“
Os dias aqui são compridos. Sério, você não sabe o quanto os meus tios são controladores. (Acho que foi ordem do meu pai) pelo menos consigo ficar livre na faculdade. Acho que já fiz alguns amigos.
É o que você sempre dizia, não? Sou grudento e popular
” 12 maio, 2008.
“
Ei, não esqueça que eu te amo. Quero ver você escapar dessa
Estou enviando um cd de uma banda que acho que você vai adorar, se chama Broken Social Scene. Eles são ótimos
Uma colega da faculdade que me indic
Espero mesm
” 22 agosto, 2008
“
Eu iria enviar essa carta semana passada, mas pensei que seria legal se a Julianne e o Ed escr
alguma coisa.
As próximas linhas já não são minhas, coelho branco.
Oi, ... a gente te apelidou de coelho branco
você tem muita sorte c
ama muito.
Ok, ele me obrigou a escrever isso...
-Ed
Oi, fofo.
Olha, se você for lindo como o Estevan diz, já vou querer dividir você com ele. Fico com suas pernas, está bom?
Espero que a gente se encontre um dia
Estevan iria adorar
Tchau,
Julianne.
” 06 junho, 2008.
“
Oi, em todas as cartas que te envio eu nunca digo ‘oi’, né? Estou sempre ansioso para contar todas as coisa que aconteceram durante a semana
Hoje fui ao um mercado, sério! Mas o incrível é que dentro tem um café
fui com dois amigos da faculdade. Já falei muito de
estão sendo incríveis comigo
consigo ser o idiota que você gosta.
Você ainda gosta de mim?
eu t
” 01 setembro, 2008.
Pedro analisava cada pedaço de papel que derrubou da caixa que recebeu de sua tia pela manhã. Não achou que encontraria destroços de cartas, talvez algum objeto de Estevan que os comprometesse, mas não cartas.
O chão estava coberto pedaços de papéis, ele não poderia contar ou se quer juntar as partes para entender as cartas. E também não era necessário. A cada parágrafo ou linha que ausente ele parecia estar presente quando Estevan as estava escrevendo. Os elogios pareciam reconstruir as linhas e as promessas de amor eterno completavam as frases que terminavam com “eu te amo”.
Estevan estava sorrindo, talvez forçando risadas sobre os assuntos intelectuais que mantinha frequentemente com os colegas da faculdade nova. Antigamente Estevan estaria entusiasmado com as comparações que faziam despreocupados com a veracidade das igualdades, porém agora sentia que precisava se esforçar. Os dias eram longos, como ele sempre anotava em suas apostilas universitárias, os cantos pareciam paredes de prisão com tantas anotações e números que marcavam os dias.
Uma hora depois estava na hora marcada, sempre no mesmo local, ouviu o sinal que o tirava da liberdade assistida e o transferia para o regime solitário. Seu tio, irmão de seu pai, parece uma cópia diabólica de seu pai. Às vezes pensava em fingir um descontrole e, com toda a raiva que juntava ao longo dos dias, descontar no rosto de seu tio. Talvez a dor fosse igual ao a semelhança dos dois. Seria um estrago épico à estrutura de um rosto.
Os intervalos entre as aulas eram agradáveis. Seus amigos, Ed e Julianne, esforçavam-se para provar que se Estevan tentasse esquecer a dor talvez ela fosse realmente embora. A conversa sempre era produtiva, e dessa vez ultrapassou os limites que Estevan mantinha com os amigos. Ele realmente conseguiu esquecer os problemas. Esquecera que tinha pai, esquecera a mãe controladora mas sempre ausente, esquecera seu quarto, sua cama, seu amor. Não lembrava mais que cicatrizes um dia já possuíra. Por fim, não lembrava mais de Pedro.
Por um minuto deixou os risos espontâneos de lado e enfiou a mão no bolso para checar o celular. Uma nova mensagem.
“ME ESQUECE, ACABOU. POR FAVOR”
Estevan implorava aos amigos dinheiro. Saiu da faculdade direto para o aeroporto. Já não havia caminho para voltar, só lhe restava dor. Estevan imagina que tudo que estava sentindo era coragem por finalmente decidir seu destino.
Pedro não chorou e disse a si mesmo que não iria chorar. Ele segurava os papéis com firmeza. Como pôde ser tão fraco? Como desistira de tudo? Perguntava-se várias e várias vezes, mas sabia as respostas que procurava estavam com uma única pessoa. E ela não estava mais lá, nunca mais estaria.
Pedro não chorou e disse a si mesmo que não iria chorar. Ele segurava os papéis com firmeza. Como pôde ser tão fraco? Como desistira de tudo? Perguntava-se várias e várias vezes, mas sabia as respostas que procurava estavam com uma única pessoa. E ela não estava mais lá, nunca mais estaria.
Durante toda a manhã Victória pensou em como resolver todos os seus problemas. Ela não sabia o porquê de ser tão má com a irmã ou porque repudiava o apoio da família. Sempre sentia inferior, eles pareciam torna-la inferior. Agora, eles à tornavam estúpida. Eram eles que faziam esses sentimentos ruins fluírem de dentro dela. Odiava-se por odiá-los.
—Não tem lixo? — Um senhor estava em pé ao lado da catraca do ônibus. Ele parecia fraco, suas roupas eram simples e o boné vermelho só destacava o seu rosto caído. O cobrador do ônibus balançou a cabeça em tom de desaprovação. O senhor, no entanto, entendeu aquilo como uma resposta. Como um não. Voltou à sentar-se no acento preferencial. Estava com alguns pedaços de papel na mão e uma pequena embalagem de balinha. Ao tentar colocar o lixo no bolso, sua mão forçou o bolso e, sem querer, derrubou tudo que segurava no chão.
O balanço do ônibus não o impediu de levantar-se do banco para recolher o lixo ao chão. Victória não sabia por que prestava tanta atenção nos movimentos daquele velho homem. Ela percebeu que algumas pessoas o observavam com o mesmo olhar com que o cobrador o evitava. O senhor recolheu um velho jornal em baixo do acento e, lentamente, voltou a sentar. Após a leitura, ele enrolou as folhas do jornal em como uma bolinha. E nada mais fez, apenas esperava o ponto de ônibus certo para descer. Esse havia sido o momento mais estranho que Victória passou em toda a vida. Não pelo que presenciou, mas sim pelo que sentiu. Ela enxergou-se na cena, e não sabia como. Ela continuou sentada observando-o. Um dia, ela pensou, já ter encontrado aquele senhor. Ou como costumava achar que conhecia todos, logo descreveu a situação como casual.
—Ora, quantas pessoas derrubam as coisas no chão!? — falou em voz alta. O rapaz ao seu lado a encarou com julgamento. Victória percebeu o que acabara de fazer. Pela primeira vez falou sozinha sobre o que sentia. Sobre a dúvida. Rapidamente levantou-se e desceu do ônibus. Ainda corriam perguntas em sua cabeça. Victória gostaria de dizer a alguém que sofreu de epifania, mas não tinha certeza do que sentiu ao presenciar uma situação tão comum. Ela duvidava, porém apenas não queria admitir que agia como uma idiota e não poderia culpar ninguém por suas atitudes, e não poderia nomear de outra forma tudo que havia feito além de idiotice. Não ocorrera nenhuma epifania, apenas conclusão de fatos. Victória era uma idiota, em suas próprias palavras.
—Urrrr — murmurou.
—Ora, quantas pessoas derrubam as coisas no chão!? — falou em voz alta. O rapaz ao seu lado a encarou com julgamento. Victória percebeu o que acabara de fazer. Pela primeira vez falou sozinha sobre o que sentia. Sobre a dúvida. Rapidamente levantou-se e desceu do ônibus. Ainda corriam perguntas em sua cabeça. Victória gostaria de dizer a alguém que sofreu de epifania, mas não tinha certeza do que sentiu ao presenciar uma situação tão comum. Ela duvidava, porém apenas não queria admitir que agia como uma idiota e não poderia culpar ninguém por suas atitudes, e não poderia nomear de outra forma tudo que havia feito além de idiotice. Não ocorrera nenhuma epifania, apenas conclusão de fatos. Victória era uma idiota, em suas próprias palavras.
—Urrrr — murmurou.
Augusto atendeu o interfone.
— É o Augusto? Tem um menino querendo falar com você aqui na portaria. Disse que é urgente.
—Pode deixar ele subir.
—Acho melhor você descer aqui. — O porteiro abaixou o tom da voz e concluiu — ele está um pouco... transtornado. Acho melhor...
—Tudo bem, já vou. — Interrompeu. Saiu do apartamento apressado. Correu todo o corredor para não perder o elevador. Ao chegar ao térreo, avistou Pedro. O porteiro imediatamente destravou o portão, o barulho da trava destrancando anunciou a Pedro a chegada de Augusto. Saiu rapidamente e fitou Pedro que estava inquieto. Pedro segurou os braços de Augusto.
— É o Augusto? Tem um menino querendo falar com você aqui na portaria. Disse que é urgente.
—Pode deixar ele subir.
—Acho melhor você descer aqui. — O porteiro abaixou o tom da voz e concluiu — ele está um pouco... transtornado. Acho melhor...
—Tudo bem, já vou. — Interrompeu. Saiu do apartamento apressado. Correu todo o corredor para não perder o elevador. Ao chegar ao térreo, avistou Pedro. O porteiro imediatamente destravou o portão, o barulho da trava destrancando anunciou a Pedro a chegada de Augusto. Saiu rapidamente e fitou Pedro que estava inquieto. Pedro segurou os braços de Augusto.
— Eu não queria... é sério — Pedro começou a falar sem parar, de repente se desesperou e embaralhou as falas que tinha planejado.
— Não quero que algo aconteça de mal com você. Eu gosto de você. Minha culpa... Não queria, mas não pude segurar... me sentia sozinho... me desculpe...
— Calma! Calma... — Augusto puxou Pedro e o envolveu em seus braços. Ele apertava-o como demonstração de afeto. Queria dizer que ali ele estava seguro. Ainda não entendia o porque ele o procurou e o motivo das coisas que antes não conseguia falar.
—Você... — Pedro chorava e seu desespero prendeu a atenção de augusto. Nenhum dos dois percebeu que um carro estacionou no outro lado da rua. Uma pessoa desceu do carro tão rápido quanto estacionou, não fechou a porta do motorista. Augusto levantou o olhar e enxergou uma sombra que corria em sua direção. Por um segundo voltou a observar Pedro e, na fração de segundo, foi atingido por um cano de ferro. Seus olhos agora dobravam imagens paralelas. Não sabia mais o que estava acontecendo, antes que seus olhos pesados fechassem-se ele observava vultos apressados. Vultos que pareciam pular em cima de sua cabeça e sobre todo o seu corpo, e antes que o zumbido em seus ouvidos fosse consumido pelo silêncio, só conseguia notar gritos abafados. Não poderia mais dizer a Pedro que ele estava seguro.
— Não quero que algo aconteça de mal com você. Eu gosto de você. Minha culpa... Não queria, mas não pude segurar... me sentia sozinho... me desculpe...
— Calma! Calma... — Augusto puxou Pedro e o envolveu em seus braços. Ele apertava-o como demonstração de afeto. Queria dizer que ali ele estava seguro. Ainda não entendia o porque ele o procurou e o motivo das coisas que antes não conseguia falar.
—Você... — Pedro chorava e seu desespero prendeu a atenção de augusto. Nenhum dos dois percebeu que um carro estacionou no outro lado da rua. Uma pessoa desceu do carro tão rápido quanto estacionou, não fechou a porta do motorista. Augusto levantou o olhar e enxergou uma sombra que corria em sua direção. Por um segundo voltou a observar Pedro e, na fração de segundo, foi atingido por um cano de ferro. Seus olhos agora dobravam imagens paralelas. Não sabia mais o que estava acontecendo, antes que seus olhos pesados fechassem-se ele observava vultos apressados. Vultos que pareciam pular em cima de sua cabeça e sobre todo o seu corpo, e antes que o zumbido em seus ouvidos fosse consumido pelo silêncio, só conseguia notar gritos abafados. Não poderia mais dizer a Pedro que ele estava seguro.
Próximo e Último Capítulo: Amanda
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