quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Borboletas Noturnas (Extra)

Capítulo extra: Caixa de Vidro


"Como seria a vida dos mortos? Um saco! De todas as coisas que podem acontecer deseje não morrer. É fácil entender porque tanta gente velha não quer morrer. O vazio se torna constante. Sua mente fica presa nos fatos anteriores, na sua vida. Todas as merdas que você já fez ficam rodeado sua mente vinte e quatro horas por dia. Pelo menos você não sente mais dor... porém, como consideração, os segundos que precedem os últimos batimentos do seu coração são os mais agonizantes possíveis. Mais dolorosos que o inferno."


Eu estava caminhando nessa merda de cidade vazia à mais de trinta minutos. Estava tudo um lixo. Alguém deu uma grande festa e esqueceu de me convidar. - Não por muito tempo. - Na esquina perto de casa havia um único carro ocupado. No banco do carona uma mulher estava sentada, acho que dormindo. Já no outro lado, apoiado na porta do lado do motorista, um cara parecia estar de porre. Ele vomitava uma coisa nojenta. Tossia e voltava a vomitar. Duas garrafas de vodka e apenas uma pequena porção de tequila dão o mesmo efeito. Eu sabia muito bem disso.

—Vai com calma, cara! — falei, tirando um bom sarro da cara do idiota. Não demorou muito e ele caiu no chão. Perdedor.

Quando cheguei em casa estranhei minha mãe não estar sentada no sofá esperando eu ou o Jonnhy. Na verdade ela estaria dormindo, como de costume, mas de acordo com meu celular eram apenas 21h. Ela estaria sonolenta, como um zombie, mas não dormindo. Revirei toda a casa, mas ela não estava lá. Pela janela notei que a casa da Senhora Dolayam estava bastante iluminada. Talvez minha mãe estivesse lá. Senhora Dolayam era a melhor amiga da minha, isso depois que meu pai nos deixou quando eu e Jonnhy nascemos. Bate na porta três vezes, ninguém respondeu então entrei. Já era de casa, não tinha vergonha de entrar assim. Na sala haviam três velas na mesa de centro que iluminavam muito bem o lugar. A cozinha também estava cheia de velas e pratos com pedaços de bolo e copos sujos. No corredor as estantes estavam com algumas velas acesas também. Depois do corredor uma pequena sala e uma porta que levava ao quarto da Senhora e do Senhor Dolayam. Em cima só haviam um quarto que eles estavam reformando para o bebê que a Senhora Dolayam estava esperando. Ela estava gorda, enorme! Acho que com uns sete ou oito meses.
Quando estava para sair, ouvi da escada um barulho que vinha do quarto do bebê. Subi aquela escada apertada com cuidado, no fim só havia porta do quarto. Abri cuidadosamente e pude ver a Senhora Dolayam revirando um pequeno armário. Ela estava tirando todas as gavetas e mexendo nas caixas cheias de objetos no chão.

—Senhora Dolayam! A senhora viu...— falei enquanto abrindo toda a porta. Foi quando notei minha mãe e o Senhor Dolayam jogados no chão. Eles estavam em cima de um plástico que estava sendo usado para proteger o carpete da sujeira da tinta da parede. Minha mãe estava toda suja de sangue. Já o Senhor Dolayam estava em uma situação pior, estava sem os olhos!

—Mais... que... porra! O que aconteceu? — gritei. Ela estava suando, seus olhos estavam enormes. Devia estar assustada com alguma coisa. Por algum motivo ela não me deu muita atenção, continuou revirando o quarto. Ela só parou quando achou uma caixa de ferramentas, de onde tirou um chave de fenda.
—O que você vai fazer com....
—Você não sabe o que eu vi. Você não tem noção, não né? — disse ela. Era notável o quanto estava nervosa.
—Calma... a Senhora pode explicar... não vai...
—Não, não posso! Sua mãe está morta! Meu marido! E eu estou morrendo... você não vai entender.
—Mas não foi a Senhora que fez isso... não é? Quem foi?
—Foi isso...—ela segurou com as duas mãos a chave de fenda e enfiou com toda força na barriga. O grito que deu em seguida foi o mais horrendo de todos. Sangue começou a sair por debaixo de seu vestido. Levantei e tentei impedi-la de continuar se mutilando. Ela começou a chorar tentando tomar a chave da minha mão.

—Você não entende. Você precisa... por favor — ela caiu no chão, mas o sangue não parou. O cheiro de tornou insuportável. Havia sangue por todo quarto. Soltei a chave no chão e percebi que a mancha de sangue no vestido da Senhora Dolayam só aumentava. Mas algo estava errado, o volume do seu vestido começou à aumentar. Como se algo estivesse saindo de sua barriga. O vestido se rasgou e algo começou à sair da barriga da Senhora Dolayam. Era uma criatura horrível. Como se fosse um bebê. Seu rosto era deformado e totalmente liso. Tinha uma pela manchada e a medida que ia saindo, seu corpo gordo parecia tremer. Era horrível, no lugar das mãos e das pernas haviam espécies de patas. Sua coluna era marcada. Quando terminara de sair do corpo da Senhora Dolayam, fez um movimento estranho. Já estava enojado quando saí correndo daquele quarto. Quase caí da escada, o que fez com que o barulho chamasse atenção da criatura. Ela seguiu se arrastando atrás de mim. Esbarrei na estante do corredor derrubando das as velas. O carpete todo entrou em chamas, a criatura que estava se arrastando rapidamente começou a se queimar. As chamas envolveram o seu corpo. Mesmo assim ela insistia em se arrastar, até que se deitou no chão e agonizou soltando um grito extremamente alto e agudo. Corri pela rua assustado enquanto aquele grito continuou soando pelos meus ouvidos. Quando virei a esquina notei que o carro do cara bêbado ainda estava lá. Como o carro ainda estava com os faróis ligados resolvi pedir ajuda, mas quando cheguei do lado do carona percebi que a mulher que estava ali também estava morta, assim como o cara jogado no chão. Notei que a chave do carro ainda estava lá. Empurrei a mulher do carona e liguei o carro. O rádio explodiu um barulho de chiado muito alto. Não tive tempo de mudar, apenas acelerei em direção ao shopping. O display do rádio marcava 21h 37 min.


—Jonnhy, quando tudo isso vai acabar? — perguntei
—Eu não sei, Bene. Espero que acabe logo. — As coisas estavam acontecendo de forma estranha, eu estava com um aperto no peito. Era como se alto estivesse me dizendo que tudo poderia piorar. Nós estávamos ali há um bom tempo e aqueles seguranças não faziam nada além de rodear a Nadhianne. um deles cutucou a perna dela com o pé. Isso foi o suficiente para irritar profundamente o Jonnhy.

—Ei! Cara mais respeito com a garota! Ela morreu e vocês não fazem porra nenhum! Porque um de vocês não vai lá em cima ou tenta chamar alguém para levar ela daqui? Vocês acham que vamos ficar esperando os anjos levarem o corpo de manhã? Nós não temos esse tempo todo! E a familia dela, seus idiotas?
—Olha aqui rapaz...
—Olha aqui nada! Essa porra de shopping não gerador? Se tivesse talvez isso não tivesse acontecido! — depois de todo o sermão de Jonnhy, um dos seguranças resolveu subir até o hall do cinema para encontrar os dois únicos seguranças que vigiavam os andares superiores. Alguns minutos depois o segurança que ficou com a gente lá embaixo tentou chamar o outro pelo walk-talk, mas ele não respondia. Um chiado estranho era o único barulho que escutávamos.

—E agora? O que seu amigo idiota foi fazer lá em cima? Dormir? Porque essa merda não funciona?— disse Jonnhy
—Okay. Já estou cansado de você ficar tagarelando, mocinho. Acho melhor você calar a boca — o segurança sacou uma arma e apontou para a cabeça de jonnhy. Eu não podia fazer nada, estava apavorada com tudo. Me sentia fraca.
—O que você vai fazer? Vai atirar em mim... e depois? — enquanto Jonnhy falava, ele fazia uns gestos para que eu saísse de trás dele. Como se estivesse planejando algo. Quando me esquivei para a esquerda Jonnhy chutou a virilha do segurança que caiu no chão de tanta dor que sentia. Jonnhy pegou a arma.

—Seu filho da puta! — gritou o segurança. Jonnhy atirou na coxa do segurança;
—Não fale da minha mãe! — Jonnhy me encarou, como se estivesse com vergonha pelo que tinha feito. Apontou a arma para a cara do segurança que não para de agonizar no chão e começou a procurar algo no bolso dele. Dali Jonnhy tirou um bolo de chaves. Depois me puxou e disse:
—Vamos, a gente tenta conseguir ajuda lá fora.
—Okay, mas e ele? — apontei para o segurança.
—Daí sabemos que ele não vai sair correndo. Né? — Jonnhy deu um sorriso amarelo tentando me acalmar. Ele não conseguiu. Corremos para a entrada principal que estava fechado com uma grade de ferro. Enquanto Jonnhy estava procurando a chave certa para liberar a porta das grades, ouvi um barulho estranho abafado vindo de fora. Como se fosse uma batida de carro ou ferragens sendo cortadas.

—Você está escutando isso? — perguntei, nervosa.
—O quê? — o barulho da tranca da grade cortou o assunto. Jonnhy me pediu ajuda para empurrar a grade para cima. Em uma só vez empurramos a grade que subiu rapidamente, logo em seguida Jonnhy fitou a tranca da porta de vidro e começou a procurar a chave para abrir; Ele não tinha notado que lá fora, perto da pista que dava acesso à frente do shopping, havia um carro capotado, totalmente destruído. Mais ao lado alguma coisa estava segurando um corpo, que era bastante familiar, era uma criatura enorme. Como se fosse um homem deformado. De repente ela fitou meus olhos como se soubesse que eu estava observando-a.

—Jonnhy... olha...— A criatura soltou o corpo, que parecia estar todo dilacerado, e começou a correr em nossa direção. Quando Jonnhy resolveu levantar a cabeça para olhar ela já estava bem perto. Ela saltou em direção a porta de vidro, em uma fração de segundos Jonnhy só conseguiu me empurrar. O Vidro da porta se explodiu em pedaços e a criatura caiu em cima de Jonnhy. Eu caí um pouco mais à frente, quase batendo a cabeça na parede lateral. Entre os pedaços de vidros e a grade de ferro que estava jogada na entrada, a criatura se levantou. A sua imagem era muito mais assustado de perto. Ofegante, ela abaixou e segurou Jonnhy pelo pescoço. Percebi que ele ainda estava vivo, não por muito tempo. Aquela coisa apertou o pescoço de Jonnhy com tanta força que seus olhos ficaram cheios de sangue. Me levantei assustada e saí. A criatura jogou Jonnhy no chão e parecia me procurar. Corri em direção a pequena Avenida em frente ao shopping. Em um salto para fora do shopping, a criatura veio em minha direção. Assustada segui correndo, sem olhar para trás. Só podia notar os tremores que a criatura causava enquanto saltava atrás de mim. Quando estava para atravessar a Avenida, senti algo forte me puxando pelos pés. Com toda velocidade que estava correndo, caí com todo o corpo no asfalto. Percebi que a criatura estava me puxando com suas patas. Meu rosto foi arrastado pelo asfalto. Eu chorava de dor. Meu rosto estava ficando em carne viva. Com força ela me jogou no meio do asfalta e colocou suas patas em minha barriga. Com toda a pressão que a criatura fazia sob minha barriga, senti uma forte ânsia de vomito. Em uma instante ela vomitara sobe minha cabeça. Era como se ratos queimados e sujos de sangue andassem por cima de minha cabeça. O cheiro insuportável me fez vomitar. Uma das coisas que a criatura vomitara começou a entrar pela minha boca. O desconforto era insuportável. Pouco a pouco sentia aquela coisa descendo por minha garganta. Minha cabeça começou a latejar. Fui ficando fraca, meus batimentos começaram a diminuir. Meus olhos ficaram pesados. A dor continua insuportável, mas me sentia paralisada. A dormência que sentia fez com que eu perdesse a visão. Os batimentos do meu coração estavam cada vez mais fracos. As imagens, antes embaçadas, foram tomadas por um grande vulto negro. A escuridão...

Fim.

4 comentários:

Juliana cruz disse...

Parabéns seu conto foi realmente facinante,adorei o desfecho da historia e gostei das criaturas!
efim voce escreve super bem!dps da uma olhada no meus contos e me diz o que vc acha!vlw =)

umuniversodehistorias.blogspot.com

N.N.S. disse...

Gostei... Foi fascinante...

Danilo Rainha disse...

Meu Deus, eu choquei! ;O tá ótimo *_*

Larissa disse...

qissu morri +_+

comecei a ler hoje e não parei mais, omg
você escreve muito bem, parabéns. adorei, conto viciante

LEIA O LIXO, RECICLE AS IDEIAS.