pedir desculpas pelo estresse de Guto, ele foi mais rápido.
— Não é sua culpa... é que... meu pai é um saco! — disse irritado.
— Não mais que o meu... né? — brincou
— Ahhh... é... desculpe.
— Tudo bem. Guto, posso te perguntar uma coisa?
— Uh, Claro — afirmou, sem mesmo entender o porque a amiga iria perguntar algo naquele exato momento. Um momento dos mais estranhos da vida dela.
— Por que você está assim, sabe? Estressado. E não é com seu pai, dá para perceber que você só... — Cláudia engoliu seco, tentando aliviar a dor da garganta, mas decidiu prosseguir mesmo sentindo dor — Sabe, descontando nele.
— Sério?
— Ahum.
— Não sei se é algo que... ah, nós somos amigos, né? E eu sou um idiota, eu estava conversando com o Fish e praticamente disse que ele era um merda. E o Pedro também, eu ignorei ele total... sabe... por que ... você precisa de ajuda...
— Acho... que a culpa toda aqui é minha, né? — Cláudia se sentia mal por causar tanta confusão e transtorno.
— Não! A gente sabe que não é sua culpa. Arghh! É que... merda... eu gosto do Pedro — Guto estampou uma careta que expressava dúvida. — Você... acha?...
— Estranho? — Cláudia riu.
— Guto, você lembra da festa daquela menina do segundo ano? Você fez do quarto dela uma festa particular — tossiu — e acho que sexo você fez com ela, a irmã dela... e o primo dela, não foi algo muito comum, né? Todo mundo sabe que você é bi... — Cláudia finalmente conseguiu expressar um sorriso verdadeiro desde o inicio viagem.
— É... mas... — Guto não sabia o que dizer, então riu. Os dois pareciam se entender muito bem e ao mesmo tempo Cláudia riu.
— Grande festa, né? — disse rindo. Victória entregou uma garrafa de suco de frutas vermelhas para Cláudia e uma sacola para Guto, cheia de pacotes de doces e mais coisas que Victória gostava de comer.
— Vocês estavam rindo muito. O quê era? — perguntou, abrindo ao mesmo tempo um pequeno pacote de alcaçuz cítricos.
— Ah, na...
— O Guto gosta do Pedro — interrompeu Cláudia.
— Sério? — Victória riu.
— Ahh — Guto murmurou envergonhado.
— É, um dia ele ia escolher algo, né? Ia parar de ficar sempre com três — Cláudia demonstrou uma animação que jamais tivesse mostrado para seus amigos. Victória colocou o braço sobre o ombro de Cláudia e sorriu para Guto.
— Amigo, todo mundo sabia...
— Ah, para vai. Ninguém sabia... eu nunca disse — contestou
— É, mas eu já sabia. Lembra você a primeira vez que o Pedro ficou caído de bêbado? E eu, a Cláudia e ele tivemos que dormir na sua casa?
— Ahhh não! Voc... — Guto nunca ficava envergonhado com as coisas que fazia nas festas que ia com os amigos, muitas vezes ficava com todo mundo que quisesse e bebia sem ter vergonha das conseqüências.
— Eu vi você beijando ele. O que foi nojento né, amigo. Ele estava bêbado. — o que Victória disse fez Cláudia rir da situação constrangendo que o amigo estava.
— E você já ficou com todas do terceiro, e mais algumas pessoas do segundo, né? Poderia ter muito bem ter... você sabe — Victória riu.


— É ela — Fish apontou para uma menina loira que estava subindo a escadaria da escola. Quando ela se aproximou, eles trocaram um longo beijo que deixou Pedro constrangido. — Hein, tem certeza que não quer vir com a gente? Ah... essa é a Amanda.
— Prazer... Amanda. — Pedro tentou cumprimentar a garota, mas o máximo que conseguiu fazer foi um singelo movimento com a mão.
— Vamos cara, a gente só vai no shopping... no cinema, comer... essas coisas — Fish incentivou o amigo a manhã inteira, e sua insistência foi tanta que acabara convencendo-o.
— Ah... okay... mas preciso ir em casa primeiro.
— Não precisa, a gente pode deixar as coisas no carro. — Amanda disse.
— É, cara... — Fish sorriu, o que fez Pedro perceber que pela primeira vez Fish parecia estar completamente feliz e... controlado. Se quer lembrava o cara arruaceiro e aborrecido de sempre, não parecia ser Fish. Talvez tivesse se tornado no Fabrício que ninguém conhecia.
O dia estava sendo agradável para todos. Pedro parecia gostar mais de Amanda, a menina que conseguiu mudar seu amigo em alguém mais legal do que era. A menina magra, loira, que vestia um vestido estampado com um enorme decote em formato de coração nas costas e uma galocha cinza, não parecia mais uma menina bonita e estranha. Agora ela aparentava ser bonita e estranhamente legal. Pedro se sentiu livre em contar o que estava acontecendo em sua vida para o amigo e namorada. Fish, agora Fabrício, parecia entender o que o amigo estava sentindo e tentava aconselha-lo em tudo que podia. Amanda também tentava ajudar em tudo que podia. E o mais importante, Pedro se sentia aliviado em poder contar para alguém o que estava sentindo e ter alguém disposto a conversar e tentar ajudar, assim como os dois novos amigos estavam fazendo. Um novo velho amigo e uma nova amiga.


— Então quer dizer que você estavam rindo das fotos do Pedro nu? No note do seu pai? — Cláudia riu, ela parecia não acreditar que Guto tinha feito isso com o amigo. Fotografado um momento ridículo daqueles. Mas mesmo assim, ela continuava rindo.
— E ainda tinha um vídeo dele conversando com o Pedro. Aquele notebook está cheio de relíquias da gente bêbada. — Victória riu.
— Ei.. crian— o pai de Guto excitou quando percebeu que ia dizer crianças, então tentou disfarçar — nos já vamos.
— Okay pai. — Guto tentou parecer o mais gentil possível, mesmo tendo pronunciado apenas duas palavras. O restante da viagem foi muito agradável, a conversa dos amigos seguiu mesmo com o barulho continuo do GPS. Eles não perceberam que já tinham chegado ao apartamento da vó de Cláudia até o carro estacionar em frente um prédio azul e branco. Eles interfonaram a Vó Dolce, como Cláudia à chamava, e já no apartamento tiveram uma longa conversa com a senhora que se vestia elegantemente. Vó Dolce tinha uma aparência jovem, aparentava se cuidar bastante. Longas horas de conversa e Victória e Guto explicavam o que tinha acontecido, enquanto o pai de Guto ficava apreensivo com a resposta da senhora. Depois de Cláudia expressar o que estava sentindo, sua avó disse:

— Você sabe que sua mãe vai perceber que você não está em casa quando chegar, né?
— Sim, vó... — respondeu
— Minha filha é uma péssima mãe em deixar isso acontecer com você. Deixar seu pai te culpar pelo acidente de carro que ela sofreu quando estava grávida, é o maior absurdo que ela poderia ter feito. Você pode ficar aqui comigo o quanto quiser, mas nós teremos que resolver isso... — A despedida de Cláudia foi recheada de agradecimentos aos amigos, agradecimentos que se perdiam em lágrimas continuas. Um bom tempo depois, Guto e Victória estavam se despedindo de dentro do carro para Cláudia, tentando esconder a tristeza de deixar a amiga longe.

— A gente te ama... — Guto gritou.
— E para de tomar gim! — Cláudia riu, Victória mandou um beijo dramático da janela do carro para a amiga. Talvez o último beijo que ela receberia da amiga viciada em gim com frutas.




Próximo Capítulo: Victória

Nenhum comentário:

LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.