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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

MEU ANO EM UMA PLAYLIST

Esse foi o pior e o melhor ano de minha vida. É sempre assim, né? Queria poder resumir tudo em um grande texto, com as morais do que eu aprendi e com estrondosos parágrafos emocionantes. Não dá. As coisas que aprendi, que vivenciei, que descobri e conheci são tão pessoais que o texto chegaria em algo abstrato. Ou bizarro mesmo. 

Das atitudes egoístas que tomei, as péssimas decisões que a vida e seus passageiros tomaram aos atos de sincero amor e situações de puro afeto que tive com as pessoas que realmente significaram algo importante para mim; essas sim eu posso simbolizar e descrever. E é na música que eu me refugio nesse 31 de Dezembro. 

Antes de postar minha playlist em ordem cronológica de aprendizagem (huh?), queria dedicar cada segundo dessa arte para os meus amigos, aqueles que estiveram no chão frio comigo, aqueles que abraçaram o metal quente e aqueles que me deram um bom tapa na cara. Queria agradecer a minha família por estar mais única do que nunca, mais sincera, menos medrosa. Queria agradecer à todos os monstrinhos na minha cabeça que me ensinaram que ou eu aprendo a viver com eles e com quem eu sou, ou vou acabar caindo na mesma armadilha; não ser quem eu realmente sou. É aprendendo com as marcas, as belas cicatrizes, que reconheço agora o que é realmente belo: o que é sincero. Do amor ao medo, há beleza apenas no que é sincero. Queria poder cortar meu coração e entregar para vocês, mas não sou tão vanguardista assim. Então aqui dedico minhas notas (adotadas) para vocês. 

E que 2013 seja mais leve, menos egoísta, menos cinza, que seja mais SELVAGEM, ROMÂNTICO, PURO E MAIS COLORIDO DE TINTA! Feliz Ano Novo, MI LINDXS! (FROM A YOUNG LOVER’S HEART <3 p="p">

Christina Perri – Distance
Mumford & Sons – Little Lion Man
Mascus Foster – I Was Broken
Sky Ferreira - Sad Dream
Bon Iver – I Can't Make You Love / Nick of Time
The Avett Brothers – A father's first Spring
Antony and The Johnsons – Cut The World
Taylor Swift – Red
Frightned Rabbit – State Hospital
Dry The River – Weights & Measures
Dry The River - No Rest
P!nk – Try
Florence + The Machine – Never Let Me Go
Bat For Lashes – All Your Gold
Paramore – In The Mourning
Ben Taylor – Not Alone
Dry The River – Family
Trixie Whitley – A Thousand Thieves
Ana Cañas - Aquário
Gabrielle Aplin – Home
Mumford & Sons – Below My Feet


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

#Soundtrack List: Os Gigantes Estão Chegando

CAPÍTULO 01: Fish
"Jamie t - Chaka Demus"

CAPÍTULO 02: Cláudia
"The Vaccines - Post Break-Up sex"


CAPÍTULO 03: Pedro
"Polly Scattergood - Remove All Traces"

CAPÍTULO 04: Augusto
"Edward Shape & The Magnetic Zeros - Home"

CAPÍTULO 05: Victória
"Ra Ra Riot - Boy"

CAPÍTULO 06: Estevan
"Adele - Don't You Remember"

ÚLTIMO CAPÍTULO: Amanda
"Glasvegas - Daddy's Gone"


"We are the bright new stars born of a screaming black hole, the nascent suns burst from the darkness, from the grasping void of space that folds and swallows--a darkness that would devour anyone not as strong as we. We are oddities, sideshows, talk show subjects. We capture everyone's imagination."
Dave Eggers (A Heartbreaking Work of Staggering Genius)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Os Gigantes estão chegando: Amanda

Todos os Gigantes: capítulo 01: Fish, capítulo 02: Cláudia, capítulo 03: Pedro, capítulo 04: Augusto, capítulo 05: Victória, capítulo 06: Estevan, capítulo final: Amanda.

Fabrício checou o papel em sua mão e o endereço grifado em metal prateado na enorme parede amarela. Ambos eram iguais. Apertou a campainha.
—Quem é? — Uma voz soou do interfone.
—Ah... Fabrício. A Amanda es..
—Já vai! — Interrompeu. O portão abriu e Amanda apareceu correndo. Abraçou-o.
—Você chegou! Que bom que veio...
—É... — Fabrício pela primeira vez ficou envergonhado ao receber tanto carinho.
— Vou apresentar você... Rápido! — Amanda correu puxando Fabrício com toda força. A casa era enorme. A decoração era iluminada por cores que dançavam entre os movéis brancos e as enormes paredes brancas. Ao chegar à imensa cozinha Amanda logo disse:
—Mãe. Esse é o Fabrício. Fabrício essa é a minha mãe.
—Prazer! Finalmente você veio a minha casa, né rapaz? — Ela estendeu a mão a Fabrício e o serviu um enorme sorriso de felicidade.
— Obrigado pelo convite...
— Aquele ali é o namorado da minha mãe. O Gustavo.
— Olá. — Gustavo acenou. Não pode levantar, pois seria uma grande volta, já que o balcão da cozinha se estendia por três metros.
— O Gustavo não sabe, mas eu o vi escondendo o anel de noivado no bolso. — Amanda sorriu.
— Ei! Era segredo!
— Como assim? — A Mãe de Amanda sorriu e logo foi em direção ao namorado. Ela começou a procurar em todos os bolsos. Ambos começaram a rir.
— Vamos. Deixe-os resolverem isso sozinhos. — Seguiram por um corredor. Fabrício imaginou que lá ficavam os quartos. A parede era desenhada com lápis de cera e as formas tomavam os arredores das portas formando grandes mosaicos coloridos. Eles passaram por uma porta em que uma placa escrita com lápis de cor anuncia o quarto de Amanda. Logo estavam a frente de uma porta branca com adesivos de guarda-chuvas. Amanda abriu a porta. Haviam estantes em uma parede cheias de galochas coloridas, floridas e outros galochas com desenhos diversos. O quarto era extremamente aconchegante. Em um enorme puff azul, uma pequena garotinha estava usando um notebook branco que era decorado com gotas de chuva.

—Júlia. Esse é o Fabrício. Lembra que eu falei que iria apresentá-lo hoje?
— Sim! — Exclamou. Ela logo se levantou e sorriu. Fabrício por um momento percebeu que as pernas da menina eram mecânicas. Se ela não tivesse levantando, Fabrício não perceberia os feixes ao lado da perna. Ela pulou e o abraçou. Fabrício retribuiu o carinho. A menina de apenas 7 anos pareceu gostar de Fabrício.
— Ele é bem bonito como você disse. Mas é um pouco alto, não? — Fabrício riu.
— É, mas isso a gente resolve depois. Mandamos ele andar bastante para desgastar os pés, assim ele diminuiu. Agora... desligue isso daí e vai encontrar a mamãe na cozinha para o jantar!
— Já vou. — Amanda e Fabrício saíram. Ela o levou até seu quarto. O quarto de Amanda era mais simples, porém uma enorme parede estava completamente fechada com quadros coloridos que Fabrício imaginou terem sido pintados por ela.
— Tenho uma coisa para lhe contar.
— O quê?
— Sobre mim. Sobre o que eu era... — A conversa se estendeu por minutos. Amanda contou a Fabrício o motivo de sua irmã ter as penas mecânicas. Amanda passava por uma época em que achava que poderia ter tudo. Era indisciplinada e não se importava com a família. Uma vez pegou o carro do pai e decidiu passear com ele. Ela se sentia superior à todos e não obedecia às ordens de sua mãe. Ao fim de tarde, voltou com o carro. Antes que o portão da garagem fosse todo aberto, Amanda acelerou. Porém não percebeu que a pequena irmã, na época com 5 anos, estava andando de patins na área em frente a garagem. Amanda á atropelou. O desesperou e a revolta tomaram parte da família. O pai se separara da mãe de Amanda e nunca mais as visitou. Júlia teve suas pernas amputadas. Fabrício entendeu o porque da mudança de Amanda. A conversa continuou.

Fabrício e Amanda se juntaram aos outros na mesa de jantar. O celular de Fabrício tocou. A ligação era de “Vicky”. Ele pediu licença de atendeu o celular.
— Fabrício! Sua mãe disse que você estava na casa da Amanda. Estou tentando falar com você faz muito tempo. — Victória falava em tom desesperado.
— O que houve?
— O Augusto está no hospital. Parece que o pai da Cláudia espancou ele com um ferro, não sei muito bem o que aconteceu. Você precisa ir logo para o hospital. Eu estou indo agora.
— Tudo bem, tudo bem! Calma, eu vou! — Fabrício avisou a Amanda o que aconteceu.
—Desculpem, mas tenho que ir. — Ele se virou e correu para a porta. Não esperou que os outros lamentassem a sua ida, pois estava preocupado com o amigo. Pensou que poderia ter sido uma atitude mal educada, mas isso não era importante agora...


Duas semanas depois...

—E agora os formandos de irão subir ao palco para a grande foto final. — O teatro do colégio estava todo decorado para grande formatura. As luzes formaram laços nas paredes. Enormes fitas decoravam os corredores, um tapete vermelho cobria a frente do palco. O teto estava coberto por enfeites prateados. Uma fila de estudantes vestidos com becas se formou ao longo da escada do palco. Todos subiram. O palco logo estava tomado por vários estudantes. Então, o diretor anunciou.
— Agora, senhoras e senhores... o grande momento. O fechamento de um ano incrível, repleto de conquistas e descobertas. Que os nossos alunos possam seguir vencendo, como venceram esse ano. — Iniciaram uma contagem regressiva. Um grupo de cinco jovens se dirigiu à frente dos estudantes.
— Três!... dois... um! — Cláudia estava com a aparência recuperada, sem qualquer marca da agressão do pai. Ao seu lado estavam Fabrício e Victória, ambos fitavam a família sentada na platéia. O sorriso encobria suas faces. Augusto estava com algumas marcas no rosto, mas já se sentia melhor, ainda mais com Pedro ao seu lado. Os cinco abriram a beca no momento exato da foto. Cláudia estava com um conjunto de calcinha e sutiã cor de rosa estampados com pequenas cerejas. Fabrício vestia uma samba canção azul. Victória um baby doll azul marinho com detalhes de desenhos animados. Augusto usava uma boxer listrada, o seu corpo ainda apresentava pequenas manchas, mas nada que o deixasse envergonhado. Pedro usava uma samba canção rosa com caveiras vermelhas.



FIM




Na última fileira do teatro, um pequeno grupo estava sentado com as pernas apoiadas em cima das poltronas a frente. Três meninas e três meninos comiam um enorme pacote de pipoca doce.
— Mais uma manada de idiotas. — Disse o menino sentado na poltrona do meio entre as duas amigas. Todos os seis se entre olharam e gargalharam. Continuaram ali, comendo pipoca e rindo da cara dos formandos em roupa de baixo. Eles sabiam que iram fazer melhor. O próximo ano seria o seu ano. E mal podiam esperar...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Os Gigantes estão chegando: Estevan

Gigantes Anteriores: capítulo 01: Fish, capítulo 02: Cláudia, capitulo 03: Pedro, capítulo 04: Augusto, capítulo 05: Victória.



Os dias aqui são compridos. Sério, você não sabe o quanto os meus tios são controladores. (Acho que foi ordem do meu pai) pelo menos consigo ficar livre na faculdade. Acho que já fiz alguns amigos.
É o que você sempre dizia, não? Sou grudento e popular
” 12 maio, 2008.


Ei, não esqueça que eu te amo. Quero ver você escapar dessa
Estou enviando um cd de uma banda que acho que você vai adorar, se chama Broken Social Scene. Eles são ótimos
Uma colega da faculdade que me indic
Espero mesm

” 22 agosto, 2008


Eu iria enviar essa carta semana passada, mas pensei que seria legal se a Julianne e o Ed escr
alguma coisa.
As próximas linhas já não são minhas, coelho branco.

Oi, ... a gente te apelidou de coelho branco

você tem muita sorte c
ama muito.
Ok, ele me obrigou a escrever isso...
-Ed
Oi, fofo.
Olha, se você for lindo como o Estevan diz, já vou querer dividir você com ele. Fico com suas pernas, está bom?
Espero que a gente se encontre um dia
Estevan iria adorar
Tchau,
Julianne.
” 06 junho, 2008.


Oi, em todas as cartas que te envio eu nunca digo ‘oi’, né? Estou sempre ansioso para contar todas as coisa que aconteceram durante a semana

Hoje fui ao um mercado, sério! Mas o incrível é que dentro tem um café
fui com dois amigos da faculdade. Já falei muito de

estão sendo incríveis comigo
consigo ser o idiota que você gosta.
Você ainda gosta de mim?

eu t

” 01 setembro, 2008.

Pedro analisava cada pedaço de papel que derrubou da caixa que recebeu de sua tia pela manhã. Não achou que encontraria destroços de cartas, talvez algum objeto de Estevan que os comprometesse, mas não cartas.
O chão estava coberto pedaços de papéis, ele não poderia contar ou se quer juntar as partes para entender as cartas. E também não era necessário. A cada parágrafo ou linha que ausente ele parecia estar presente quando Estevan as estava escrevendo. Os elogios pareciam reconstruir as linhas e as promessas de amor eterno completavam as frases que terminavam com “eu te amo”.
Estevan estava sorrindo, talvez forçando risadas sobre os assuntos intelectuais que mantinha frequentemente com os colegas da faculdade nova. Antigamente Estevan estaria entusiasmado com as comparações que faziam despreocupados com a veracidade das igualdades, porém agora sentia que precisava se esforçar. Os dias eram longos, como ele sempre anotava em suas apostilas universitárias, os cantos pareciam paredes de prisão com tantas anotações e números que marcavam os dias.
Uma hora depois estava na hora marcada, sempre no mesmo local, ouviu o sinal que o tirava da liberdade assistida e o transferia para o regime solitário. Seu tio, irmão de seu pai, parece uma cópia diabólica de seu pai. Às vezes pensava em fingir um descontrole e, com toda a raiva que juntava ao longo dos dias, descontar no rosto de seu tio. Talvez a dor fosse igual ao a semelhança dos dois. Seria um estrago épico à estrutura de um rosto.

Os intervalos entre as aulas eram agradáveis. Seus amigos, Ed e Julianne, esforçavam-se para provar que se Estevan tentasse esquecer a dor talvez ela fosse realmente embora. A conversa sempre era produtiva, e dessa vez ultrapassou os limites que Estevan mantinha com os amigos. Ele realmente conseguiu esquecer os problemas. Esquecera que tinha pai, esquecera a mãe controladora mas sempre ausente, esquecera seu quarto, sua cama, seu amor. Não lembrava mais que cicatrizes um dia já possuíra. Por fim, não lembrava mais de Pedro.
Por um minuto deixou os risos espontâneos de lado e enfiou a mão no bolso para checar o celular. Uma nova mensagem.
“ME ESQUECE, ACABOU. POR FAVOR”


Estevan implorava aos amigos dinheiro. Saiu da faculdade direto para o aeroporto. Já não havia caminho para voltar, só lhe restava dor. Estevan imagina que tudo que estava sentindo era coragem por finalmente decidir seu destino.
Pedro não chorou e disse a si mesmo que não iria chorar. Ele segurava os papéis com firmeza. Como pôde ser tão fraco? Como desistira de tudo? Perguntava-se várias e várias vezes, mas sabia as respostas que procurava estavam com uma única pessoa. E ela não estava mais lá, nunca mais estaria.


Durante toda a manhã Victória pensou em como resolver todos os seus problemas. Ela não sabia o porquê de ser tão má com a irmã ou porque repudiava o apoio da família. Sempre sentia inferior, eles pareciam torna-la inferior. Agora, eles à tornavam estúpida. Eram eles que faziam esses sentimentos ruins fluírem de dentro dela. Odiava-se por odiá-los.

—Não tem lixo? — Um senhor estava em pé ao lado da catraca do ônibus. Ele parecia fraco, suas roupas eram simples e o boné vermelho só destacava o seu rosto caído. O cobrador do ônibus balançou a cabeça em tom de desaprovação. O senhor, no entanto, entendeu aquilo como uma resposta. Como um não. Voltou à sentar-se no acento preferencial. Estava com alguns pedaços de papel na mão e uma pequena embalagem de balinha. Ao tentar colocar o lixo no bolso, sua mão forçou o bolso e, sem querer, derrubou tudo que segurava no chão.

O balanço do ônibus não o impediu de levantar-se do banco para recolher o lixo ao chão. Victória não sabia por que prestava tanta atenção nos movimentos daquele velho homem. Ela percebeu que algumas pessoas o observavam com o mesmo olhar com que o cobrador o evitava. O senhor recolheu um velho jornal em baixo do acento e, lentamente, voltou a sentar. Após a leitura, ele enrolou as folhas do jornal em como uma bolinha. E nada mais fez, apenas esperava o ponto de ônibus certo para descer. Esse havia sido o momento mais estranho que Victória passou em toda a vida. Não pelo que presenciou, mas sim pelo que sentiu. Ela enxergou-se na cena, e não sabia como. Ela continuou sentada observando-o. Um dia, ela pensou, já ter encontrado aquele senhor. Ou como costumava achar que conhecia todos, logo descreveu a situação como casual.
—Ora, quantas pessoas derrubam as coisas no chão!? — falou em voz alta. O rapaz ao seu lado a encarou com julgamento. Victória percebeu o que acabara de fazer. Pela primeira vez falou sozinha sobre o que sentia. Sobre a dúvida. Rapidamente levantou-se e desceu do ônibus. Ainda corriam perguntas em sua cabeça. Victória gostaria de dizer a alguém que sofreu de epifania, mas não tinha certeza do que sentiu ao presenciar uma situação tão comum. Ela duvidava, porém apenas não queria admitir que agia como uma idiota e não poderia culpar ninguém por suas atitudes, e não poderia nomear de outra forma tudo que havia feito além de idiotice. Não ocorrera nenhuma epifania, apenas conclusão de fatos. Victória era uma idiota, em suas próprias palavras.
—Urrrr — murmurou.


Augusto atendeu o interfone.
— É o Augusto? Tem um menino querendo falar com você aqui na portaria. Disse que é urgente.
—Pode deixar ele subir.
—Acho melhor você descer aqui. — O porteiro abaixou o tom da voz e concluiu — ele está um pouco... transtornado. Acho melhor...
—Tudo bem, já vou. — Interrompeu. Saiu do apartamento apressado. Correu todo o corredor para não perder o elevador. Ao chegar ao térreo, avistou Pedro. O porteiro imediatamente destravou o portão, o barulho da trava destrancando anunciou a Pedro a chegada de Augusto. Saiu rapidamente e fitou Pedro que estava inquieto. Pedro segurou os braços de Augusto.
— Eu não queria... é sério — Pedro começou a falar sem parar, de repente se desesperou e embaralhou as falas que tinha planejado.
— Não quero que algo aconteça de mal com você. Eu gosto de você. Minha culpa... Não queria, mas não pude segurar... me sentia sozinho... me desculpe...
— Calma! Calma... — Augusto puxou Pedro e o envolveu em seus braços. Ele apertava-o como demonstração de afeto. Queria dizer que ali ele estava seguro. Ainda não entendia o porque ele o procurou e o motivo das coisas que antes não conseguia falar.
—Você... — Pedro chorava e seu desespero prendeu a atenção de augusto. Nenhum dos dois percebeu que um carro estacionou no outro lado da rua. Uma pessoa desceu do carro tão rápido quanto estacionou, não fechou a porta do motorista. Augusto levantou o olhar e enxergou uma sombra que corria em sua direção. Por um segundo voltou a observar Pedro e, na fração de segundo, foi atingido por um cano de ferro. Seus olhos agora dobravam imagens paralelas. Não sabia mais o que estava acontecendo, antes que seus olhos pesados fechassem-se ele observava vultos apressados. Vultos que pareciam pular em cima de sua cabeça e sobre todo o seu corpo, e antes que o zumbido em seus ouvidos fosse consumido pelo silêncio, só conseguia notar gritos abafados. Não poderia mais dizer a Pedro que ele estava seguro.


Próximo e Último Capítulo: Amanda

terça-feira, 6 de julho de 2010

Os Gigantes estão Chegando: Victória

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro, Capítulo 4: Augusto


—Acorda! Acorda logo! — Victoria acordou assustada. Ainda com a visão embassada, ela percebeu a irmã que estava sacudindo uma calça verde com toda força possível. Sonolenta, Victória não sabia o que fazer até que começou a ser golpeada pela irmã.
Arghh! Quem mandou você fazer isso com minha calça? Você é louca, guria? Vai se ferrar sua idiota!
— O quê? — esperneou
— Olha a mancha na minha calça. Olha o tamanho disso. — Um segundo foi o suficiente para que a irmã de Victória esfregasse a calça na sua cara. Como impulso ela se desviou e a agarrou com força com a intenção de distribuir toda sua raiva matinal na irmã. Os gritos se perdiam nos puxões de cabelo quando Victória recebeu um arranhão com de unhas no rosto e se preparava para socar a irmã, sua mãe apareceu apartando toda confusão.
— Que maluquice é essa? — gritou
Vad...
— Olha a boca! — Advertiu. Por que você está brigando com sua irmã?
— Eu? — Exclamou Victória.
— É essa maluca que manchou minha calça. Olha que ridículo isso, o que vou usar agora?
— É por isso toda essa briga? Me dá essa calça aqui e calem a boca. E você Ana, se ouvir mais um palavrão saindo dessa sua boca imunda. Você nunca mais vai por o pé na rua, entendeu? — Com força puxou a calça das mãos de Ana.
— E Victória, para de implicar com sua irmã. — Victória percebia o olhar de reprovação que recebia da mãe. Por muitas vezes era culpada por brigas que não começara ou situações que não estava presente. O sermão da mãe se repetia toda semana e o sorriso de Ana estampava cada vitória no tribunal materno.
Ao se virar, viu caído no criado-mudo o relógio-despertador-rádio que ganhara de aniversário dos seus amigos. Rosa com desenhos desbotados, era o único item quem não estava esparramado na pequena mesinha. Em vermelho ele mostrava ser 11:32am. Como em todos os sábados, Victória não esperava a hora de casa e, talvez, poder respirar longe da irmã.
O nostálgico cenário do supermercado pela manhã fazia Pedro lembrar mais dos pais. Uma semana e hoje finalmente voltavam para livrá-lo de sua tia. Empurrando o carrinho carregado de compras, tentava não se esforçar o suficiente para ficar bem distante daquela criatura irmã de sua mãe.
— Você pode vir mais rápido, Pe-dro?
— Sim, Tia. — Sem muita vontade, encostou o carrinho de compras ao lado da megera.
— Querido, será que você pode me fazer um favor? Ah, que besteira a minha. Você pode me fazer um favor sim. Não é mesmo? — Perversa, riu. — Vá buscar um desinfetante e esponjas novas. Assim podemos ir embora. Mas por favor, vá logo! — Pedro não podia fazer nada, pois em algumas horas estaria livre daquela mulher. A mulher que durante sete dias, desejou que estivesse morta no lugar de Estevan. Passando pelo corredor, Fabrício acompanha sua mãe nas compras. As mudanças repentinas em sua vida o fizeram não querer passar mais tempo com a mãe, já que as lembranças que rodeavam sua cabeça só o atormentavam em relação ao pai, um sentimento que não queria admitir. O pai havia o abandonado e, o pior de tudo, parecia não importar-se com tal frieza.
— Mãe, você pode indo. Te alcanço no caixa, tudo bem? — Sorriu.
— Ah, tudo bem. Filho, mas chega de comprar besteira. Já tem muita coisa aqui, sua namorada não precisa ficar gorda. — Fabrício não se recordava da última vez que ouvira uma piada de sua mãe. Agora que estavam tão bem, ele conseguia perceber que era o seu constante mau humor que impedia a família de um novo recomeço.
Dirigiu-se sutilmente para o lado da senhora de média estatura e cabelos tingidos de ruivo, a tia de Pedro.
— Bom dia... err... Senhora? — tentou soar gentil.
— Ah... Bom dia. O que você... quer? — com um olhar analítico, ela percorreu todo semblante de Fabrício e por fim, pareceu reprovar o jeito que o menino se vestia.
— Eu tentaria ser mais educado, mas acho que a senhora prefere algo mais direto. Então é o seguinte esquema. Eu quero que você comece a pensar no que fala para o meu amigo, entendeu? Ou talvez, se preferir, cale a merda da sua boca para sempre. Não tente culpa-lo pelas besteiras que você e o idiota do marido fizeram de errado. Não foram capaz de ajudar o próprio filho quando ele precisava mais?
— Quem é voc... — tentou interromper.
— Sem mais. Eu não entendo a droga que a senhora tomou ou que porcaria a senhora quer fazer da vida do meu amigo. Seja lá o que o seu filho foi; eu sugiro que você comece a se culpar e não o Pedro. Que... droga! Foi a única pessoa que tentou entender seu filho. E sinceramente? Espero que você vá para o inferno e, talvez, a gente se encontre lá. Por fim, ou você muda ou eu volto aqui e enfio esse pacote de macarrão na sua boca de fossa. — a raiva a paralisou, o que foi ótimo para Fabrício que estava com medo de atacar aquela senhora de cara arrogante no meio da seção de massas. Felizmente conseguiu conter-se.
— O que você vai querer comer? — perguntou Guto.
— Sei lá. Tanto faz. Eu só queria sair de casa.
— Pizza?
Ok. — os dois passaram a tarde juntos conversando sobre tudo que vinha à mente. Guto tentava aconselhar a amiga de todas as maneiras possíveis, mas a certo ponto a conversa sobre os problemas de Victória morreu. O clima triste pairava.
— Por que você ainda não está falando com o Pedro? — enfim Victória quebrava o clima de tristeza que Guto estava sentindo pela amiga. Porém, agora as dúvidas rondavam a conversa.
— É difícil explicar. Eu não sei o que dizer e não quero estragar as coisas...
— Por favor, ? Estragar o quê?
— A amizade.
— Mas está na cara dele que ele gostava e você. Daí você fica ignorando ele?
— Não é de...
— E quando você pretende falar com ele?
— Não sei — Guto estava sentindo que a Victória estava se alterando, estava demonstrando raiva.
— Desculpa. — Victória chorou — Eu não sei o que fazer, sabe. Desculpa brigar com você por nada, mas você tem a oportunidade de amar alguém e fica indeciso? As coisas eram mais fáceis quando a gente não sabia de nada.
— Eu entendo — respondeu Guto tentando consolar a tristeza de Victória.
— Quando a Cláudia estava mal... droga! Por favor, eu não quero ficar longe de vocês. É com vocês que eu me sinto bem. — alguns minutos em silêncio se tornavam horas abraçada com Guto.
— Não estrague tudo, Augusto. — tentou rir. Guto explicou tudo que sentia para Victória e os dois resolveram mudar o possível para não estragar a amizade que tinham com os amigos. Victória também prometeu mudanças e, decididos, seguiram para suas casas. — Você acha que eu devo falar com o Pedro agora?
— Não. Acho que os pais dele chegam hoje de viagem. Acho melhor você falar segunda antes da aula ou, sei lá, amanhã. A gente dá um jeito. — sorriu.

Victória chegou entrou no apartamento e percebeu um cheiro agradável vindo da cozinha. Estavam sua mãe e seu pai sentados na mesa de frente para Ana. O cheiro convidava-a para se sentar, mas ainda tinha dúvidas se era bem-vinda.
— Senta logo aí, sua chata. — brincou Ana.
— Filha, a comida está ótima. — seu pai nunca pareceu ser tão gentil quanto hoje, apesar de Victória sempre enxergar o pai como o homem mais cavalheiro do mundo, nunca imaginou que ele pudesse parecer mais agradável apenas pronunciando pouquíssimas palavras. Ao sentar ao lado da irmã, Victória percebeu que Ana estava usando a calça verde de mais cedo. Aparentemente a mancha teria saído, assim como sua raiva pela irmã caçula também. O alivio que sentiu depois de uma longa tarde de conversa com Guto, pareceu cura-la de todo ódio.

Ao mesmo tempo na casa de Fabrício, a conversa se estendia pela noite. Amanda e sua mãe estavam se entendendo muito bem e, juntas, tramaram para que Fabrício arrumasse e lavasse toda a louça do jantar, o que fez Fabrício se sentir bem mesmo com tanta coisa para limpar. Ele realmente estava amando aquela garota.

Pedro não entendia o silêncio em que sua tia mantinha durante o restante do sábado e também não se importava. Estava feliz por receber seus pais de volta. O casal atravessou a porta da frente com gigantescas malas e os maiores sorrisos do mundo. Depois de se acomodarem, se sentaram para jantar e insistiram para que a tia de Pedro ficasse, mas um simples olhar que ele deu para a mulher fez com que ela recusasse e, além de tudo, desejasse chegar ir para casa o mais rápido possível para se desbordar em lágrimas de arrependimento. Pedro estava livre.


— Filho, alguém quer falar com você. — o pai de Guto o passou o telefone — eu não sei quem é.
— Alô? — Guto não imaginava receber uma ligação durante o jantar. — Alô? — Guto repetiu. Ele e o pai jantavam tarde da noite, não era de costume receber qualquer ligação. Um murmuro quebrou o silêncio do outro lado da ligação.
Delinque... Filho de uma desgraçada, como você pode fazer isso com a gente? Minha fam... lia. — mais algumas palavras foram pronunciadas, mas Guto não conseguiu entender. A qualidade da ligação estava péssima e quem estava do outro lado da ligação aparentava estar alcoolizado. Por fim, a ligação caiu.
— Quem era? — Guto estava desnorteado e não soube responder o pai. Um sentimento de medo parecia esgana-lo com força.


Próximo Capítulo: Estevan

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Augusto

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia, Capítulo 3: Pedro



Augusto estava dirigindo seu grande carro azul com toda atenção que alguém usaria para montar uma torre de cartas. Logo ele avistou uma enorme placa que indicava a saída da grande cidade, segundos depois a pequena tela do GPS apitou avisando o inicio do quilômetro oitenta. Com cuidado retirou a mão direita do volante e apertou um botão azul ao lado do aparelho. Um som engraçado soou e uma voz de secretaria eletrônica se pronunciou: quilômetro oitenta há uma hora do destino final. 14h34 pm. Pnnn.
— Pai! Por favor! — Augusto nunca se acostumara à mania que o pai, Augusto, tinha de ligar o speech do GPS. Há quatro anos que seu pai tinha comprado o novo aparelho, que muitas vezes não servia para nada.
— Filho, segurança é... Pnnn... Tudo. — em baixa velocidade, o carro fez a curva.
— Tá, mas a Cláudia não está bem e ... Pnnn... Tem como a gente chegar logo? — Cláudia estava encolhida no banco de trás ao lado de Guto, seu rosto estava com uma aparência mais suave apesar das marcas vermelhas e uma leve cicatriz no alto da bochecha.
— Não... tudo bem, Guto. Já é dem... — ela não conseguiu terminar a frase, sua garganta ainda rasgava quando tentava aumentar o tom da sua voz rouca.
— Ahnn, deixa de ser chato Guto. Ninguém, além da Cláudia, sabe onde fica a casa da vó dela. E o GPS não vai ajudar? Mesmo que... Pnnn... — interrompida pelo barulho irritante do GPS, Victória decidiu não terminar sua bronca diria ao seu melhor amigo que, sempre que possível, arranja algum motivo para implicar com o pai.
Meia hora depois o pai de Guto decidiu reabastecer o carro, sem qualquer necessidade, pois o carro ainda estava com metade do tanque cheio.
— Então, enquanto eu recarrego o...
— Reabastece — disse Guto, interrompendo o pai.
— Ah, enquanto eu reabasteço o carro, vocês vão querer alguma coisa da loja de conveniência? Alguma comida? Algo para beber? Talvez...
— Pai, só me dá o dinheiro ok?
— Tudo bem... Aqui está Victória, acho que você pode... — o pai de Guto mexeu a boca querendo murmurar algo para Victória, sem sucesso, pois ela não entendeu nada.
— Ah, ele vai parar de reclamar sim — disse. Cláudia e Guto saíram do carro, Victória abriu a porta e se impulsionou para perto do amigo.
— Cara, para de reclamar, você está falando mais que a merda do GPS! O seu pai não tinha que levar a gente para lugar nenhum, ele é maluco de tentar ajudar! E você ainda reclama? Eu sou sua amiga, mas isso não impede que eu te mate. Que saco! — irritada seguiu até a loja, deixando Cláudia e Guto parados ao lado do carro. Cláudia estava se sentindo mal por estar incomodado e quando estava prestes pedir desculpas pelo estresse de Guto, ele foi mais rápido.
— Não é sua culpa... é que... meu pai é um saco! — disse irritado.
— Não mais que o meu... né? — brincou
— Ahhh... é... desculpe.
— Tudo bem. Guto, posso te perguntar uma coisa?
— Uh, Claro — afirmou, sem mesmo entender o porque a amiga iria perguntar algo naquele exato momento. Um momento dos mais estranhos da vida dela.
— Por que você está assim, sabe? Estressado. E não é com seu pai, dá para perceber que você só... — Cláudia engoliu seco, tentando aliviar a dor da garganta, mas decidiu prosseguir mesmo sentindo dor — Sabe, descontando nele.
— Sério?
— Ahum.
— Não sei se é algo que... ah, nós somos amigos, né? E eu sou um idiota, eu estava conversando com o Fish e praticamente disse que ele era um merda. E o Pedro também, eu ignorei ele total... sabe... por que ... você precisa de ajuda...
— Acho... que a culpa toda aqui é minha, né? — Cláudia se sentia mal por causar tanta confusão e transtorno.
— Não! A gente sabe que não é sua culpa. Arghh! É que... merda... eu gosto do Pedro — Guto estampou uma careta que expressava dúvida. — Você... acha?...
— Estranho? — Cláudia riu.
— Guto, você lembra da festa daquela menina do segundo ano? Você fez do quarto dela uma festa particular — tossiu — e acho que sexo você fez com ela, a irmã dela... e o primo dela, não foi algo muito comum, né? Todo mundo sabe que você é bi... — Cláudia finalmente conseguiu expressar um sorriso verdadeiro desde o inicio viagem.
— É... mas... — Guto não sabia o que dizer, então riu. Os dois pareciam se entender muito bem e ao mesmo tempo Cláudia riu.
— Grande festa, né? — disse rindo. Victória entregou uma garrafa de suco de frutas vermelhas para Cláudia e uma sacola para Guto, cheia de pacotes de doces e mais coisas que Victória gostava de comer.
— Vocês estavam rindo muito. O quê era? — perguntou, abrindo ao mesmo tempo um pequeno pacote de alcaçuz cítricos.
— Ah, na...
— O Guto gosta do Pedro — interrompeu Cláudia.
— Sério? — Victória riu.
— Ahh — Guto murmurou envergonhado.
— É, um dia ele ia escolher algo, né? Ia parar de ficar sempre com três — Cláudia demonstrou uma animação que jamais tivesse mostrado para seus amigos. Victória colocou o braço sobre o ombro de Cláudia e sorriu para Guto.
— Amigo, todo mundo sabia...
— Ah, para vai. Ninguém sabia... eu nunca disse — contestou
— É, mas eu já sabia. Lembra você a primeira vez que o Pedro ficou caído de bêbado? E eu, a Cláudia e ele tivemos que dormir na sua casa?
— Ahhh não! Voc... — Guto nunca ficava envergonhado com as coisas que fazia nas festas que ia com os amigos, muitas vezes ficava com todo mundo que quisesse e bebia sem ter vergonha das conseqüências.
— Eu vi você beijando ele. O que foi nojento né, amigo. Ele estava bêbado. — o que Victória disse fez Cláudia rir da situação constrangendo que o amigo estava.
— E você já ficou com todas do terceiro, e mais algumas pessoas do segundo, né? Poderia ter muito bem ter... você sabe — Victória riu.


— É ela — Fish apontou para uma menina loira que estava subindo a escadaria da escola. Quando ela se aproximou, eles trocaram um longo beijo que deixou Pedro constrangido. — Hein, tem certeza que não quer vir com a gente? Ah... essa é a Amanda.
— Prazer... Amanda. — Pedro tentou cumprimentar a garota, mas o máximo que conseguiu fazer foi um singelo movimento com a mão.
— Vamos cara, a gente só vai no shopping... no cinema, comer... essas coisas — Fish incentivou o amigo a manhã inteira, e sua insistência foi tanta que acabara convencendo-o.
— Ah... okay... mas preciso ir em casa primeiro.
— Não precisa, a gente pode deixar as coisas no carro. — Amanda disse.
— É, cara... — Fish sorriu, o que fez Pedro perceber que pela primeira vez Fish parecia estar completamente feliz e... controlado. Se quer lembrava o cara arruaceiro e aborrecido de sempre, não parecia ser Fish. Talvez tivesse se tornado no Fabrício que ninguém conhecia.
O dia estava sendo agradável para todos. Pedro parecia gostar mais de Amanda, a menina que conseguiu mudar seu amigo em alguém mais legal do que era. A menina magra, loira, que vestia um vestido estampado com um enorme decote em formato de coração nas costas e uma galocha cinza, não parecia mais uma menina bonita e estranha. Agora ela aparentava ser bonita e estranhamente legal. Pedro se sentiu livre em contar o que estava acontecendo em sua vida para o amigo e namorada. Fish, agora Fabrício, parecia entender o que o amigo estava sentindo e tentava aconselha-lo em tudo que podia. Amanda também tentava ajudar em tudo que podia. E o mais importante, Pedro se sentia aliviado em poder contar para alguém o que estava sentindo e ter alguém disposto a conversar e tentar ajudar, assim como os dois novos amigos estavam fazendo. Um novo velho amigo e uma nova amiga.


— Então quer dizer que você estavam rindo das fotos do Pedro nu? No note do seu pai? — Cláudia riu, ela parecia não acreditar que Guto tinha feito isso com o amigo. Fotografado um momento ridículo daqueles. Mas mesmo assim, ela continuava rindo.
— E ainda tinha um vídeo dele conversando com o Pedro. Aquele notebook está cheio de relíquias da gente bêbada. — Victória riu.
— Ei.. crian— o pai de Guto excitou quando percebeu que ia dizer crianças, então tentou disfarçar — nos já vamos.
— Okay pai. — Guto tentou parecer o mais gentil possível, mesmo tendo pronunciado apenas duas palavras. O restante da viagem foi muito agradável, a conversa dos amigos seguiu mesmo com o barulho continuo do GPS. Eles não perceberam que já tinham chegado ao apartamento da vó de Cláudia até o carro estacionar em frente um prédio azul e branco. Eles interfonaram a Vó Dolce, como Cláudia à chamava, e já no apartamento tiveram uma longa conversa com a senhora que se vestia elegantemente. Vó Dolce tinha uma aparência jovem, aparentava se cuidar bastante. Longas horas de conversa e Victória e Guto explicavam o que tinha acontecido, enquanto o pai de Guto ficava apreensivo com a resposta da senhora. Depois de Cláudia expressar o que estava sentindo, sua avó disse:

— Você sabe que sua mãe vai perceber que você não está em casa quando chegar, né?
— Sim, vó... — respondeu
— Minha filha é uma péssima mãe em deixar isso acontecer com você. Deixar seu pai te culpar pelo acidente de carro que ela sofreu quando estava grávida, é o maior absurdo que ela poderia ter feito. Você pode ficar aqui comigo o quanto quiser, mas nós teremos que resolver isso... — A despedida de Cláudia foi recheada de agradecimentos aos amigos, agradecimentos que se perdiam em lágrimas continuas. Um bom tempo depois, Guto e Victória estavam se despedindo de dentro do carro para Cláudia, tentando esconder a tristeza de deixar a amiga longe.

— A gente te ama... — Guto gritou.
— E para de tomar gim! — Cláudia riu, Victória mandou um beijo dramático da janela do carro para a amiga. Talvez o último beijo que ela receberia da amiga viciada em gim com frutas.




Próximo Capítulo: Victória

sábado, 12 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Pedro

Gigantes Anteriores: Capítulo 1: Fish, Capítulo 2: Cláudia


— Eu passei a noite preso e vocês não estavam nem ai! Vai a merda — Fish gritou
— Foi mal, ok. Você já pode calar a boca, todo mundo aqui ouviu. — Augusto não sabia como explicar como ninguém notou a falta do amigo depois da desastrosa festa. Na verdade, Fish não era uma boa companhia, sempre irritado e com piadas idiotas. Augusto achava que o amigo era egocêntrico demais para pedir ajuda, mas Fish realmente estava triste por ter sido esquecido e privado de ajuda.
— Pensei que você tivesse ido para casa. Todo mundo foi... desculpa — disse Pedro lamentando o que aconteceu.
— Ah, que se foda! — Fish se levantou e seguiu para sua classe sem deixar qualquer espaço para outros pedidos de desculpas. Ele era o único do grupo que não estudava mais na mesma sala. No inicio do ano foi transferido para o 3MC por mal comportamento, o que os professores nomeavam na ficha escolar de ABR/CI (Aluno com Baixo Rendimento e Comportamento Indevido) . O sinal tocou e todos os alunos se dirigiram para suas classes. A professora de biologia estava demorando mais do que de costume para chegar, mas de repente ela adentrou a sala e antes mesmo de organizar-se em sua mesa disse:

— Augusto? — perguntou balançando a cabeça para encontrar o aluno.
— Sim — respondeu levantando a mão.
— A Coordenação mandou informa-lhe que você tem uma visita na sala B do secretariado. O senhor pode ir, mas não demore muito. Quero vê-lo aqui antes do termino na aula. Entendido? — advertiu Augusto, muito conhecido por demorar em suas idas ao banheiro e saídas repentinas.
— Ah-h... sim!? — levantou-se e rapidamente saiu da sala. Pedro não entendeu o motivo da visita, mas algo despertava uma profunda preocupação com o amigo.
A vida escolar de Pedro não era conturbada, sempre recebia avaliações altas dos professores. Os únicos problemas que vinham estampados em seu boletim eram faltas excessivas nas matérias de Educação Física e Lab. de Química, que costumava matar com os amigos.
Vários minutos depois Augusto retornara e apreensivo com a demora logo se sentou.
— O que foi? — Pedro rapidamente perguntou.
— Ah... era a Vicky... Mas...
— O que ela queria? Por que ela não me...
— Não era nada demais. Ela queria falar comigo. Só isso — Augusto interrompeu tentando desconversar. Pedro desconcertou-se na cadeira sem saber o que dizer para obter uma resposta.


No fim da manhã Pedro sequer viu Augusto indo embora, talvez tivesse demorado demais para recolher os materiais, mesmo portando apenas um caderno e alguns livros. Na escadaria da escola encontrou-se com Fish.
— Você viu o Guto? — perguntou
— Sei lá. Por quê? — Fish respondeu com tom de desdenho.
— A Vicky apareceu na escola e parece que aconteceu alguma coisa. Não sei, ele não quis contar. E depois quando a aula terminou ele sumiu. — disse apreensivo.
— Talvez ela tenha chamado ele para f...
— Haha — Pedro fitou os olhos de Fish e pareceu desprezar toda presença de Fish em sua vida, que logo percebeu o incomodo do amigo e decidiu ir embora sem qualquer cerimônia de despedidas. Chegando em casa, Pedro correu para o quarto e quando estava subindo as escadas ouviu sua tia chamá-lo.
— Pedro, querido! Venha cá. — exclamou. Ele tentou ignorar, mas sua tia logo apareceu no hall e observou o que o sobrinho estava fazendo.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou. Sem entender, Pedro respondeu
— Eu... eu estava indo para o meu quarto.
— Não, querido. Você vai almoçar antes. Venha.
— Então vou tomar um banho antes. — continuou a subir as escadas.
— Não! Você vai almoçar agora, depois você faz o que quiser. — o tom de voz de sua tia expressava sua raiva repentina. Pedro então largou sua mochila na escada e se dirigiu para a cozinha. Rose estava secando a louça e quando percebeu a presença de Pedro lançou um olhar de tédio para a tia do garoto. Pedro sorriu.
— Aqui está. — em sua frente estava um prato enorme de comida. Um pequeno filé de frango sumia dentre uma enorme quantidade de salada de grão-de-bico. O arroz era o único elemento que compunha a refeição que não o causava náuseas.
— Eu não... err... Acho que perdi a fome, tia. — tentou justificar a cara desagradável que fez para o prato.
— Roseanne, querida. Você pode ir na área de serviço verificar se a roupa que está na máquina já está lavada? Por favor? — Rose secou as mãos na toalha de prato que estava ao lado da pia e se retirou da cozinha.
— Obrigada — disse. A tia de pedro contornou a mesa e, bem próximo a Pedro, sussurrou:
— Você pensa que não sabemos o que você fez com nosso filho? Meu marido ainda lamenta a morte do nosso querido filho, e tudo por sua culpa. Como você pôde fazer isso com a gente? Você é um mulequinho depravado, que acabou destruído uma familia inteira. Se eu fosse você e quisesse continuar guardando esse segredo dos meus pais, eu levaria esse prato para meu quarto e o enfiaria todo em minha boca sem reclamar. Você entendeu? — Pedro sentiu suas pernas adormecerem, levou longos segundos para se levantar e recolher o prato da mesa.
— E outra coisa querido. Pare de enviar mensagens depravadas para outros meninos na internet. Os pais deles podem ler. E você pode se dar muito mal. Se é que você me entende — após concluir sua sentença, a tia de Pedro sentou-se e começou a cortar violentamente um pedaço de carne de frango.


Isso pode parecer estranho, mas tenho uma coisa para te contar. Espero que você não me ignore depois do que vou te dizer, P. Acho que depois do domingo passado, não consigo mais parar de pensar em você. É estranho!! Não sei se você sente a mesma coisa... mas acho que estou apaixonado por você. E, Pê, não vejo a hora de poder te beijar de novo.
Ahhhhhh, outra coisa.... fiquei com seu anel. É um motivo genial para você vir me visitar aqui em casa. Prometo que aviso quando meu pai passar o dia fora. Ninguém vai chegar e acabar com o clima... bjosss.....

Recebido em 23 de Julho de 2008. Enviado por: Estevan C. Albuquerque.

Em seu Gmail Pedro tinha um grupo nomeado "E" onde guardava alguns dos emails que recebera do primo. Fazia um ano que não os relia, o que fez por várias vezes no ano passado quando soube da morte do primo. Juntos, eles mantinham um relacionamento secreto desde fevereiro de 2008.
Desesperado Pedro apagou todo os seus registros de conversa e , por horas, tentou apagar os emails do grupo "E", mas não conseguiu. A imagem de Estevan rondava seus olhos e o espremia em angustia, uma dor mais pesada da que sentiu quando observou o caixão do primo sendo enterrado. Mas, apesar de tudo, não conseguia entender porque só agora sua tia descobrira tudo. Talvez tivesse vasculhado o computador do filho procurando lembranças... ou... o que Pedro desconfiava tivesse vindo à tona.
Uma vez Pedro estava com Estevan no shopping, eles tinham marcado um encontro rápido por sms. Estevan estava matando aula no cursinho pré-vestibular, mas parecia ter se arrumado categóricamente para o encontro. Ele trajava uma camiseta preta preta por baixo de uma jaqueta cobre e uma calça manchada azul. Pedro sempre fazia piada com a calça de Estevan, pois ela parecia ter sido mal lavada ou bombardeada por balões de tinta branca, mas o marcante era o perfume que ele sentia quando estavam juntos. Parecia fluir de todo lugar e hipnotizar-lo. Estevan sempre chamava a atenção das meninas, o que deixava Pedro desconfortavel, mas Estevan não se importava. Gostava de passar os dias com o namorado secreto. Nesse dia Estevan foi chamado atenção por uma jovem menina que lhe entregou um papel com o email aparentemente da amiga que estava sentada quatro mesas a frente deles. Pedro, tímido, resolveu confessar que não havia gostado da atenção que Estevan deu ao recado. Foi então que Estevan colocou a mão em cima da de Pedro e o puxou dando um breve e doce beijo. Até que o celular de Estevan tocou o que ele disse ser o pai após atender. Pedro observava-o responder o pai, quando percebeu que o tio parecia estar do outro lado da praça de alimentação, provavelmente observando toda a cena. O tio rapidamente se retirou do local, logo mais, Estevan anunciou que precisava ir para casa pois não entendera o porque o pai estava preocupado e para que precisava conversar com filho. Pedro ficou nervoso, mas tentou explicar que achava que tinha visto o tio na praça de alimentação.
Longas horas depois de conversas sobre o que poderia acontecer, Estevan disse que isso um dia iria acontecer e que não conseguiriam esconder por mais oito meses.
Eu resolvo isso, pode ficar tranquilo. Eu te amo e farei de tudo para que possamos ficar juntos. Talvez não seja nada demais, mas sonho que vai ser sempre assim. Eu e você juntos para sempre.

Uma semana depois a comunicação entre os dois parece cada vez mais difícil, e um mês depois Estevan noticiou que o pai o mandara para fazer faculdade no exterior, que ele iria morar com uns tios no Canadá. Os dois tentavam trocar mensagens e até telefonemas, mas era praticamente impossível, graças a grande vigilância que os tios tinham sobre ele. Estevan dizia estar sofrendo e não aguentar a distancia, a cada palavra triste que Pedro lia nas mensagens cortavam sua respiração e partiam seu coração. Até que Estevan fugira de volta para o Brasil. E uma semana depois de ficar em casa preso, pelo pai, sem qualquer contado com Pedro, foi encontrado morto no banheiro do quarto. Dois dias depois de chegar ao Brasil, Pedro recebera uma sms dizendo 'Meu pai não quer me deixar sair. Não sei o que faço, não consigo viver sem voc...'
Pedro sentiu-se horrível por não ter respondido a sms, mas o sentimento que o destruiria cinco dias depois seria pior, quando encontraram o corpo de Estevan no banheiro, enforcado. A culpa o asfixiava, assim como o amor fez a Estevan.


Pedro fitou os olhos na tela do computador e leu:
...Não importa! Você sabe que especial para mim. E a gente vai ficar, tudo vai ficar bem.
p.s.: Eu te amo... assim como no filme. :)

Próximo Capítulo: Augusto

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Cláudia

Gigante anterior: Fish


Os insultos se perdiam no gritos de desespero de Cláudia. Sem saber para onde olhar, ela tentava se proteger dos ataques que sofria do pai.
—Por favor.... por favor pai... — exclamava desesperadamente. Sem saber por quanto tempo estava implorando por misericórdia, e o quanto já havia chorado. Cláudia resolveu gritar por socorro.
— Você quer ajuda? É isso? — Por um breve momento os socos e tapas pararam. Quando Cláudia conseguiu abrir os olhos, segundos depois de focar a visão, observou seu pai trancando a porta do quarto.
— Você é uma vagabunda! Tantos anos de trabalho para te sustentar, pagar a escola que você estuda. Você tem tudo, você não passa fome. E você me dá apenas desgosto? Por quantas vezes vou precisar te ensinar a ser gente? Você deveria ter vergonha de se considerar alguém, sua .... — Antes de se preparar para continuar mais uma serie de insultos à filha, ele foi brutalmente interrompido por um grito de revolta que jamais imaginaria receber da filha.
— Tudo que você faz é porque me culpa pela morte do seu filho! Eu não tenho culpa do aborto da... — Cláudia estava prestes a se arrepender do que estava dizendo, quando seu pai fechou o punho e com toda força possível socou-a no rosto. O choro agora sobressaia-se pela casa. O rosto infernal do pai não transmitia qualquer emoção além de ódio pela filha.
— Você nunca mais repita isso, vagabunda! — Gritou. Já fora do quarto, ele ouvia a filha chorar. Parado no corredor ele emitiu, em tom de ordem, que ela parasse de chorar. Segundos depois, um silêncio comovente se possuía da casa. Inexorável, ele tomou fôlego e aliviado se distanciou do quarto.

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Assim, teoriza o filósofo genebrino Rousseau, grande idealizador da ... "
Enquanto o tédio destruía a sede de conhecimento de alguns alunos, que pareciam mais entretidos com seus fones de ouvido e outras atividades que não envolviam a aula de filosofia, Victória tentava conversar com Pedro sem chamar a atenção do professor. O quê não era uma missão difícil pois o professor estava fixado na narração do seu livro entediante da historia da formação da política.
— E seus pais? O que falaram quando você chegou em casa com a policia?
— Perguntou, soando como um rato.
— Putz! Acho que o pior foi eles não terem se importado muito. Disseram que eu vinha envergonhando toda a familia, e se eu não me comportasse, eles não se preocupariam em me buscar ou atender algo que fosse em minha relação. — Victória expressou um olhar triste, pois sabia o que era não importar em relação à familia.
— E a viagem de lua-de-mel?
— Eles viajaram mesmo assim. Agora tenho que ficar em casa com a empregada e acho que minha tia vai passar a semana lá. — A conversa pareceu desaparecer inexplicavelmente. Quando os olhares se voltaram para o quadro no qual o professor acabará de encher com um texto ilegível, o sinal soou e todos saíram da sala desesperadamente.
— Até a próxima aula — Lamentou o velho professor.

Sentados ao redor da mesa da lanchonete do colégio, Victória e Pedro sentiam uma ligeira falta dos amigos. Foi quando um menino passou ao lado da mesa e acenou para Pedro que respondeu singelo.
— Quem é esse?
— Um amigo do 3MC. — respondeu sem se importar muito com a pergunta.
— Esse idiota de calça laranja é do terceiro ano? — Ironizou. Pedro riu.
— Ele nem é tão idiota assim vai.... okay, ele parece um. — Os dois riram aparentemente animados por tirar sarro do menino magrelo de calça laranja.
— Por que será que o Guto não veio hoje? Será que a encrenca foi maior na casa dele? — Perguntou aflita.
— Acho que o pai do Augusto deve ter soltado leões em cima dele. A síndica do prédio deve ter contado tudo para o pai dele daí o Guto se ferrou. Ou sei lá... não quis vir à escola. — disse Pedro lamentando.
— Se com o Guto aconteceu isso, a Cláudia deve ter ficado de castigo até ficar velha e recuperar a virgindade. — disse Victória tentando deixar a conversa menos pesada.
— Nossa — Pedro começou a rir.


Pedro subiu as escadas correndo. Chegou no quarto e ligou o computador desesperado. Enquanto o computador carregava Pedro trocava de roupa. Ao invés do uniforme azul do colégio, agora trajava uma camiseta cinza e um short verdade, porém ainda estava com as meias que adorava. Uma vez Pedro chegou à comprar sete pares de meias brancas com três listras superiores de diversas cores. Quando sentou-se na poltrona em frente ao computador, sua empregada inclinou-se na porta.
— Oi Pedro, tudo bom? Sua mãe ligou e mandou avisar que chegou bem em Gramado. Ela falou um monte de coisa, eu nem me lembro mais.
— Tudo bem, Rose. Tanto faz.
— E você menino, vai querer comer hoje? — Rose trabalha na casa dos pais de Pedro há mais de cinco anos e sempre se incomodava em perguntar para Pedro o que ele gostaria de comer, mesmo sabendo que ele não iria exigir nada. Raramente almoçava, mas sempre agradecia pelo trabalho que Rose tinha em perguntar o que ele gostaria de comer.
— Nem estou com fome. Sei lá, depois eu desço e como alguma coisa. Mas obrigado Rose.
— Ah... Sua Tia ligou e disse que chega à noite. Ela vem hoje mesmo. — informou
— Aff..
— Então... era só isso mesmo. — Rose se virou e seguiu despretensiosa a escada.

No desktop de Pedro uma enorme imagem de alguma banda de rock desaparecia embaixo de tantos ícones que ele raramente cliclava. Enquanto carregava o browser da internet, Pedro percebeu um som baixo ecoando do andar abaixo, era Rose que iniciava seus trabalhos domésticos guiados por qualquer banda de sertanejo ou músicos que morreram antes mesmo da criação do CD. Rapidamente o gtalk de pedro começou a piscar, chamando sua atenção. Era Augusto animado em contar tudo que aconteceu ao amigo.

• Guto: Cara!!!! Você não sabe a merda que a gente quase pisou! LOL
Meu pai virou o capeta aqui. Começou a lamentar a ausência e blá blá´
disse que não sabia de quem era a culpa do que aconteceu, ainda quis ter uma conversa de homem para homem. HAhshHa
A sorte foi que o cheiro do cigarro não deu para notar o da maconha. A síndica nem entrou nem nada
Consegui esconder o restinho que sobrou mas tive que jogar fora!!!
Aquela velha ainda cobrou uam multa do meu pai
• PedroA.: Hahhshah, sortee!
Seu pai não te colocou de castigo. Então porq você não foi pra escola hoje?!
• Guto: Aff
Ele inventou de me levar num psicólogo. Agora tenho consulta três vzs na semana.
E o lugar lá é super tenso.... muito tédio
• PedroA.: HahahHAhA agora você vai se consultar e vão te tratar como louco
• Guto: Nem vou, Pedro. Nem vou aparecer lá. Dinheiro jogado fora... sou mais gastar em outra festa
E com você, no que deu?
• PedroA.: Nada demais....
• Guto: E as meninas? A Vickyy e a Cláudia? Tenso
• PedroA.: Com a Vicky nada tambem. Ja a Cláudia eu nem sei. tambem nem foi para a escola hj
• Guto: Serio? Sera que o pai dela brigou muito ?
• PedroA: Acho bem provavel... ele é muito idiota...
A conversa se estendeu até o fim da tarde. Até que Augusto teve que sair para fazer compras com o pai. Pedro também tinha conversado com Victória, mas ela logo teve que sair também. Ele recebeu uma sms da amiga que dizia "Aff.. Tive que sair, a idiota da minha irmã queria usar. Que raiva!!! ouh, vou na casa da Cláudia ver como ela está... qlqr coisa me liga". Pedro respondeu-a com uma breve mensagem "Não posso. Minha tia idiota vem pra cá hoje. Alguem me mata porfavorrrrr".


Victória esteve poucas vezes na casa de Cláudia. Talvez seis vezes ou menos. Uma delas ela conseguia se lembrar bem. Foi no aniversário de Cláudia em maio do ano passado. Ela tinha organizado um encontro para os amigos. Dez pessoas no máximo estavam na cozinha conversando e comendo pizza enquanto a Mãe de Cláudia, a senhora Marta, estava sendo educada e servindo todos com a maior atenção do mundo. Victória e Augusto resolveram passear pela sala e observaram a falta de quaisquer retratos nas paredes ou nas estantes. Nada além de velhos quadros de pintores que eles não conheciam e os grandes móveis decoravam a espaçosa sala. Quando foram interrompidos pelo pai de Cláudia, que aparentemente não havia gostado dos amigos da filha xeretando sua sala. Ele de dirigiu a cozinha e depois de alguns sussurros no ouvido da mulher, ela informou que a festa tinha que acabar, pois estava ficando tarde. Cláudia pensou em lamentar, mas seus olhos encontraram os enormes olhos do pai, que fizeram ela mudar de ideia rapidamente. Desde então foram raros e rápidos os encontros na casa de Cláudia.
Victória se sentia desconfortável na luxuosa casa. Talvez pelo tamanho ou pelo clima ruim que sentia toda vez que entrava lá. Victória percebeu que a persiana do quarto de Cláudia estava aberta, isso significava que ela estava em casa. Sem tocar a campainha entrou pelo portão e bateu à porta. Logo foi atendida pela Senhora Marta.

— Ah, olá Victória. — disse a Senhora Marta aparentemente surpresa pela visita.
— Oi... Eu posso falar com a Cláudia? — perguntou tentando soar como uma princesa da corte britânica.
— Creio que não, querida. Ela não está. Sinto muito.
— Como ela não está? Acabei de ligar para ela! — mentiu
— Acho que houve um eng...
— Não... Eu quero falar com ela. Por favor. — Victória não soava mais como uma menina educada, sabia que não conseguiria falar com a amiga se deixasse a Senhora Marta achar que a enganara.
— Depois do que vocês fizeram, meu marido não quer que... — enquanto a Senhora Marta tentava justificar a proibição do encontro casual que Victória estava tentando ter com a amiga, se irritou e em tom pressionou a porta.
— Você não vai falar com ela — a Senhora Marta exclamou, sem muito sucesso.
— Então ela está aí!? — Victória driblou a mãe de Cláudia, rapidamente seguiu pelo corredor e subiu as escadas. Logo atrás a Senhora Marta a seguida emitindo alguma frase que Victória não estava querendo ouvir, então ignorava. Apressou-se e então girou a maçaneta da porta do quarto da amiga. Victória parecia não acreditar no que via. Um sentimento desconhecido começava a apertar suas entranhas e sucumbia suas pernas em agonia. Cláudia estava em pé surpresa por ver a amiga ali, no seu quarto. Seu rosto estava marcado por arranhões e demasiadamente inchado. Sua sobrancelha ressaltada por um enorme inchaço preto. O silêncio desesperava cada vez mais Victória. Por várias segundos tentando se mexer e fazer ou dizer algo, mas nada conseguiu. O dissabor transbordou-se em forma de lágrimas nos olhos castanhos de Victória. De repente a Senhora Marta puxou-a com força, dizendo que ela não poderia estar ali. Por algum tempo Victória resistiu, mas a mãe de Cláudia conseguiu tirar ela do quarto e expulsa-lá de sua casa. Já na calçada Victória voltou a olhar para a janela do quarto da amiga que logo foi fechada, de maneira brusca, pela Senhora Marta.




Próximo Capitulo: Pedro

terça-feira, 8 de junho de 2010

Os Gigantes estão chegando: Fish


O caminho para colégio não parecia tão longo quando Fabrício, mais conhecido como Fish, estava distraído com seu mp3 no volume máximo. Os fones de ouvidos verdes estouravam um zumbido alto. Fish nunca teve quaisquer aparelho tecnológico além do mp3 que pegou emprestado do seu amigo de classe Pedro. Na metade do caminho ele decidiu entrar na padaria que sempre frequentava com seu pai, antes da separação que completava três exatos anos hoje.
—Iai, Julião... bom dia! — gritou para o velho senhor atrás do balcão. Sr. Júlio era o dono da padaria, morava há mais de 50 anos no bairro e não tinha uma boa audição.
—Bom dia, menino. Veio comprar o de sempre? — perguntou abrindo um longo sorriso desdentado pelo tempo.
—Claro. — Sr. Júlio estendeu o braço para pegar a caixa de cigarros que ficava na prateleira que ficava acima do balcão quando foi interrompido.
—Hmm, será que o senhor não tem o Marlboro Light?
—Light? Deixa eu ver... — Sr. Julio se levantou da cadeira com dificuldade e se virou. Do bolso tirou um molho de chaves e abriu um pequeno armário de vidro onde estocava os cigarros e os isqueiros que vendia. Aproveitando a distração do senhor, Fish pegou um bolinho de baunilha que ficava em uma pequena caixa ao redor do balcão. Quando decidiu encher a mão de chicletes de menta percebeu que uma menina, que tomava um xícara de café logo ao seu lado, o observava. rapidamente colocou tudo dentro do bolso-canguru do moleton roxo e sorriu ironicamente.
—Aqui está! — Exclamou com uma voz falha.
—Ah, valeu.
—Sabe rapaz, você deveria parar com essa desgraça. Olha o que isso fez com o velho aqui!— Sentou-se na cadeira, aliviando o corpo pesado.
—Magina. Eu sempre paro por 6 horas quando estou dormindo. Todos os dias... — Fish começou a dar passos em ré, agradecendo com a mão que segurava os cigarros.
—Julião, põe na conta da minha mãe! Valeu? — Ao apressar o passo, antes de sair na rua, piscou descaradamente para loira que ainda o observava. Ela estendeu a mão para mostrar o dedo maior, mas Fish já estava correndo pela rua.


Todos estavam sentados na escadaria em frente ao colégio. Em sentido horário estavam Cláudia, Pedro, Vicky e Augusto. De repente eles foram bombardeados por uma enorme quantidade de chicletes de menta.
—Ai... — gritou Cláudia
—Que merda é....
—Quem não quiser chiclete pode pegar e me devolver, então. — Fish subiu um degrau e sentou-se do lado de Augusto.
—Cara.... tem como você devolver meu mp3? — disse Augusto.
—Tááá... que saco. — Após retirar todo o fone de ouvido do moleton e jogou, sem cuidado qualquer, em cima do colo do amigo.
—O que vocês estavam tramando, ai?
—Matar aula para comemorar o aniversário do Pedro. — respondeu Vicky.
—Mas se a gente for mesmo fazer uma festa agora, tem que ser rápido antes que o... — Um enorme barulho de alarme rondou todos os ouvidos. Era o alarme do inicio das aulas.
—Agora? — disse Fish.

A sala do apartamento de Augusto estava tomada por fumaça. O som estava fazendo com que as taças de cristal que ficavam suspensas no armário do bar tremessem. Augusto estava deitado no canto do tapete fumando um cigarro de maconha mal feito que se desmanchou na segunda tragada. Vicky e Pedro estavam esparramados no sofá rindo de algo que viam no notebook do pai de Pedro. Parecia ser algo tão engraçado que Vicky quase derrubou o copo com vodka no sofá.
Fish colocou um quarto de licor de cereja em um copo e completou com Absolut Vodka. Quando terminou percebeu Cláudia mudando a música no som. Uma batida viciante acompanhada de um estrondo de guitarra começou a soar e Cláudia de repente começou a cantar junto com a música: Play it so safe to stay on top. Shake it, imitate it, but it still sounds old...
Fish ficou observando por alguns segundos Cláudia enlouquecer e se balançar sem qualquer controle. Vicky e Pedro gritaram. Fish derrubou o copo no chão e correu para perto de Cláudia. Ele a agarrou e a beijou com tanta força que seus lábios foram espremidos um contra o outro. Fish subiu sua mão da cintura de Cláudia puxando sua camiseta de malha branca. Em segundos Fish já estava sem o moleton, com a calça desabotoada e usando só uma regata velha. Cláudia, já sem camisa, estava com um sutiã rosa fosforescente. Enquanto beijava Fish, contorceu-se para desgrampear o sutiã quando a campainha do apartamento tocou. Antes que alguém pudesse parar a música ou pensar em atender quem estivesse na porta, ela se abriu. Lá estavam Senhora Almeida, síndica do prédio, ao lado de um policial.


A campainha soou no silêncio da casa. José Alpher, dono da grande casa abriu a porta quando para sua surpresa um policial o esperava. Logo ao lado estava sua filha, Cláudia, encolhida e de cabeça baixa. Cláudia estava o batom manchado que contrastava com o roxo do moleton que pegou de Fish.
—Senhor? Essa garota disse morar aqui? Você a conhece?
— Eu....
— Gaguejou. Senhor José tinha exercido por 35 anos o cargo de Coronel na Força Aérea Brasileira. Expressou sua raiva, que jamais viverá em todos os seus anos de serviço militar, em um olhar direto para Cláudia.
— Ela estava em uma festa em pleno horário escolar no apartamento de um individuo que ela disse ser amigo da escola. E que o senhor estava ciente... — Enquanto o Policial desenrolava as mentiras de Cláudia havia contado para amenizar sua situação, o desespero fez com que ela derramasse uma dolorosa lágrima. Por segundos segurou a respiração desejando não estar lá, mas a situação só a desesperava mais.





Próximo Capítulo: Cláudia

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas (Extra)

Capítulo extra: Caixa de Vidro


"Como seria a vida dos mortos? Um saco! De todas as coisas que podem acontecer deseje não morrer. É fácil entender porque tanta gente velha não quer morrer. O vazio se torna constante. Sua mente fica presa nos fatos anteriores, na sua vida. Todas as merdas que você já fez ficam rodeado sua mente vinte e quatro horas por dia. Pelo menos você não sente mais dor... porém, como consideração, os segundos que precedem os últimos batimentos do seu coração são os mais agonizantes possíveis. Mais dolorosos que o inferno."


Eu estava caminhando nessa merda de cidade vazia à mais de trinta minutos. Estava tudo um lixo. Alguém deu uma grande festa e esqueceu de me convidar. - Não por muito tempo. - Na esquina perto de casa havia um único carro ocupado. No banco do carona uma mulher estava sentada, acho que dormindo. Já no outro lado, apoiado na porta do lado do motorista, um cara parecia estar de porre. Ele vomitava uma coisa nojenta. Tossia e voltava a vomitar. Duas garrafas de vodka e apenas uma pequena porção de tequila dão o mesmo efeito. Eu sabia muito bem disso.

—Vai com calma, cara! — falei, tirando um bom sarro da cara do idiota. Não demorou muito e ele caiu no chão. Perdedor.

Quando cheguei em casa estranhei minha mãe não estar sentada no sofá esperando eu ou o Jonnhy. Na verdade ela estaria dormindo, como de costume, mas de acordo com meu celular eram apenas 21h. Ela estaria sonolenta, como um zombie, mas não dormindo. Revirei toda a casa, mas ela não estava lá. Pela janela notei que a casa da Senhora Dolayam estava bastante iluminada. Talvez minha mãe estivesse lá. Senhora Dolayam era a melhor amiga da minha, isso depois que meu pai nos deixou quando eu e Jonnhy nascemos. Bate na porta três vezes, ninguém respondeu então entrei. Já era de casa, não tinha vergonha de entrar assim. Na sala haviam três velas na mesa de centro que iluminavam muito bem o lugar. A cozinha também estava cheia de velas e pratos com pedaços de bolo e copos sujos. No corredor as estantes estavam com algumas velas acesas também. Depois do corredor uma pequena sala e uma porta que levava ao quarto da Senhora e do Senhor Dolayam. Em cima só haviam um quarto que eles estavam reformando para o bebê que a Senhora Dolayam estava esperando. Ela estava gorda, enorme! Acho que com uns sete ou oito meses.
Quando estava para sair, ouvi da escada um barulho que vinha do quarto do bebê. Subi aquela escada apertada com cuidado, no fim só havia porta do quarto. Abri cuidadosamente e pude ver a Senhora Dolayam revirando um pequeno armário. Ela estava tirando todas as gavetas e mexendo nas caixas cheias de objetos no chão.

—Senhora Dolayam! A senhora viu...— falei enquanto abrindo toda a porta. Foi quando notei minha mãe e o Senhor Dolayam jogados no chão. Eles estavam em cima de um plástico que estava sendo usado para proteger o carpete da sujeira da tinta da parede. Minha mãe estava toda suja de sangue. Já o Senhor Dolayam estava em uma situação pior, estava sem os olhos!

—Mais... que... porra! O que aconteceu? — gritei. Ela estava suando, seus olhos estavam enormes. Devia estar assustada com alguma coisa. Por algum motivo ela não me deu muita atenção, continuou revirando o quarto. Ela só parou quando achou uma caixa de ferramentas, de onde tirou um chave de fenda.
—O que você vai fazer com....
—Você não sabe o que eu vi. Você não tem noção, não né? — disse ela. Era notável o quanto estava nervosa.
—Calma... a Senhora pode explicar... não vai...
—Não, não posso! Sua mãe está morta! Meu marido! E eu estou morrendo... você não vai entender.
—Mas não foi a Senhora que fez isso... não é? Quem foi?
—Foi isso...—ela segurou com as duas mãos a chave de fenda e enfiou com toda força na barriga. O grito que deu em seguida foi o mais horrendo de todos. Sangue começou a sair por debaixo de seu vestido. Levantei e tentei impedi-la de continuar se mutilando. Ela começou a chorar tentando tomar a chave da minha mão.

—Você não entende. Você precisa... por favor — ela caiu no chão, mas o sangue não parou. O cheiro de tornou insuportável. Havia sangue por todo quarto. Soltei a chave no chão e percebi que a mancha de sangue no vestido da Senhora Dolayam só aumentava. Mas algo estava errado, o volume do seu vestido começou à aumentar. Como se algo estivesse saindo de sua barriga. O vestido se rasgou e algo começou à sair da barriga da Senhora Dolayam. Era uma criatura horrível. Como se fosse um bebê. Seu rosto era deformado e totalmente liso. Tinha uma pela manchada e a medida que ia saindo, seu corpo gordo parecia tremer. Era horrível, no lugar das mãos e das pernas haviam espécies de patas. Sua coluna era marcada. Quando terminara de sair do corpo da Senhora Dolayam, fez um movimento estranho. Já estava enojado quando saí correndo daquele quarto. Quase caí da escada, o que fez com que o barulho chamasse atenção da criatura. Ela seguiu se arrastando atrás de mim. Esbarrei na estante do corredor derrubando das as velas. O carpete todo entrou em chamas, a criatura que estava se arrastando rapidamente começou a se queimar. As chamas envolveram o seu corpo. Mesmo assim ela insistia em se arrastar, até que se deitou no chão e agonizou soltando um grito extremamente alto e agudo. Corri pela rua assustado enquanto aquele grito continuou soando pelos meus ouvidos. Quando virei a esquina notei que o carro do cara bêbado ainda estava lá. Como o carro ainda estava com os faróis ligados resolvi pedir ajuda, mas quando cheguei do lado do carona percebi que a mulher que estava ali também estava morta, assim como o cara jogado no chão. Notei que a chave do carro ainda estava lá. Empurrei a mulher do carona e liguei o carro. O rádio explodiu um barulho de chiado muito alto. Não tive tempo de mudar, apenas acelerei em direção ao shopping. O display do rádio marcava 21h 37 min.


—Jonnhy, quando tudo isso vai acabar? — perguntei
—Eu não sei, Bene. Espero que acabe logo. — As coisas estavam acontecendo de forma estranha, eu estava com um aperto no peito. Era como se alto estivesse me dizendo que tudo poderia piorar. Nós estávamos ali há um bom tempo e aqueles seguranças não faziam nada além de rodear a Nadhianne. um deles cutucou a perna dela com o pé. Isso foi o suficiente para irritar profundamente o Jonnhy.

—Ei! Cara mais respeito com a garota! Ela morreu e vocês não fazem porra nenhum! Porque um de vocês não vai lá em cima ou tenta chamar alguém para levar ela daqui? Vocês acham que vamos ficar esperando os anjos levarem o corpo de manhã? Nós não temos esse tempo todo! E a familia dela, seus idiotas?
—Olha aqui rapaz...
—Olha aqui nada! Essa porra de shopping não gerador? Se tivesse talvez isso não tivesse acontecido! — depois de todo o sermão de Jonnhy, um dos seguranças resolveu subir até o hall do cinema para encontrar os dois únicos seguranças que vigiavam os andares superiores. Alguns minutos depois o segurança que ficou com a gente lá embaixo tentou chamar o outro pelo walk-talk, mas ele não respondia. Um chiado estranho era o único barulho que escutávamos.

—E agora? O que seu amigo idiota foi fazer lá em cima? Dormir? Porque essa merda não funciona?— disse Jonnhy
—Okay. Já estou cansado de você ficar tagarelando, mocinho. Acho melhor você calar a boca — o segurança sacou uma arma e apontou para a cabeça de jonnhy. Eu não podia fazer nada, estava apavorada com tudo. Me sentia fraca.
—O que você vai fazer? Vai atirar em mim... e depois? — enquanto Jonnhy falava, ele fazia uns gestos para que eu saísse de trás dele. Como se estivesse planejando algo. Quando me esquivei para a esquerda Jonnhy chutou a virilha do segurança que caiu no chão de tanta dor que sentia. Jonnhy pegou a arma.

—Seu filho da puta! — gritou o segurança. Jonnhy atirou na coxa do segurança;
—Não fale da minha mãe! — Jonnhy me encarou, como se estivesse com vergonha pelo que tinha feito. Apontou a arma para a cara do segurança que não para de agonizar no chão e começou a procurar algo no bolso dele. Dali Jonnhy tirou um bolo de chaves. Depois me puxou e disse:
—Vamos, a gente tenta conseguir ajuda lá fora.
—Okay, mas e ele? — apontei para o segurança.
—Daí sabemos que ele não vai sair correndo. Né? — Jonnhy deu um sorriso amarelo tentando me acalmar. Ele não conseguiu. Corremos para a entrada principal que estava fechado com uma grade de ferro. Enquanto Jonnhy estava procurando a chave certa para liberar a porta das grades, ouvi um barulho estranho abafado vindo de fora. Como se fosse uma batida de carro ou ferragens sendo cortadas.

—Você está escutando isso? — perguntei, nervosa.
—O quê? — o barulho da tranca da grade cortou o assunto. Jonnhy me pediu ajuda para empurrar a grade para cima. Em uma só vez empurramos a grade que subiu rapidamente, logo em seguida Jonnhy fitou a tranca da porta de vidro e começou a procurar a chave para abrir; Ele não tinha notado que lá fora, perto da pista que dava acesso à frente do shopping, havia um carro capotado, totalmente destruído. Mais ao lado alguma coisa estava segurando um corpo, que era bastante familiar, era uma criatura enorme. Como se fosse um homem deformado. De repente ela fitou meus olhos como se soubesse que eu estava observando-a.

—Jonnhy... olha...— A criatura soltou o corpo, que parecia estar todo dilacerado, e começou a correr em nossa direção. Quando Jonnhy resolveu levantar a cabeça para olhar ela já estava bem perto. Ela saltou em direção a porta de vidro, em uma fração de segundos Jonnhy só conseguiu me empurrar. O Vidro da porta se explodiu em pedaços e a criatura caiu em cima de Jonnhy. Eu caí um pouco mais à frente, quase batendo a cabeça na parede lateral. Entre os pedaços de vidros e a grade de ferro que estava jogada na entrada, a criatura se levantou. A sua imagem era muito mais assustado de perto. Ofegante, ela abaixou e segurou Jonnhy pelo pescoço. Percebi que ele ainda estava vivo, não por muito tempo. Aquela coisa apertou o pescoço de Jonnhy com tanta força que seus olhos ficaram cheios de sangue. Me levantei assustada e saí. A criatura jogou Jonnhy no chão e parecia me procurar. Corri em direção a pequena Avenida em frente ao shopping. Em um salto para fora do shopping, a criatura veio em minha direção. Assustada segui correndo, sem olhar para trás. Só podia notar os tremores que a criatura causava enquanto saltava atrás de mim. Quando estava para atravessar a Avenida, senti algo forte me puxando pelos pés. Com toda velocidade que estava correndo, caí com todo o corpo no asfalto. Percebi que a criatura estava me puxando com suas patas. Meu rosto foi arrastado pelo asfalto. Eu chorava de dor. Meu rosto estava ficando em carne viva. Com força ela me jogou no meio do asfalta e colocou suas patas em minha barriga. Com toda a pressão que a criatura fazia sob minha barriga, senti uma forte ânsia de vomito. Em uma instante ela vomitara sobe minha cabeça. Era como se ratos queimados e sujos de sangue andassem por cima de minha cabeça. O cheiro insuportável me fez vomitar. Uma das coisas que a criatura vomitara começou a entrar pela minha boca. O desconforto era insuportável. Pouco a pouco sentia aquela coisa descendo por minha garganta. Minha cabeça começou a latejar. Fui ficando fraca, meus batimentos começaram a diminuir. Meus olhos ficaram pesados. A dor continua insuportável, mas me sentia paralisada. A dormência que sentia fez com que eu perdesse a visão. Os batimentos do meu coração estavam cada vez mais fracos. As imagens, antes embaçadas, foram tomadas por um grande vulto negro. A escuridão...

Fim.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas #3

Capítulo Final: Éter & Asas em Alfinetes

20h 30min. O shopping estava realmente vazio. Julian tinha chamado os dois seguranças da portaria, que obviamente, estavam sem fazer nada na entrada principal. Ao chegar perto da Nadh eles ficaram espantados com o estado da minha amiga. Foi quando tudo começou a piorar. Eles tentaram chamar os outros seguranças pelo walk talk, mas foram mil tentativas inúteis. Ninguém respondia.

—Mas e os idiotas que fizeram isso com minha amiga?— perguntei.
—O outro rapaz os levou para a delegacia...Quer dizer, ele só conseguiu prender dois. Acho que estavam em um bando muito grande...—disse o neandertal.
—Sete, eles estavam em sete. — disse Julian.
—E o que a gente faz com a Nadh?— disse Ton olhando para os dois seguranças com cara de idiota. Um neandertal e um debilóide. Ambos sem saber o que fazer. Depois de alguns minutos os dois se reuniram no canto, bem distante da gente, da ala. Enquanto estavam fuxicando, dei uma olhada pelo lugar. Apesar de bem escuro, pude ver que Bene e Jonnhy não se desgrudavam. Ou Bene não se desgrudava de Jonnhy, estava totalmente chocada com a situação. Ton impaciente, como sempre. Eu e Julian não saiamos de perto de Nadh, apesar do cheiro insuportável que já estava se formando por causa do sangue no chão. E Nadh, bem... estava morta. Não conseguia pensar em nada além de "Minha amiga está morta. O que vou dizer para a mãe dela? Minha amiga morreu. Ela está morta". Tanta repetição estava quase estourando minha cabeça até que...

—Vocês vão deixar que a gente cuida disso. — disse o segurança, o debilóide. Talvez não fosse tão debilóide assim.
—Como assim?— disse Ton.
—Nós vamos resolver toda essa mer... Essa situação!
—A gente não vai deixar ela sozinha aqui.— disse eu, já irritada.
—Ela não vai à lugar algum. E além do mais, vocês não podem fazer mais nada. Precisam sair daqui!— disse o neandertal já me segurando pelos braços e me levando para a entrada principal.
—Mas alguém de nós tem que ficar.— disse Jonnhy
— Ok. Quem fica?
— Preciso contar o que aconteceu para a mãe da Nadh. — disse eu
— A gente precisa ir em casa. Acho que o Ton pode ir lá em casa. Eu fico. — disse Jonnhy
— Então Bene fica com você, vai ser difícil levar ela à algum lugar assim. — disse para Jonnhy que concordou.

Que milagre, Ton não discordou em não ficar com Nadh. Talvez não estivesse aguentando mais, não com Nadh naquela situação. Já estávamos em frente à porta de vidro com mais de três metros de altura por três metros. Os seguranças empurraram as portas e nós deixaram passar. Rapidamente trancaram-as com suas chaves e começaram a abaixar a proteção de metal, uma espécie de grade, por dentro. Isso não ia dar certo. Não podíamos deixar Bene e Jonnhy sozinhos. Não com esses dois seguranças idiotas!

—Abram essa porta! Seus filhos da puta!! Abram.— dizia Ton batendo freneticamente na porta de vidro. Ele pensavam em quebrar, mas o vidro era muito grosso. Julian começou à bater na porta também. Esforços em vão.
Estávamos tão concentrados nos problemas que tínhamos dentro do shopping, que esquecemos de podíamos ter problemas do lado de fora também. Percebi pelo reflexo do vidro o caos que estavam as ruas de Richmond.
—Hey! Olhem... — disse enquanto virava para olhar toda situação. Haviam carros parados na frente do shopping, abertos e com as lanternas ligadas. Mais longe, haviam duas pessoas jogadas no chão. Talvez fossem mendigos bêbados ou sei lá o quê. Muito lixo pelo chão. Não era exatamente lixo. Eram bolsas, jornais, revistas, e até mesmo um tênis. Parecia que algo tinha assustado todo mundo. A rua, uma pequena avenida em frente do shopping, estava vazia. Raramente passavam carros. Eu tinha contado dois, durante os minutos que ficamos checando a situação. Parecíamos idiotas olhando vitrines. Era inacreditável. Caos total.

— O que aconteceu? — perguntei, mesmo sabendo que Julian e Ton não poderiam responder.
— Mas que ... droga... — disse Julian
— Acho que sei. Quando descemos, fomos pedir informação para aqueles vendedores. Eles nos disseram que mais cedo o jornal tinha anunciado que algo tinha destruído casas nos arredores da cidade. Mostraram imagens das casas destruídas e todas as familias dessas casas estavam mortas. Não deram mais detalhes. Mas quase toda policia local tinha se dirigido para tentar resolver essa merda toda.
—E o que isso tem haver? — disse olhando bem para a cara de Ton. Pela primeira vez percebi que ele estava... com... medo.
—Eu não sei, mas se o jornal não deu muitos detalhes. É algo grave.
—Um assassino revoltado, pronto. Ajudou muito.
—Você acha que um louco idiota ia conseguir destruir casas? Coloca-las abaixo? — disse Ton. Com toda razão. Eu estava me sentindo idiota. Começando à agir como idiota.
—E se isso estava lá, tem toda chance de ter chegado aqui.— disse Ton.
—Mas e a Bene? E o Jonnhy?— perguntou Julian
—O que a gente pode fazer? Eles estão lá dentro. E vão ficar lá dentro com aqueles dois idiotas. — disse para Julian.

Quase ia me esquecendo. Se esse caos todo chegou na Avenida central, o que teria acontecido à minha casa. Eu morava à dois quarteirões do shopping, que ficava relativamente perto da rodovia que levava para uma rota que sai de Richmond e seguia para fora do estado de Indiana. A minha preocupação com minha mãe me fez esquecer de avisar à mãe de Nadh o que tinha acontecido. Julian morava perto de mim, quase vizinho. Sua mãe e seu pai tinham viajado para a França. Acho que estavam comemorando bodas de alguma coisa. Já Jonnhy e Ton moravam do outro lado da cidade. Mais perto do shopping, um quarteirão dali.

—Preciso ir em casa. — disse para Ton. Eu sabia que Julian iria concordar comigo, então só precisava convencer Ton.
—Eu não posso deixar meu irmão sozinho! — disse Ton
—Ele vai ficar bem, ele está cuidando da Bene. E o shopping está fechado. Não vai acontecer nada.
—Você precisa falar com sua mãe. Ela pode vir busca-los de carro. — disse Julian.
—Ok, mas vou ter que ir sozinho?
—Algum problema? — disse eu.
—Ah... foda-se. Vou só. — disse Ton, novamente irritado. Eu conseguia irritar ele como ninguém. Por um momento fiquei até preocupada, mas ele se diz macho o suficiente para conseguir ir sozinho para casa. Não ia levar mais que 20 minutos. Ele consegue. Idiota.
—Você não acha que...— sussurrou Julian aos meus ouvidos.
—Tenho certeza. — disse eu. Ton já tinha saido. Enquanto caminhávamos, olhei para trás e percebi que Ton passou bem perto dos dois corpos jogados no chão. No lado Norte da rua. Ele acelerou o passo e virou na primeira esquina. Me virei e continuei andando com Julian. Ele começou à dar passos rápidos, então tive que segui-lo. A cidade estava realmente um caos. Haviam lojas abertas, como se tivessem sido esquecidas assim. Carros parados sem motoristas. Era inexplicável. Mais a frente tinha um único ônibus. Aparentemente haviam pessoas dentro. A luz interna piscava sem parar, quase desligando.

—Julian, olha!— apontei para o ônibus. Ele parou de andar e resolveu entrar no ônibus.
—Tem gente lá dentro! — disse ele.
—É. Parece que estão... paradas. — Ele seguiu, e eu fui atrás. Ele forçou a porta para que conseguíssemos entrar. Quando entramos demos de cara com o motorista desmaiado. Os poucos passageiros estavam jogados pelo ônibus. Os que estavam sentados estavam com a cabeça baixa. A luz fraca do ônibus só nos possibilitou enxegar uma coisa: Todos estavam mortos. Havia sangue em suas roupas. Julian, já enojado, resolveu virar uma menininha que estava jogado no chão. Era assustador, seu rosto estava todo sujo de sangue. Sua barriga estava suja de sangue, quase igual à de Nadh, um pouco mais suja. Julian me olhou perplexo. Foi quando ele resolveu levantar a camiseta daquela menina;

—Mas que porra é essa, Julian? — disse eu. Acabará de levar o maior susto da minha vida. Era horrível! A barriga da menina estava toda aberta, parecia ter sido mastigada por algum pitbull faminto.
— O que f-fez ..,isso? — gaguejou Julian. Aparentemente apavorado. Ele checou os outros nove passageiros, todos estavam com a barriga dilacerada. Mas como isso aconteceu? Suas roupas estavam intactas. Decidimos sair rápido dali. Era uma cena horrível. Antes de descermos, Julian empurrou o corpo do motorista. Estava sem os olhos, apenas dois buracos onde deviam estar os olhos. O rosto estava todo sujo de sangue. Sua roupa, intacta, mas sua barriga igual à de todos os passageiros. Saimos dali correndo.

Há um quarteirão de casa. 21h 12min. Tínhamos andando demais, eu poderia ter pegado um atalho, mas como iria lembrar de tal coisa depois de ver tantas pessoas mortas em um único ônibus. O quarteirão estava aparentemente normal. Seguimos pela rua até encontramos a primeira esquina, e uma grande surpresa. Estávamos apressados e quando viramos na esquina percebemos que alguém estava escondido entre um pequeno muro do jardim na segunda casa ao lado da esquina. A esquina não era muito estreita, então me aproximei e percebi que aquele quem estava escondido era um dos idiotas do cinema. Um dos amigos dos três bandidos que fizeram a Nadh cair daquela escada rolante. Não pensei duas vezes:

—Ei! —gritei puxando o menino pela gola da camiseta. Ele estava assustado, mas ia ficar muito mais com o que eu ia fazer com ele
— O que foi? — disse ele, espantado. Julian percebeu quem era e o empurrou contra o muro.
—Você sabe o que fez com minha amiga? Seu idiota! — disse Julian, furioso.
—Eu não fiz nada cara. Eu sei quem fez, mas não fui eu. Meus amigos já foram levados pelo segurança...
—Eu não me importo! — Julian fechou a mão e com toda a força deu um soco na cara do menino. O soco foi tão forte que fez o menino cair no chão.
— Au... que merda... isso dói cara! — choramingou. Ele ficou se contorcendo no chão enquanto nos virávamos. Começamos a andar, Julian se queixava da dor na mão. O menino começou a gemer mais alto, eu não me importaria porém tive que ver o estrago que Julian tinha feito. O soco foi tão forte que o menino estava vomitando sangue. O menino estava jogado na grama e se balançando no chão. Cada vez que vomitava sangue Julian ficava mais nervoso.

—Nossa... Julian! Faça alguma coisa — disse enquanto Julian coçava a cabeça.
—Ah, ok. ok. — Julian ia tentar levanta-lo do chão quando o menino parou de gemer. Virou-se e parou de se mexer.
—Acho que ele morreu — disse enquanto ia checar o pescoço dele.
—Caralh... eu matei o...
—Não, espera... Olha a garganta dele! — A garganta dele parecia estar mais cheia. Fazia um movimento estranho. Parecia estar tentando respirar, apesar do corpo não se mexer. Foi quando percebi que a camiseta dele estava toda suja de sangue.
—Olha! Que nojo. A camiseta dele...
—Eu não fiz isso. Eu apenas... dei um soco na cara dele! — disse Julian. De repente o movimento da garganta dele aumentou, como se algo estivesse subindo pela garganta dele. O sangue voltou a sair da boca dele. Foi quando uma coisa começou a sair pela boca. Uma coisa branca. Era nojento. Parecia um filhote de rato sem pêlo algum, apenas um pouco maior. Ele não tinha patas, rabo ou orelhas. Se contorcia como uma lesma. Foi a coisa mais nojenta que já vi em toda minha...

—É a coisa mais nojenta do mundo!— disse Julian. Aquela coisa nojenta desceu da boca do menino e começou a se arrastar para perto do Julian. Julian recuou e acabou tropeçando no meio-frio. Puxei Julian e saímos correndo.

—Mas o que era aquilo; que nojo!— disse Julian.
—Não sei... não sei... só quero chegar em casa logo!

O desespero pode te levar à fazer coisas absurdas. Correr é uma delas. Já estávamos na rua de casa. Minha casa era a segunda da esquerda para a direita, Julian morava há sete casas da minha. Peguei a chave do portão desesperadamente e segui procurando minha mãe por todos cômodos da casa. Gritava mas pelo visto minha mãe não estava ali. Foi quando ouvi Julian me chamar da cozinha. Minha mãe estava lá, caída no chão. Julian disse que ela estava viva, apenas desmaiada.

—Precisamos sair daqui! Agora!— disse desesperada.
—Mas como?
—O carro... o carro do meu pai.— Julian levantou minha mãe e a apoiou nos seus ombros. Seguimos para a garagem, o carro estava lá. Já era acostumada à pegar o carro do meu pai. O pai de Julian tinha nos ensinado a dirigir. Eu tinha até uma copia do carro do meu pai no meu chaveiro. Julian sentou atrás com minha mãe. Liguei o carro apressada. Pisei no acelerador como uma louca.

—Mas e o portão?— perguntou Julian. O carro seguiu em frente e derrou o pequeno portão de madeira que cercava minha casa.
—Eu nunca gostei desse portão, mesmo. — nesse momento notei pelo retrovisor que minha mãe estava acordando. Parei o carro.
—Mãe? —perguntei esperançosa, mas ela estava acordando ainda. Não pode me responder.
—Acho que ela está muito cansada. — disse Julian.
—Será que não alguma coisa nela... alguma coisa... aquilo que a gente viu
—Não, acho que não. Não tem sangue nela. E a barriga dela parece estar bem. — Julian levantou a camiseta da minha mãe e viu que a barriga dela estava normal. Apesar do grande volume, ela estava bem.
—E agora? — perguntei a Julian. Alguma coisa estava errada, Julian não me respondeu.
—Julian? Julian? Tudo bem? — me virei para ver o que estava acontecendo.
— Julie... quem é aquele cara... quer dizer, o que é aquilo? — pelo para-brisa traseiro vi que um homem estava andando pela rua. Não era exatamente um homem. Tinha uma estrutura humana, mas era muito mais alto que uma pessoa comum. Parecia ter uns 3 metros de altura. Estava nu, mas não era um homem. Não era uma mulher. Era uma espécie de ... coisa. Não tinha pêlo algum, sua pele era enrugada e cheia de manchas. O rosto era deformado, sem nariz. Com uma boca enorme ele parecia falar alguma coisa. Pelo menos parecia, pois o silêncio era total. Suas mãos era enormes, assim como seus pés. Na verdade suas mãos eram como enormes patas. Seus enormes pés não pareciam ajudar, pois o homem - ou aquela coisa- se arrastava lentamente. Não sabia o que fazer, era uma criatura inacreditável. Como se tivesse saído de um filme.

—Julie, julie! Liga esse carro! Vamos! — tentei ligar o carro, Julian parecia desesperado. Me senti realmente em um filme, o carro não ligava. E quando consegui, a criatura percebeu. Como se estivesse procurando alguma coisa. Acelerei. A criatura se agachou e deu um enorme salto. Olhei pelo retrovisor que ele começará a nos perseguir. Ela não corria, ela saltava. Passa por tudo, pelos portões e pelos postes. Era totalmente desengonçada, mas parecia ser pesada pois destruía tudo por onde passava. Ou melhor, pulava. Saí da rua, mas a criatura continuou nos seguindo. No desespero lembrei:

—Julian... e os outros? O que a gente vai fazer? — perguntei desesperada.
—Não sei... aquela coisa está logo ali, atrás da gente. — Julian deve ter pronunciado essa frase toda em menos de um milésimo de segundo.
—Mas... —parei para pensar. Infelizmente tive que olhar novamente pelo retrovisor. Aquela coisa ainda estava lá. Não era um maldito sonho.
—Mas? Mas e aquela coisa? E a sua mãe? E seu.... irmão!?— gritou Julian desesperado. Se eu virasse pela na próxima esquina e seguisse pela esquerda chegaria em menos de quinze minutos na rota 53. A rota que nos tiraria da cidade muito rápido. Sairíamos do estado de Indiana em menos de uma hora e meia. Se eu seguisse reto teria que fazer o retorno para pegar a Avenida Consagrus, o caminho rápido para o norte da cidade. Para onde Ton tinha ido. Poderia busca-lo e depois ir ao shopping...
—Julie, olha... — A criatura deu um enorme salto e acabou destruindo o telhado de uma casa. Por um segundo pensei que tinha ficado por lá, mas logo ela saltará para fora segurando um enorme frizer. Ela se impulsionou e jogou em nossa direção. Virei para esquerda.
—Você está louca? Vamos Julie, rápido!! Aquela merda vai pegar a gente! — Julian estava muito desesperado. Estava suando. Estava amedrontado. Era irritante e ao mesmo tempo agonizante ver o meu melhor amigo daquele jeito. Já não tinha mais volta, as duas coisas mais importantes para mim estavam precisando da minha ajuda. Minha mãe e meu melhor amigo. Eu tinha que tomar uma decisão. Aquela coisa estava louca, era uma criatura medonha. E o quanto mais lembrava, mais minha cabeça girava de ideias. Não conseguia controlar meus pensamentos. Estava desesperada. Eu tinha minha mãe, ela estava grávida. Não... não sei o que pensar. Não conseguia me controlar. Julian não parava de falar... eu não tirava os olhos do retrovisor. Antes a cidade, agora... minha mente estava um caos...

Segui pela rota 53.


Fim.
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Capítulo um: Crisálidas | Capítulo dois: Espécies em Extinção | Capítulo Final: Éter & Asas em Alfinetes

"Não se preocupem. Haverá um capítulo extra no qual algumas coisas serão esclarecidas. Talvez sobre Bene, sobre Jonnhy ou sobre Ton. Talvez sobre os três. Alguns fatos precisam ser explicados. Talvez... se preocupem."

Capítulo extra: Caixa de vidro

LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.