Fabrício checou o papel em sua mão e o endereço grifado em metal prateado na enorme parede amarela. Ambos eram iguais. Apertou a campainha.
—Quem é? — Uma voz soou do interfone.
—Ah... Fabrício. A Amanda es..
—Já vai! — Interrompeu. O portão abriu e Amanda apareceu correndo. Abraçou-o.
—Você chegou! Que bom que veio...
—É... — Fabrício pela primeira vez ficou envergonhado ao receber tanto carinho.
— Vou apresentar você... Rápido! — Amanda correu puxando Fabrício com toda força. A casa era enorme. A decoração era iluminada por cores que dançavam entre os movéis brancos e as enormes paredes brancas. Ao chegar à imensa cozinha Amanda logo disse:
—Mãe. Esse é o Fabrício. Fabrício essa é a minha mãe.
—Prazer! Finalmente você veio a minha casa, né rapaz? — Ela estendeu a mão a Fabrício e o serviu um enorme sorriso de felicidade.
— Obrigado pelo convite...
— Aquele ali é o namorado da minha mãe. O Gustavo.
— Olá. — Gustavo acenou. Não pode levantar, pois seria uma grande volta, já que o balcão da cozinha se estendia por três metros.
— O Gustavo não sabe, mas eu o vi escondendo o anel de noivado no bolso. — Amanda sorriu.
— Ei! Era segredo!
— Como assim? — A Mãe de Amanda sorriu e logo foi em direção ao namorado. Ela começou a procurar em todos os bolsos. Ambos começaram a rir.
— Vamos. Deixe-os resolverem isso sozinhos. — Seguiram por um corredor. Fabrício imaginou que lá ficavam os quartos. A parede era desenhada com lápis de cera e as formas tomavam os arredores das portas formando grandes mosaicos coloridos. Eles passaram por uma porta em que uma placa escrita com lápis de cor anuncia o quarto de Amanda. Logo estavam a frente de uma porta branca com adesivos de guarda-chuvas. Amanda abriu a porta. Haviam estantes em uma parede cheias de galochas coloridas, floridas e outros galochas com desenhos diversos. O quarto era extremamente aconchegante. Em um enorme puff azul, uma pequena garotinha estava usando um notebook branco que era decorado com gotas de chuva.
—Júlia. Esse é o Fabrício. Lembra que eu falei que iria apresentá-lo hoje?
— Sim! — Exclamou. Ela logo se levantou e sorriu. Fabrício por um momento percebeu que as pernas da menina eram mecânicas. Se ela não tivesse levantando, Fabrício não perceberia os feixes ao lado da perna. Ela pulou e o abraçou. Fabrício retribuiu o carinho. A menina de apenas 7 anos pareceu gostar de Fabrício.
— Ele é bem bonito como você disse. Mas é um pouco alto, não? — Fabrício riu.
— É, mas isso a gente resolve depois. Mandamos ele andar bastante para desgastar os pés, assim ele diminuiu. Agora... desligue isso daí e vai encontrar a mamãe na cozinha para o jantar!
— Já vou. — Amanda e Fabrício saíram. Ela o levou até seu quarto. O quarto de Amanda era mais simples, porém uma enorme parede estava completamente fechada com quadros coloridos que Fabrício imaginou terem sido pintados por ela.
— Tenho uma coisa para lhe contar.
— O quê?
— Sobre mim. Sobre o que eu era... — A conversa se estendeu por minutos. Amanda contou a Fabrício o motivo de sua irmã ter as penas mecânicas. Amanda passava por uma época em que achava que poderia ter tudo. Era indisciplinada e não se importava com a família. Uma vez pegou o carro do pai e decidiu passear com ele. Ela se sentia superior à todos e não obedecia às ordens de sua mãe. Ao fim de tarde, voltou com o carro. Antes que o portão da garagem fosse todo aberto, Amanda acelerou. Porém não percebeu que a pequena irmã, na época com 5 anos, estava andando de patins na área em frente a garagem. Amanda á atropelou. O desesperou e a revolta tomaram parte da família. O pai se separara da mãe de Amanda e nunca mais as visitou. Júlia teve suas pernas amputadas. Fabrício entendeu o porque da mudança de Amanda. A conversa continuou.
Fabrício e Amanda se juntaram aos outros na mesa de jantar. O celular de Fabrício tocou. A ligação era de “Vicky”. Ele pediu licença de atendeu o celular.
— Fabrício! Sua mãe disse que você estava na casa da Amanda. Estou tentando falar com você faz muito tempo. — Victória falava em tom desesperado.
— O que houve?
— O Augusto está no hospital. Parece que o pai da Cláudia espancou ele com um ferro, não sei muito bem o que aconteceu. Você precisa ir logo para o hospital. Eu estou indo agora.
— Tudo bem, tudo bem! Calma, eu vou! — Fabrício avisou a Amanda o que aconteceu.
—Desculpem, mas tenho que ir. — Ele se virou e correu para a porta. Não esperou que os outros lamentassem a sua ida, pois estava preocupado com o amigo. Pensou que poderia ter sido uma atitude mal educada, mas isso não era importante agora...
Duas semanas depois...
—E agora os formandos de irão subir ao palco para a grande foto final. — O teatro do colégio estava todo decorado para grande formatura. As luzes formaram laços nas paredes. Enormes fitas decoravam os corredores, um tapete vermelho cobria a frente do palco. O teto estava coberto por enfeites prateados. Uma fila de estudantes vestidos com becas se formou ao longo da escada do palco. Todos subiram. O palco logo estava tomado por vários estudantes. Então, o diretor anunciou.
— Agora, senhoras e senhores... o grande momento. O fechamento de um ano incrível, repleto de conquistas e descobertas. Que os nossos alunos possam seguir vencendo, como venceram esse ano. — Iniciaram uma contagem regressiva. Um grupo de cinco jovens se dirigiu à frente dos estudantes.
— Três!... dois... um! — Cláudia estava com a aparência recuperada, sem qualquer marca da agressão do pai. Ao seu lado estavam Fabrício e Victória, ambos fitavam a família sentada na platéia. O sorriso encobria suas faces. Augusto estava com algumas marcas no rosto, mas já se sentia melhor, ainda mais com Pedro ao seu lado. Os cinco abriram a beca no momento exato da foto. Cláudia estava com um conjunto de calcinha e sutiã cor de rosa estampados com pequenas cerejas. Fabrício vestia uma samba canção azul. Victória um baby doll azul marinho com detalhes de desenhos animados. Augusto usava uma boxer listrada, o seu corpo ainda apresentava pequenas manchas, mas nada que o deixasse envergonhado. Pedro usava uma samba canção rosa com caveiras vermelhas.
FIM
Na última fileira do teatro, um pequeno grupo estava sentado com as pernas apoiadas em cima das poltronas a frente. Três meninas e três meninos comiam um enorme pacote de pipoca doce.
— Mais uma manada de idiotas. — Disse o menino sentado na poltrona do meio entre as duas amigas. Todos os seis se entre olharam e gargalharam. Continuaram ali, comendo pipoca e rindo da cara dos formandos em roupa de baixo. Eles sabiam que iram fazer melhor. O próximo ano seria o seu ano. E mal podiam esperar...
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